terça-feira, 12 de outubro de 2010

CUBISMO (1907)


“Uma arte que trata primordialmente de formas e quando uma forma é realizada, ela aí está para viver sua própria vida”. (Picasso)



A pintura cubista surgiu em 1907 na França com o quadro Les demoiselles d’Avignon, do pintor Picasso e conheceu seu declínio com a I Guerra Mundial (1914).
O estilo recebeu esse nome a partir do desdém de Matisse ao ver uma paisagem de Georges Braque composta nada além de “cubinhos”. Embora os quatro “verdadeiros” cubistas: Picasso, Braque, Gris e Léger, quebrassem os objetos em pedaços que não eram propriamente cubos, o nome pegou.
O Cubismo liberou a arte ao estabelecer, nas palavras do pintor cubista Fernand Léger, que “a arte consiste em inventar, e não em copiar”.



CARACTERÍSTICAS:


Valorizando as formas geométricas e suas deformações, opondo-se à representação objetiva da natureza, o cubista defendia a ideia de uma transformação da arte: “olhar com olhos livres, rejeitando a tridimensionalidade clássica e questionando os próprios métodos da arte (metalinguística).“
É uma tendência estética objetiva, o artista cria uma multiplicidade de perspectivas ao decompor e recompor a realidade, utilizando a superposição e a simultaneidade explorando diferentes ângulos, através de elementos geométricos.
O objeto é retratado de diferentes ângulos ao mesmo tempo. Nova visada que, ao contrapor-se à perspectiva tradicional, repropõe a representação no plano. Questionam a herança clássica do descritivismo ao considerar que as coisas existem a partir de relações e mudam de aparências de acordo com o ponto de vista escolhido para focalizá-las.
Trabalhando com fragmentos metonímicos e produzindo montagens e colagens, segundo Picasso “o trabalho do artista não é cópia nem ilustração do mundo real, mas um acréscimo novo e autônomo”.
O cubismo trabalha a análise da forma, porém da forma de arte Conceitual, pois não dá para realizar o que quer realizar: é uma proposta não realizável do ponto de vista plástico.
O questionamento era como trabalhar a ideia da tridimensionalidade, num suporte bidimensional. No Renascimento a solução acadêmica foi à perspectiva e o sombreamento.
O cubismo buscou encontrar outra solução, portanto quis fazer história da arte, um problema teórico e para se resolver na prática.
A qualidade provocativa de toda arte Cubista deriva de sua ambivalência entre a representação e a abstração. No limite da dissolução do objeto em suas partes componentes, as alusões ao objeto osculam dentro e fora da consciência. Baseado no mundo das aparências, o Cubismo envia uma visão multifacetada, como um olho de mosca, da realidade.
“Não é uma realidade que se possa pegar com as mãos. É mais como um perfume”, disse Picasso. ”O aroma está em todo lugar, mas não se sabe bem de onde vem.”


Costuma-se dividir o Cubismo em três etapas:

A. CUBISMO CEZANEANO: dominado por um manifesto desejo de estruturar a obra desde os seus próprios elementos, mediante a decomposição geométrica. A sensação de volume, peso, corpo, espaço é poderosa e compensa as perdas. O fundo continua sendo a cor abstrata, com o predomínio do amarelo e o sombreado laranja-cinza. Há, portanto, uma estrutura dos objetos com formas simplificadas.
Algumas obras de Cézanne, entre elas, “As banhistas”, atestam tal particularidade.


B. CUBISMO ANALÍTICO: determina que composição dos objetos faz-se minuciosamente. Estes se quebram em muitas faces. Os pintores se preocupam com os objetos simples. Há uma pobreza de cores. Os tons são cinzentos, terrosos ou marrons. A pintura é um “camaïeu”, isto é, feita com diversos tons da mesma cor. Existe uma maior criatividade, libertando-se o artista da figuração. Neste período destaca-se o espanhol Picasso.
O objeto é de tal forma distorcido que quase tende para a abstração, ficando no limite do perceptível e do abstrato.
Outro representante do Cubismo Analítico é Georges Braque (1882-1963), que valorizou as cores de matizes frios como o ocre, marrom e o bege. A relação entre Braque e Picasso, sua identidade de espírito e seu método, fazem com que eles se confundam como pintores.
A partir de 1910, Braque renuncia durante algum tempo à representação objetiva e não hesita em utilizar os “papiers collés”, os títulos de jornais e outros elementos que, em suas mãos e nas de Picasso, dariam início ao “collage”, que seria usado depois pelos dadaístas e surrealistas quando começaram a incorporar os materiais mais insólitos dentro do contexto do quadro, como alusão desconcertante a uma presença real do objeto.

O Português (O imigrante) (1912), Georges Braque

Homem com violino (1912), Georges Braque

Nu numa floresta (1908), Pablo Picasso



C. CUBISMO SINTÉTICO: ocorre uma diminuição da decomposição da forma; restabelece-se o dualismo da figura e do fundo; prefere formas arredondadas em detrimento das angulosas. Reaparecem os sentimentos da cor com feições decorativas e a superfície de toda a tela é bem dividida em áreas geométricas coloridas segundo os padrões renascentistas.
Juan Gris (1887-1927) representante deste período dá à cor um caráter simbólico (Retrato de Picasso), combinando a composição segundo a natureza com a estrutura autônoma do espaço pictórico. Primeiro planeja a estrutura do seu quadro para depois impor o trema a essa estrutura.
A partir de 1909, Fernand Léger (1881-1955) adicionou formas curvas ao vocabulário angular cubista. Como as formas tendiam a ser tubulares, ele foi apelidado de “tubista”. Léger descreve com otimismo o tempo da máquina, o trabalho dos homens, as paisagens urbanas, industriais, cheias de formas metálicas polidas, robóticas, humanóides e a sua integração ao mundo mecanizado. A pureza das cores é evidente na sua obra: “Os acrobatas”.

Fantomas (1915), Juan Gris



O Cubismo conseguiu grandes inovações nas artes em geral ao introduzir elementos estranhos aos materiais como: vidro, papel, madeira, pedaços de jornal etc. A textura foi largamente utilizada, misturando-se tintas com areia ou gesso para provocarem sensações táteis. Teve grande aceitação a introdução de letras tipográficas na composição, mais pelas sugestões práticas que possuem. O Cubismo influenciou, com sua lógica construtiva e divisão racional da superfície do quadro, formas mecânicas e artes gráficas. Não podemos esquecer, por último, a simplificação geométrica na arquitetura de Le Corbusier.

Nenhum comentário: