1. “CAPITÃES DA AREIA”:
- cronológico, pois há nítida ordenação dos acontecimentos, numa sequência rigorosa de passado e presente;
- relativamente extenso, mas impreciso (de três a quatro anos), compreende um retalho da vida dos meninos, desde a infância até a maturidade. Contudo, o leitor tem a oportunidade de conhecer com mais intensidade o tempo da adolescência, já que o tempo da infância das crianças comparece por meio de analepses (retorno ao passado), fórmula de que o narrador lança mão para mostrar a formação delas e as razões do desamparado no presente;
- há um jogo entre o verbo no presente do indicativo e no pretérito perfeito, marcando a fronteira entre duas dimensões temporais;
- expressões referentes à noite, ao dia, à passagem dos dias ou mesmo, no final do romance, à passagem dos anos: “anos depois”, “no ano em que”, “passou o inverno, passou o verão”;
- as noites predominam sobre os dias, como se as personagens vivessem uma aventura noturna por excelência.
2. “VIDAS SECAS”:
- o tempo da narrativa é predominantemente psicológico, já que não se estabelecem cronologicamente datas; predominam as reflexões das personagens sobre os fatos de suas vidas; entretanto, isto não quer dizer que o autor não tenha se preocupado com o tempo cronológico;
- em cada um dos capítulos e no conjunto da obra o desenrolar da ação dá uma ideia clara de tempo cronológico, que, às vezes, é ressaltado explicitamente no texto (“...anos atrás antes da seca...” - cap. 10);
- as próprias transformações da natureza (seca, chegada da chuva, enchente, a fuga das arribações e nova seca) são índice do tempo cronológico;
- em algumas passagens o autor recorre à anacronia por retrospecção (como no episódio da morte do papagaio);
- a velocidade do tempo é variável ao longo do texto. Às vezes é acelerada, às vezes reduzida. No capítulo 9, há um exemplo claro de narrativa que vai se desacelerando progressivamente até a ausência de movimento, correspondente à morte da cachorra Baleia;
- o período da ação narrativa é determinado entre duas secas;
- o tempo também pode ser analisado a partir de duas contradições: seca/chuva e sertão/cidade.
3. “AUTO DA BARCA DO INFERNO”:
- sucessão de quadros sem uma continuidade necessária (teatro de revista);- não há culminação dramática (clímax);
- rompe com a chamada três unidades do teatro clássico (espaço/tempo/ação).
4. “MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE MILÍCIAS”:
- o tempo é demarcado com a própria abertura do romance, quando o narrador afirma que esta se passa no tempo do rei, isto é, na época do rei D. João VI, momento em que a corte portuguesa, perseguida por Napoleão, se transfere para o Rio de Janeiro;
- o tempo presente da narração é posterior àquele em que se deu à narrativa, ou seja, o narrador nos conta uma história que já ocorreu, num passado não muito distante, apresentando um tom de saudosismo e de nostalgia por esse tempo bom passado.
5. “O CORTIÇO”:
- o tempo é cronológico; preocupação com a veracidade, própria do realismo-naturalismo; apresenta um rico painel da então capital do Império, em momento de profunda transformação social, cultural, humana; dedica-se a focalizar as camadas populares, centrando-se na residência coletiva, habitada por uma classe em constituição, a dos trabalhadores manuais livres, em coexistência com os últimos estertores do sistema escravagista.
6. “A CIDADE E AS SERRAS”:
- apresenta uma narrativa linear, mas sem continuidade;
- Zé Fernandes enumera os detalhes que acredita serem mais importantes para o entendimento da história;
- o tempo transcorre desde 1820, com as aventuras de Dom Galião até 1894, quando Jacinto já está casado e com dois filhos. Portanto, focaliza a burguesia do último quartel do século XIX.
7. “DOM CASMURRO”:
- o romance é construído a partir de um flash-back;- o solitário e magoado Dom Casmurro vai reconstituindo o “tempo perdido” de sua existência, filtrando os fatos sob sua ótica de cinquentão amargurado, revivendo a vida subjacente, que jaz nas suas entranhas, "à la recherche de temps perdu" ("à procura do tempo perdido"), o qual procura "atar as duas pontas da vida" ( infância e velhice);
- perpassa uma atmosfera memorialista, dando a impressão de autobiografia, a qual, como se sabe, não tem nada a ver com Machado de Assis;
- o que domina no livro não é esse tempo cronológico; é o psicológico, que se passa dentro das personagens, dentro da própria vida;
- não há uma preocupação excessiva em contar a estória, preocupação maior é com a análise dissecante e profunda, em que o escritor procura desnudar a personagem e revelar as suas entranhas;
- retroage à infância (ab ovo), tentando buscar a origem do problema focalizado;
- os fatos e as ações não seguem um fio lógico ou cronológico; obedecem a um ordenamento interior, são relatados à medida que afloram à consciência ou à memória do narrador, num processo que se aproxima do impressionismo associativo.
8. “IRACEMA”:
- a partir do capítulo II, o narrador através do recurso de flash-back, relata o nascimento, a descrição da beleza de Iracema, sua origem e o seu encontro com Martim;- a obra se desenrola em três anos diferentes: 1604, 1608 e 1611, mas o tempo do romance está parcialmente fora de uma sequência histórica linear.
9. “ANTOLOGIA POÉTICA”:
- nas décadas de 30 e 40, a poesia brasileira vive um dos melhores dos seus momentos. Trata-se de um período de maturidade e alargamento das conquistas dos modernistas da Primeira Geração. Maturidade, porque já não há necessidade de escandalizar os meios culturais e acadêmicos e sim, substituí-la por uma poética mais preocupada com o mundo; - a literatura que foi produzida nesse período ganhou um contorno diferenciado ao dialogar com um dos momentos mais agudos da história recente. Nesse momento, a poesia assume um tom politizado e se aprofunda na tentativa de rastrear as complexas relações que o homem tem que travar com o seu tempo;
- no plano nacional, o Brasil enfrentou um longo período da ditadura do Estado Novo varguista que levou a literatura local a se posicionar politicamente, incorporando a preocupação social ao seu ideário estético.
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