quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

BAUHAUS


I – DADOS CRONOLÓGICOS:

O “Staatliches Bauhaus” em Weimar, no estado de Turíngia, foi fundado em abril de 1919 por Walter Gropius (1883-1969), seu primeiro diretor.

Depois, foi transferida para Dessau, funcionando até 1933, quando Hitler a fechou.



II – CONTEXTO HISTÓRICO-SOCIAL:


Era um tempo de fortes crises políticas e tumultos, inclusive na Alemanha.

No meio da carnificina da Primeira Guerra Mundial, a Revolução Russa de Outubro de 1917 ergueu a bandeira da solidariedade internacional e do socialismo, em oposição ao exacerbado nacionalismo das forças imperialistas belicosas.
A tomada do poder pelos trabalhadores e soldados soviéticos na Rússia, sob a liderança do Partido Bolchevique, inspirou os revolucionários na “Spartakus Bund” (Liga Espartarquista), liderada por Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo, a se espelharem neles.
Uma guerra civil estava próxima. Milhares de trabalhadores e intelectuais, repudiando o rebaixamento patriótico e o abandono do socialismo internacionalista pelos social-democratas, se juntavam aos Espartarquistas.
Em 9 de novembro de 1918, dois dias antes de o armistício ser declarado, o Kaiser abdicou. Liebknecht chamou a república socialista baseada nos conselhos de trabalhadores e soldados. O Partido Social Democrata (SPD), que em 1914 votou os créditos de guerra do Kaiser apoiando a mesma, avançou para estrangular a “Revolução de Novembro” alemã. Com o apoio do SPD, o levante dos trabalhadores foi suprimido, e em janeiro de 1919, Luxemburgo e Liebknecht foram assassinados, junto com centenas de membros do recém estabelecido Partido Comunista.
Antes destes tumultuados eventos, vários artistas tinham procurado desenvolver suas próprias linguagens criativas: “Der Blaue Reiter” (“O cavaleiro azul”), movimento de Wassily Kandinsky, Paul Klee, Franz Marc e August Macke na Alemanha; os Fauvistas como Georges Braque e Henri Matisse na França; o movimento holandês “Stijl” que incluía Piet Mondrian e Theo van Doesburg.






Durante a guerra e no seu período posterior, algumas tendências artísticas assumiram traços políticos mais claros.

O movimento Dadaísta surgido na Suíça em 1916 representou uma rebelde e niilista rejeição do “status quo” cultural e social. Seus praticantes incluem o francês Marcel Duchamp, o americano Man Ray, e os alemães George Grosz e Max Ernest.
A Revolução Russa de outubro de 1917, junto com a política do governo bolchevique de incentivo às liberdades intelectuais, artísticas e de experimentações, foi um efeito de inspiração para o mundo artístico. O trabalho de Malevich, Tatlin, Eisenstein, Rodchenko, El Lissistsky, e muitos outros tiveram um impacto muito além das fronteiras da União Soviética.
A Bauhaus surgiu nessa agitação política, cultural e social. Quando Walter Gropius, ainda jovem, fora influenciado pelo trabalho de John Ruskin e de Willian Morris.
Antes da Primeira Guerra Mundial, estudou arquitetura e trabalhou no escritório de Peter Behrens, com Ludwig Mies Van der Rohe e Charles Edouard Jeanneret, que mais tarde seria conhecido como Le Corbusier.


Walter Gropius radicalizou suas experiências durante a guerra. Ele se tornou chefe de uma associação de arquitetos, artistas e intelectuais de esquerda o “Arbeitsrat für Kunst” (Conselho dos Trabalhadores pela Arte), que visava estender a Revolução de Novembro para a área da arte.


Em fevereiro de 1924, os social-democratas perderam o controle do Parlamento

Estadual da Turingia para os nacionalistas, que desde o começo foram hostis a Bauhaus.
Em setembro, o ministro da Educação cortou pela metade os fundos da escola e alterou para semestral os contratos da equipe da mesma.
No final de março de 1925, Gropius junto com o Conselho de Mestres anunciou o fechamento da Bauhaus.
O SPD, que governava Dessau por anos, ofereceu sediar a Bauhaus na cidade. Gropius e sua equipe se mudaram para lá, em 1926.
A trágica traição à classe trabalhadora alemã pelos seus líderes políticos abriu espaço para que os nazistas subissem ao poder. Por setembro de 1932, os nazistas ganharam maioria em Dessau e cortaram todo o financiamento da Bauhaus.
A escola foi forçada a se mudar para Berlin, onde sobreviveu sem nenhum fundo público por um breve período.
Em 11 de abril de 1933, a polícia de Berlin, agindo sob as ordens do novo governo nazista, fechou a escola, por considerá-la uma escola de princípios liberais e modernos.
A exibição de “Arte Degenerada” promovida em 1937 pelos nazistas contava com muitos trabalhos de antigos professores da Bauhaus.


Primeiramente os nazistas proibiram o jazz, depois queimaram os livros de Hemingway, Thomas Mann e Helen Keller.

Quando os livros são queimados, as pessoas são queimadas”, advertiu o escritor Heinrich Heine.
Os artistas sentiam agudamente o clima de terror e opressão que levou o pintor George Grosz a fugir da Alemanha em 1933.
Os nazistas falharam em suas tentativas de destruir completamente a Bauhaus. O forçado fechamento e a subsequente imigração de muitos antigos professores e estudantes asseguraram sua fama e influência pelo mundo, especialmente nos Estados Unidos, onde a Bauhaus se estabeleceu em 1937, em Chicago.
Os artistas modernos que permaneceram lá viram suas obras confiscadas e, em 1937, exibidas como objeto de ridículo. Hitler e seu ministro de propaganda, Joseph Goebbels, organizaram uma mostra do que chamaram “arte degenerada” (“Entartete Kunst”) que consistia em obras primas dos mais brilhantes artistas do século.


O objetivo era desacreditar qualquer obra que traísse a ideologia de superioridade da raça, em suma, qualquer coisa que aludisse ao perigo do livre-pensar.

Os líderes nazistas consideravam a arte moderna tão ameaçadora que proibiram a presença de crianças na mostra e contrataram atores para andar pelos salões criticando em voz alta a arte moderna como um trabalho de insanos. Rabiscavam dizeres depreciativos nas paredes entre os quadros, os quais eram agrupados nas categorias “Insultos à Mulher Germânica” e “A Natureza Vista por Mentes Doentes”.
Etiquetas de preço exibiam quanto os museus pagaram por cada quadro e a mensagem: “Contribuinte, você devia saber como é que gastam o seu dinheiro.
Afastada dos ideais socialistas que haviam inspirado o movimento, a escola tinha sido levada para outro meio cultural, muitos dos que trabalharam lá vieram a produzir construções sem expressão e pouco humanas.

III – CARACTERÍSTICAS:

Para Hitler, o moderno não é Belo/Perfeito; para ele, o Belo é o movimento “Neo-Clássico”, recorrendo a um retorno a arte Antiga.

Gropius acreditava na necessidade de uma nova sociedade. Ele desejava superar a distinção entre arte e artesanato e criar uma nova condição de vida para os homens.
O Manifesto da Bauhaus, escrito por Walter Gropius em abril de 1919, foi ilustrado com uma xilogravura de Lyonel Feininger, o primeiro a ser indicado por Gropius para a Bauhaus.



Cathedral of the Future” (“A Catedral do Futuro”) mostra uma construção parecida com um foguete erguendo-se ao céu com força; no topo de suas três espirais estão estrelas de cinco pontas radiando feixes de luz.

Feininger, que também apoiou o “Arbeitsrat für Kunst”, não escolheu a imagem por algum motivo religioso.
Como uma “catedral do socialismo”, a ilustração representa os desejos da Bauhaus para unificar arquitetura com arte e com design a serviço da sociedade.
O fim último de toda atividade criativa é a construção”, escreveu Gropius nas linhas de abertura do Manifesto da Bauhaus.
Adorná-la era, outrora, a tarefa mais nobre das artes plásticas, componentes inseparáveis da magna arquitetura. Hoje elas se encontram numa situação singular de auto-suficiência, da qual só se libertarão através da consciente atuação conjunta e coordenada de todos os profissionais. Arquitetos, pintores e escultores devem novamente chegar a conhecer e compreender a estrutura multiforme da construção em seu todo e em suas partes; só então suas obras estarão outra vez; plenas do espírito arquitetônico que se perdeu na arte dos salões”.
A Bauhaus atraiu muitos artistas importantes da época, entre eles, Wassily Kandinsky, Paul Klee, Oskar Schlemmer, Laszlo Moholy-Nagy e outros. Eles, ao lado de artesãos que trabalhavam com pedra, madeira, metal, argila, vidro, tinta e tecido, capacitaram os estudantes a dominar cada material e cada ferramenta. Cada área tinha um tutor dirigido aos problemas da forma, encorajando as habilidades de observação, representação e composição dos alunos.
Wilfred Franks narra a sua experiência na Bauhaus:

“Eu tinha 22 anos quando fui para a Bauhaus em Dessau. Era 1929. Nasci em janeiro de 1908. No começo eu não sabia o que era a Bauhaus; eu pensava que era apenas uma escola para arquitetos. Quando eu cheguei, fiquei impressionado com o prédio. Fiquei tremendamente comovido por ele, foi algo que não esperava e não podia imaginar.

Cheguei depois do escurecer, e lá estava aquela maravilhosa fachada de vidro do prédio, tudo aceso, com pessoas andando em seu interior. Veja se você consegue imaginar: uma área de 50 pés (15m) de altura, com luzes brilhando através das vigas de aço da construção, afastadas dos vidros. Você não pode acreditar que experiência foi aquela. Você ficaria paralisado como eu se tivesse visto aquilo. Eu tinha ido a um país estrangeiro e tido uma cansativa viagem de trem com pessoas conversando em uma língua que não entendia e, de repente, cheguei naquele lugar maravilhoso. [...] Eu fui o primeiro estudante inglês. Eles estavam tremendamente satisfeitos com isso porque sabiam que aquilo significava terem um reconhecimento internacional – a escola estava se tornando conhecida em todo mundo.
[...] Na Bauhaus, os ateliês eram identificados com materiais específicos – madeira, pedra, metal, argila, e por aí vai. Os estudantes eram estimulados a descobrir todas as possibilidades de usar diferentes materiais, por sensibilidade, por racionalidade, por sua relação com eles, para ver que qualidades eles têm e se eles podem se aprimorados e usados para melhoria do homem.
Cada ateliê tinha um Mestre da Forma, ou professor de design, e um Mestre Artesão, ou mestre técnico.
Weidensee me disse: Você terá que se tornar comunista se quiser fazer quase tudo do nosso aprendizado, por que tudo está baseado nisso. A revolução mundial começou na Rússia. E Moholy-Nagy explicou que a nova sociedade começou com Lenin e Trotsky. Isto era o que a Bauhaus acreditava.
Todos sabiam que Marx e Engels propuseram uma mudança revolucionária e que Lênin e Trotsky trataram de colocá-la em prática, algo que Moholy-Nagy ensinou-me sobre, mas agora tudo se foi. Stalin estragou tudo.
Eles estavam aprendendo a criar para os trabalhadores, para todos. Eles estavam pensando sobre criar um novo mundo fora do seu artesanato e de seus bons trabalhos. Esta é uma atitude totalmente diferente da de qualquer outra escola de arte que eu soube sobre, porque não era uma escola de arte – era a Bauhaus.
Ela estava lá para criar a arquitetura para o novo mundo socialista que começou na Rússia, e que seria internacional...
O que estávamos aprendendo na Bauhaus era que viria um tempo de grandes mudanças, quando nós teríamos que fazer tudo feito através das máquinas e da estandartização, mas fazendo isso de uma forma bela. Gropius disse que ainda fazíamos tudo com as mãos, mas com o pensamento da estandartização e da produção em massa, para que todos, no futuro, pudessem ter objetos belos. Ele afirmou que “tudo o que você deve fazer é se juntar à sua geração, aos estudantes...Nós, da velha geração, não podemos fazer nada, mas você deverá criar a arquitetura do novo mundo, que represente as pessoas do nosso tempo”.

Princípios da Escola Bauhaus:

1. PRINCÍPIO DA COLABORAÇÃO – horizontalidade entre professores e alunos (todos no mesmo patamar, iguais)

2. PROPOSTA MODERNIZADORA/TOTAL/PLENA – havia uma pretensão utópica de uma nova sociedade, através da comunicação: o “design gráfico” que agilizaria essa comunicação.

IV – AUTORES REFERIDOS:



WALTER GROPIUS (1883-1969)

Mentor de gerações de arquitetos que mudaram radicalmente a paisagem das metrópoles em todo o mundo. Gropius concebia edifícios totalmente em termos da tecnologia do século XX, sem referência ao passado. Os prédios da Bauhaus, construídos por ele, eram simples caixas de vidro que se tornaram um clichê em termos mundiais.

A arquitetura é uma arte coletiva”, dizia Gropius, incitando seus colegas da Bauhaus a colaborar como faziam os construtores das catedrais medievais. A arquitetura preconizada por ele obliterava a personalidade individual em favor de projetos viáveis para a produção em massa. Desvirtuados, os projetos originais de Gropius vieram a se tornar os altos edifícios anônimos que proliferam em todas as cidades, de Topeka a Tóquio.
GROPIUS ao projetar o edifício da Bauhaus, inovou o uso de “estruturas tubulares”; fachada limpa; janelas amplas; vidros, aderindo a um conceito de cidadania: a interação com o mundo externo, onde a organização vem de fora para dentro.


PAUL KLEE

Paul Klee, músico dotado de sensibilidade especial, ministrava aulas de tapeçaria na Bauhaus e contava com a participação conjunta de seus alunos.

Ele brinca com objetos perto das mãos e os usa. Ele pode pegar alguma coisa como uma caixa de fósforos e dar a ela a forma de um rosto humano, ou pode pintar com a ponta de uma régua. Ele pode pegar qualquer coisa e usar. Ele era muito grande em seus movimentos. Ele podia mergulhar um pincel na tinta e girá-lo pela página. Era um grande movimento. Isso vinha de sua personalidade essencial – uma personalidade musical”, afirma Wilfred Franks.
A cor me pegou!”, exclamou Paul Klee numa viagem à África do Norte, aos 24 anos de idade. “Eu e a cor somos um.”
A cor e a linha foram os elementos com que Klee expressou, em toda a sua carreira, o olhar descompassado que tinha sobre a vida.
Klee desconfiava da racionalidade que, segundo ele, simplesmente atrapalhava e podia até ser destrutiva. O respeito pela visão interna levou Klee a estudar signos arcaicos, símbolos de feitiçaria, hieróglifos e marcas em cavernas, que ele supunha conservarem uma força primitiva, para evocar significados não-verbais.

Noite Azul” (1923)

Em “Noite Azul” o artista divide o céu em retalhos de planos de tonalidades frias e quentes, limitadas por misteriosas linhas. As linhas podem marcar constelações ou representar algum alfabeto esquecido. Elas ilustram a crença de Klee de que “a arte não reproduz o visível, ela faz o visível”.

KANDINSKY (1866-1944)


Nasceu na Rússia, e estudou arte em Munique, retornando à Rússia em 1914. Após a Revolução Russa, no ano de 1919, se tornou chefe do Museu de Arte Moderna, fundou também a Academia Russa de Ciências artísticas, em 1921.

Conheceu Walter Gropius antes da Primeira Guerra Mundial e foi inspirado pelo Manifesto da Bauhaus quando estava escrevendo o programa para o Instituto Moscou de Arte e Cultura, em 1920. Deixou a Rússia em 1922 e se tornou Mestre da Forma no ateliê de murais e pintura na Bauhaus.
Permaneceu na escola até esta ser fechada pelos nazistas em 1933, quando deixou a Alemanha e foi para a França.

LASZLO MOHOLY-NAGY (1895-1946)

Construtivista húngaro e seguidor de Vladimir Tatlin. Em 1919 apoiou o soviete húngaro de “Bela Kun” e em janeiro de 1921, chegou a Berlin.

No ano seguinte, participou da Conferência Dadá e Construtivista em Weimar.
Lecionou no curso preliminar da Bauhaus de 1925 a 1928, mantendo uma forte relação com os estudantes mesmo depois de sua saída.
Em 1935 deixou a Alemanha, e em 1937 foi indicado chefe da nova escola da Bauhus, em Chicago.

PAUL SCHULTZE-NAUMBURG

Era o arquiteto enviado para restabelecer a “pura arte germânica” na escola, ao invés do “lixo cosmopolita” que faziam.

Ele descreve a produção da Bauhaus como “kisten”, ou caixas.
Ele queria nos ensinar como cravar baços e vinhas nas costas das cadeiras, coisas desse tipo, coisas em certa medida vitorianas.”

Um comentário:

Unknown disse...

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Cecél Garcia