quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Dadaísmo



“Liberdade: DADÁ DADÁ DADÁ, uivos das dores crispadas, entrelaçamento dos contrários e de todas as contradições, dos grotescos, das inconsequências: A VIDA.”



I – DADOS CRONOLÓGICOS:

A vanguarda mais radical do modernismo foi fundada por seu líder Tristan Tzara na Suíça, em 1916, através de seu primeiro manifesto (ao todo foram sete manifestos Dadaístas) em plena guerra.
O movimento é característico dos anos de guerra e do período que se seguiu imediatamente à conflagração foram aqueles para quem a efusão de sangue e as misérias da época pareciam confirmar a falência da civilização ocidental e que se encarregaram de divulgar essa falência, zombando da cultura de que o Ocidente se orgulhava.
Como o movimento futurista, o movimento DADÁ irrompeu simultaneamente na Europa e nos Estados Unidos.


II – CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL:

O DADAÍSMO tal como Rousseau negaram a sanidade da razão, mas, enquanto Rousseau assinalara os sonhos de beleza do homem e a sua sensibilidade entre a natureza como fontes de regeneração, eles opunham agora a irracionalidade ao racional e a antiarte à arte.
O mundo parecia estar louco: o mundo dos sensatos e o dos aloucados. Para muitos, artistas super sensíveis, a guerra se tornou insuportável: a primeira chamada “mundial”.
Para eles, afundava o que parecia ser a poderosíssima fortaleza da civilização. Além do mais, tudo desabaria, por causa de sua inconsequência e do assassino retumbar dos canhões, a inumana luta nas trincheiras, os selvagens ataques com baioneta e os primeiros bombardeios aéreos.
O mundo, os homens, suas estruturas, seus ideais e a imensidade de coisas que eram feitas, não tinham sentido.
Na Suíça, um oásis de neutralidade num mar de violência, foragidos da grande mortal queima da guerra, reuniu-se um grupo internacional que propagou a ideia de acabar com tudo e de não construir nada.
Esse grupo frequentava o Cabaret Voltaire, café localizado em Zurique, lugar de diversão, “music-hall”, sala de teatro e exposições e defendiam “um desejo de independência, de desconfiança para a comunidade. Os que estão conosco guardam sua liberdade. Não reconhecemos nenhuma teoria. Basta de academias cubistas e futuristas: laboratórios de ideias formais”.



Da esquerda para a direita: Jean Crotti, ?, André Breton, Jacques Rigault, Paul Eluard, Ribemont-Dessaignes, Benjamin Péret, Théodore Fraenkel, Louis Aragon, Tristan Tzara, Philippe Soupault.


Existe um longo período de paz entre a guerra franco-prussiana (1870) até a I Guerra Mundial (1914). A hostilidade concentrada dos nacionalismos é mantida sob controle não pela força da ética política, não a golpes de autênticos princípios, mas sim mediante frágeis convenções e sórdidos pragmatismos diplomáticos.
A brilhantíssima sociedade européia progride com dificuldade, científica e industrial, mas é dramática a luta de classes, a distância abismal entre os ricos e a massa proletária e a corrupção.
Esse é o mundo contra o qual o Expressionismo alemão reage desde 1905 e no qual se potencializa o belicismo nacionalista. O mesmo mundo onde logo se exaspera a minoria dadaísta.
Nascia assim, o DADAÍSMO em 1916, um grupo cosmopolita acolhido à neutralidade e à paz suíça. Através da definição de Gide: “Dadá é o dilúvio após o que tudo começou”; ou “sim, sim”, em romeno; ou “cavalinho” em francês; refrão de uma música infantil ou, nada!

O nome era mais intencionalmente destituído de significado que puderam descobrir, mas, que é também o princípio de toda a fala. Paradoxalmente, provaram apenas que a antiarte não pode existir.

“Encontrei o nome por casualidade, inserindo uma espátula num tomo fechado do Petit Larousse e lendo imediatamente, ao abri-lo, a primeira linha que me chamou a atenção: Dada”


“Meu propósito foi criar apenas uma palavra expressiva que através de sua magia fechasse todas as portas à compreensão e não fosse apenas mais um – ISMO”, afirma Tzara.





Toda obra de arte tem um valor atribuído e não estimado, a partir do momento que a arte passa a ser feita de maneira espontânea, autodidática, torna-se uma mercadoria e o mercado para valorização das artes são as galerias e os museus.
O Dadaísmo foi uma bofetada na arte, nos marchands e no mundo artístico, pois, o processo civilizador é repressor e o DADÁ é compra a repressão, contra a civilização.
As atividades escandalosas se misturavam logo com exposições completamente normais dentro do que de “normal” podiam ser as tendências de vanguarda.
E sem se importar com a “pureza” estética, a ortodoxia dadaísta, é celebrada em 1917, uma exposição mais que variada na qual figuraram: Picasso, Kandisnsky, Klee, Modigliani, Marc, Feininger, Ernst, De Chirico e Arp, quase todos os da dissidência inovadora contemporânea.
Seguindo o método defendido pelos Futuristas, em 1918, publica o MANIFESTO DADAÍSTA.



III – CARACTERÍSTICAS:



Ao contrário do que os futuristas acreditavam a guerra não era “higiene” de nada. Nada valia a pena. Sobressaía apenas o absurdo. Em frente ao alienante absurdo geral.

“Estamos cansados de academias cubistas e futuristas: laboratórios de odeias formais. Fazem arte para ganhar dinheiro e agradar os simpáticos burgueses?”


O movimento negava todas as tradições sociais e artísticas e tinha como base um anarquismo niilista e o slogan de Bakunin: “a destruição também é criação”, chocando o público e libertando a imaginação via destruição; afinal, não havia ideal que valesse todas essas misérias.

“O artista novo protesta”, está escrito neste manifesto de 1918. “Já não pinta, mas cria diretamente organismos locomotores que podem ser girados para todos os lados pelo límpido vento da sensação momentânea”.


“Toda obra pictórica ou escultórica é inútil”. Deve ser “um monstro que atemorize os espíritos servis e não um enfeite das salas de jantar de animais disfarçados de humanos, ilustrações desta penosa fábula da humanidade”.


“A ordem é igual à desordem; o eu, ao não eu; a afirmação equivale à negação”.


A moral imposta, a ética racionalizada, a cultura em uso, a ordem estabelecida, as normas imperantes e a arte, deviam ser demolidas com a força implacável da anarquia. Com uma anarquia que, no fim, não teve mais remédio que ser criadora.
Negando o passado, o presente e o futuro, o Dadaísmo é a total falta de perspectiva diante da guerra; daí ir contra as teorias, as ordenações lógicas, pouco se importando com o leitor.
Partindo do pressuposto que “arte não é coisa séria”, os dadaístas não romperam somente com as formas da arte, mas também com o conceito da própria arte.
O movimento não é anarquista, pois não tem ideologia, não possuem um conceito, não existe pretensão de ter um pensamento positivista e sim, negar!
Possuíam uma atitude satírica através dos manifestos e as formas artísticas eram efêmeras, mas o fazer do acontecimento, era internacional.

“A palavra DADÁ simboliza a relação mais primitiva com a realidade do entorno. Com o Dadaísmo, uma nova realidade toma posse de seus direitos”.


O Dadaísmo quer se afastar de todas as tendências da arte de vanguarda, “e principalmente do Futurismo que os imbecis interpretaram ultimamente como uma nova edição do Impressionismo”.


“Pela primeira vez o Dadaísmo já não se situa esteticamente perante a vida. O Dadaísmo rompe todas as palavras altissonantes: ética, cultura e interiorização, que não são mais que uma tampa para músculos débeis.”


“Dada é a expressão internacional do nosso tempo, a grande ligação dos movimentos artísticos, a consequência artística de todas essas diversas ofensivas, esses congressos da paz, essas brigas de mercados de peixes, jantares mundanos...”


“Ser dadaísta às vezes pode significar deixar ser atropelado pelos acontecimentos, estar contra toda sedimentação, estar um breve instante sentado num cadeirão, mas também quer dizer pôr em perigo a própria vida...”


“Dizem sim a uma vida que quer ser elevada pela negação. Dizer sim, dizer não; a formidável confusão da existência fortalece os nervos do verdadeiro dadaístas”.



"Contra a tendência estético-ética! Contra as teorias melhoradoras dos literários cabeças vazias!”



“Estar contra este manifesto quer dizer ser dadaísta!”



O Dadaísmo decidido a investir contra o Cubismo escreve outro manifesto em 1920, subscrito por Francis Picabia e publicado em Paris:

as esculturas negras, “O Cubismo representa a penúria de ideias. Cubicaram os quadros dos primitivos, cubicaramcubicaram os violinos, cubicaram os violões, cubicaram os jornais ilustrados, cubicaram a merda e os perfis das garotas, agora têm que cubicar o dinheiro!!! Dadá, por sua vez, não quer nada, nada, nada; faz algo para que o público diga: Não entendemos nada, nada, nada. Os dadaístas não são nada, nada e certamente não chegarão a nada, nada, nada.”


Propunha uma arte interdisciplinar (artistas plásticos e poetas trabalhando juntos) como forma de renovar a linguagem criativa. A arte DADÁ não demanda uma operação mental, o pensar não é DADÁ e, sim, performáticos (gravatas penduradas no toldo).
Seus absurdos literários tiveram um efeito libertador para a literatura, rompendo com as limitações da sintaxe e do discurso normal; na arte, a exploração dos efeitos acidentais e das relações alógicas revelou possibilidades só vagamente pressentidas antes deles e que muitos se dispuseram, desde então, a explorar e utilizar.

Quando termina a Guerra, os dadaístas partem para a França.
Negando toda possibilidade de autoridade crítica ou acadêmica, consideravam como arte, qualquer manifestação, inclusive a involuntária, preparando terreno, para movimentos vanguardistas posteriores como o Surrealismo, derivado dele, a Arte Conceitual, o Expressionismo Abstrato e a Arte Pop, entre outros.

Os poemas nonsense, com vocabulário técnico, as máquinas sem função de Picabia, que satirizavam a ciência e faziam referência direta ao mecanicismo do homem, ou a produção de quadros com detritos (colagens feitas com objetos tirados do lixo), como Merzbilder, de Schwitters, são obras características do Dadaísmo.
A escultura dadaísta nasceu sob a influência de um forte espírito iconoclasta. Uma vez suprimidos todos os valores estéticos adquiridos e conservados até o momento pelas academias, os dadaístas se dedicaram por completo à experimentação, improvisação e desordem.

A pintura dadaísta é de difícil classificação. Representavam artefatos de aparência mais poética do que mecânica, cuja função era totalmente desconhecida. Para dificultar ainda mais sua análise, os títulos escolhidos não se relacionavam com o objeto central do quadro. Havia também as colagens, que reunia materiais escolhidos ao acaso nos quais se podiam ler textos elaborados com recortes de jornais de diferente feição gráfica, uma antecipação do que mais tarde seria a arte pop.

Se os dadaístas sacudiram a política e a moral estabelecida, foram também considerados os precursores dos happennings (“embora os happennings lembrassem uma performance teatral, podiam também integrar esculturas, pinturas, som, tempo, objetos, movimento e as pessoas do público. Seus realizadores geralmente começavam com um plano, mas, não havia ensaios ou repetições”, COSTA, Cacilda Teixeira da. Movimentos e Meios), dos “espetáculos-provocação” dos “desbundes” de 1960. São exemplos: a leitura pública de seu primeiro Manifesto em Zurich que termina em vaias, ovos e agressão, com o que o poeta Philippe Soupault afirma: “Vocês são todos uns idiotas. Merecem ser presidentes do movimento dadá!”; as aparições de Johannes Baaden em meio a missas ou celebrações como o Super-dadá berrando loucos contracantos; como também, na exposição organizada por Max Ernst em Munique, 1920, o público entrava pelo banheiro aos fundos de um café, onde havia uma bela jovem, vestida de primeira comunhão, recebendo os visitantes, entregando-lhes um santinho e proferindo versos obscenos. Entre as obras expostas, a escultura de Ernst vinha acompanhada de um machado e de um pedido para ser destruída.
Com o avanço da ideologia nazista, os dadaístas são censurados e muitos são exilados, como Kurt Schwitters e George Gross; outros passam a trabalhar a colagem, o desenho satírico e a foto-montagem.

Uma das acusações mais comuns dirigidas contra o dadaísmo é a de que foi apenas destruidor. Muitos artistas, porém, como Picasso, Paul Klee e Kandinski, foram marcados pelo movimento.
Sem o dadaísmo e sua ruptura com a lógica e o raciocínio convencional, seria impossível o automatismo psíquico dos surrealistas e outras formas de enriquecimento do imaginário.
No Brasil, certas características dadaístas são encontradas no desvairismo de Mário de Andrade, em Ligya Clarck e Hélio Oiticica.

5 comentários:

Anônimo disse...

Obrigado pelo post útil! Eu não teria chegado a este o contrário!

Anônimo disse...

O que um bom post. Eu realmente gosto de ler esses tipos ou artigos. Eu não posso esperar para ver o que os outros têm a dizer.

Anônimo disse...

Oiii.. nossa este seu post me salvou..
Teria algum livro pra citar como referencia sobre o assunto??
:D
e essas frases que vc postou são todas do Tzara?
Obrigadaa desde de já :D

Anônimo disse...

Oiii.. nossa este seu post me salvou..
Teria algum livro pra citar como referencia sobre o assunto??
:D
e essas frases que vc postou são todas do Tzara?
Obrigadaa desde de já :D

Anônimo disse...

UAAAU!!! Trabalhão hein??!? Parabéns!