domingo, 7 de novembro de 2010

ROMANTISMO ESPANHOL: FRANCISCO DE GOYA

FRANCISCO DE GOYA (1746-1828)


“Um artista sem “ismo”

As pinturas do artista espanhol não se encaixam em categoria alguma.
Sua obra só tinha sido influenciada pelo Realismo de Velázquez, pela visão de Rembrandt e, como ele dizia, pela “natureza”.
GOYA poderia parecer um pintor tão público quanto qualquer outro, visto que era o principal pintor de Carlos IV de Espanha. Contudo, a maior parte da sua obra e, certamente, a sua obra mais gigantesca, é profundamente pessoal no caráter, por isso mesmo, surpreende o reconhecimento de que seu talento desfrutou.
FRANCISCO DE GOYA Y LUCIENTES, contemporâneo chegado de DAVID, iniciou sua carreira num mundo de rococó vacilante e numa corte decadente.
O Neoclassicismo era a alternativa revolucionária para o Rococó, uma arte pública e impessoal de reconstrução. Mas GOYA preferiu, em vez de oferecer visões de um mundo mais nobre, registrar as enfermidades do seu próprio mundo.
O artista foi rebelde toda a vida. Libertário que se opunha firmemente a todo tipo de tirania, o artista espanhol começou como desenhista semi-rococó de cenas divertidas para tapeçarias. Então, tornou-se pintor de Carlos IV da Espanha, cuja corte foi notória pela corrupção e pela repressão. Observar o vício da corte e o fanatismo da igreja transformou GOYA num amargo e satírico misantropo.
Sua obra era subjetiva como a dos românticos do século XIX, no entanto GOYA é saudado como o primeiro pintor moderno.
Suas visões de pesadelo expondo a maldade da natureza humana e sua técnica original de cutiladas nas pinceladas, o transformou num pioneiro da angustiada arte do século XX.
Deu a uma Espanha decadente a guerra, insurreição e exemplos de selvageria bastante anormais, até mesmo para o nosso próprio século.
O destino deu a GOYA não só o gênio, mas também doenças frequentes e surdez total a partir dos 46 anos. Durante a recuperação, isolado da sociedade, começou a pintar demônios do seu mundo interior de fantasia, início de uma preocupação com criaturas bizarras, grotescas, em sua obra madura. Só a comunicação visual ligava esse homem atormentado aos horrores do mundo externo.
GOYA foi igualmente brusco ao revelar os vícios da Igreja e do Estado.
O pintor foi mestre em artes gráficas. Suas 65 gravuras “Os Desastres da Guerra” (1810-14) são francos “exposés” das atrocidades cometidas por ambos, o exército francês e o espanhol, durante a invasão da Espanha.
Com precisão sangrenta, reduziu cenas de tortura bárbara ao básico horror. Seu olhar sobre a crueldade humana era firme: castrações, desmembramentos, civis degolados empalados em árvores nuas, soldados desumanizados contemplando indiferentemente corpos linchados.
GOYA ficou obcecado com a descrição do sofrimento causado pela intriga política e pela decadência da corte e da igreja espanholas. Disfarçava sua repulsa, porém, com sátira, como nas perturbadoras “pinturas negras” que fez nas paredes de sua vila, Quinta Del Sordo (casa do surdo).
Os 14 grandes murais em negro, marrom e cinza de 1820-22 apresentam monstros assustadores engajados em atos sinistros.
A técnica de GOYA era tão radical quanto sua visão. A certa altura, executou afrescos com esponjas, mas suas pinturas satíricas foram feitas com pinceladas amplas, ferozes, tão ardentes quanto os eventos retratados.
GOYA morreu na França, num exílio auto-imposto. Teve vinte filhos, mas não seguidores.
Seu gênio era singular e suas simpatias intensas demais para se repetirem.


“A Família de Carlos IV” (1800)


É uma pintura de corte diferente de todas. As figuras retratadas são soberanas da Espanha, mas não demonstram nobreza.
O rei robusto, de rosto vermelho, carregado de medalhas, tem ar de suíno; o trio de olhos aguçados à esquerda (incluindo uma senhora idosa, com uma marca de nascença) tem aparência completamente predatória, e a rainha parece insipidamente distraída.
Os críticos se maravilharam com a estupidez dos treze membros de três gerações da família por não terem se dado conta do quão visivelmente GOYA expôs sua afetação.
Um crítico assim descreveu o grupo: “Um dono de mercearia e sua família, tendo acabado de ganhar o grande prêmio da loteria.” A pintura era uma homenagem do artista à obra “As Meninas”, de Velázquez.
GOYA, como seu antecessor, colocou-se à esquerda atrás de uma tela (como Velázquez), registrando impassivelmente o desfile de arrogância real.
No fundo, observamos algumas pinturas holandesas.



“O 2 de maio de 1808” (1814)


Depois que as tropas de Napoleão abandonaram, ele mandou os mamelucos (turbantes) e o rei parte para férias. A população tenta segurar as tropas napoleônicas (Guerra Civil).
Retrata o heroísmo do povo espanhol diante da maior força militar do mundo.




“O 3 de Maio de 1808” (1814-15)


Esse quadro é a resposta de GOYA ao massacre de cinco mil civis espanhóis. As execuções eram represália a uma revolta contra o exército francês em que os espanhóis foram condenados sem se levar em conta culpa ou inocência.
Trata-se da execução dos defensores de Madrid: quem sobreviveu, foi executado.
Aqueles que possuíam um canivete ou uma tesoura (“armas portáteis”) foram obrigados a marchar diante do pelotão de fuzilamento em lotes.
A pintura tem o aspecto imediato de fotojornalismo. GOYA visitou o cenário fazendo esboços; no entanto, porque se desvia do Realismo, dá a ela uma força adicional.
Ele iluminou a cena noturna colocando no chão uma lâmpada que projeta uma luz forte. No fundo, a igreja está escura, como se toda a luz da humanidade tivesse se extinguido. Cadáveres ensangüentados se lançam em direção ao espectador, enquanto uma fila de vítimas se estende na distância.
As vítimas do momento constituem o foco de interesse, com um homem de camisa branca de braços bem abertos num gesto desafiador, mas impotente, lembrando o Cristo crucificado. As sombras ácidas e a ausência de harmonia na cor sublinham a violência do evento. A imagem está tosca, rude e agressiva.
Em outras pinturas daquela época, a guerra era sempre apresentada como um espetáculo glorioso e os soldados como heróis.
GOYA contrastou os rostos das vítimas e os gestos desesperados com as figuras sem rosto, parecendo autômatos, do pelotão de fuzilamento.
Apesar de a surdez ter isolado GOYA da humanidade, ele comunica apaixonadamente seus fortes sentimentos a respeito da brutalidade e da desumanização da guerra.
A coincidência de GOYA e das Guerras Napoleônicas na Espanha produziu um novo gênero de pintura: na escala de uma pintura histórica, mas com o uso de um tema contemporâneo sem a exaltação de heróis. Aqui não há nomes, nem glorificações, mas uma afirmação nua e poderosa da desumanidade sem propósito, nem significação do homem.
Todo o quadro é orientado no sentido dessa afirmação: pouca cor, composição e luz artificial concentrando a atenção na ação, os algozes abstraídos em função de concisão e expressão. É, assim, um distante precursor do moderno cenário teatral despojado.


“Saturno devorando seus filhos”


Esse quadro retrata um gigante voraz com olhos abertos, lunáticos, enfiando o corpo dilacerado, decapitado, do seu filho no papo.
A obra “Saturno devorando seus filhos” é uma obra de Francisco de Goya, na qual ele apresenta o terror e o canibalismo. O quadro representa o deus Chronos devorando seu próprio filho nascido de sua mulher, Neia, porque temia ser destronado por eles.
De acordo com Sigmund Freud, no ponto de vista da psicanálise, o ato de comer o próprio filho representava impotência sexual.
A obra pertence a série Pinturas negras, na qual Goya fez 14 pinturas como decoração do muro de sua casa.



“Procissão a San Isidro” (1820-23)


Quando ficou doente, pintava dentro de sua casa. Uma procissão de desvalidos que acreditavam que a fé salvaria todas essas pessoas.
É o horror dos horrores.
O povo pedindo pela salvação de suas almas.


“A Maja Desnuda”(1796-98)



GOYA foi denunciado durante a Inquisição por esta versão “obscena”, atualizada, apresentando nudez frontal total. O título quer dizer “coquete nua”, e a imagem totalmente erótica causou furor na pacata e na conservadora sociedade espanhola.
Acredita-se que a modelo é sua amiga e patrona, a aristocrática, porém muito pouco convencional, a condessa de Alba disfarçada.
Existe também uma réplica vestida da figura, em pose idêntica, mas esboçada muito apressadamente. Diz-se que GOYA a pintou quando o conde estava a caminho de casa, para justificar todo o tempo que tinha passado na companhia da condessa.
É provável que GOYA tenha se inspirado na “Vênus” de Velázquez, o nu de GOYA é muito mais sedutor, com a carne suave, macia, contrastando com a pincelada ondeada do lençol de cetim e dos babados de renda.


“A duquesa de Alba” (1795) e “Retrato da duquesa Alba” (1797)



Muito famosa pela sua beleza.
Composição abstrata, onde não temos a percepção de lugar e nem do horário.
Ostentando beleza, jóias no braço e um vestido impecável.


“Don Manuel Osório Manrique de Zuñiga”


Retrata uma criança de dois anos matando passarinhos para alimentar o gato. Percebemos o contraste de luz e sombra.


“O guarda-sol” (1777)


Temas agradáveis para virar tapete. A casa é irreal. O mundo não separa nada, o jardim está lá embaixo e as cores são suaves.


“O boneco de palha”


O boneco está flutuando estilo um boneco de teatro mambembe.


“Retrato de Mariana Waldstein”


Arte retratista. Perfeição na elaboração do tecido.

Um comentário:

Luana disse...

Um pintor fascinante, de trajetória única. Não há nada tão comovente e impactante como sua obra "Os Fuzilamentos de Três de Maio". Dor, injustiça e sacrifício são valores universais e genuinamente humanos.