sábado, 20 de novembro de 2010

EXPRESSIONISMO


1910-1933

"De onde nós queríamos nos afastar, nos era claro; aonde nós iríamos chegar, estava porém pouco definido." Com essas palavras, um dos fundadores do grupo Die Brücke, Karl Schmidt-Rottluft, definiu certa vez as intenções da associação de jovens artistas surgida em Dresden no início do século XX.


I – DADOS CRONOLÓGICOS:



O Expressionismo, como distinto movimento na arte moderna, surgiu espontaneamente sob a forma de manifestação de vários artistas e grupo de artistas, ligados inicialmente às artes plásticas na Alemanha, em 1910.
Dizer que o movimento era espontâneo não implica em que tivesse qualquer conexão a movimentos anteriores.
Opondo-se ao Impressionismo do fim do século XIX, segundo o historiador italiano, Giulio Carlo Argan:

“A expressão é o contrário de impressão. A impressão é um movimento do exterior para o interior: a realidade (objeto) que se imprime na consciência (sujeito). A expressão é um movimento inverso, do interior para o exterior: é o sujeito que por si imprime o objeto”.

O Expressionismo teve o seu declínio a partir de 1933, com a ascensão de Hitler na Alemanha. Segundo as novas diretrizes, buscava-se uma arte “pura”, “limpa”, que retratasse a “superioridade” germânica retornando à arte clássica, jamais uma caricatura. Depois, ao final da guerra, a arte expressionista passa a ser valorizada e chegam às galerias, principalmente a xilogravura.


II – CONTEXTO CULTURAL:



O início do século XX ampliou as conquistas técnicas e o desenvolvimento industrial do século anterior, mas foi marcado também por vários conflitos políticos: a Primeira Guerra Mundial, a Revolução Russa, a formação do fascismo na Itália e do nazismo na Alemanha.
Na sociedade acentuaram-se as diferenças entre as classes mais ricas e as mais pobres.
Foi nesse contexto histórico que se desenvolveu a arte da primeira metade do século XX.
Um grupo de artistas estudantes da Escola Superior Técnica de Dresden, Alemanha, em 1904, como Ernst Ludwig Kirchner, Karl Schimdt Rottluff, Fritz Bleyl e Erich Heckel reuniram para organizar um movimento em prol de uma pintura dramática, patética, angustiante, com sensações dolorosas sobre o destino do homem.
Este grupo, chamado “Die Brücke” (A Ponte), procurava estabelecer uma ponte entre o visível e o invisível.

Ernst Kirchner, "Group of Artists." Die Brücke. 1926-7.

Em 1906 se juntam ao grupo Emil Nolde e outros.
Desde o ano da sua fundação, “A Ponte” celebrou exposições coletivas que foram recebidas com incompreensão e escândalos.


O grupo teve pouca duração em virtude da depressão e do suicídio de vários integrantes.
Em 1907 ocorreu a exposição de Arte Africana em Paris influenciando muitos artistas da época. A arte primitiva, o exótico, o pueril passa a ser visto como fonte para a arte ocidental.
Mais tarde, estes pintores aliavam-se ao grupo do “Blaue Reiter” (Cavaleiro Azul-1909/1913), movimento partidário do abstracionismo, da pintura metafísica e do expressionismo místico.


Enquanto que nos artistas agrupados no “Die Brücke” era dominante na afirmação germânica, nos que constituíam o “Blaue Reiter” prevalecia uma atitude internacionalista.
Quando os nazistas chegaram ao poder, as obras dos artistas expressionistas foram consideradas degeneradas e depravadas. Elas foram retiradas dos museus, queimadas ou vendidas.


III – CARACTERÍSTICAS:

Visava apresentar a expressão do mundo interior e com uma forma de expressá-la, independentemente de sua beleza ou feiúra.
Arte criada sob o impacto da expressão, ou seja; da materialização, mas da expressão da vida interior, das imagens que vêm do fundo do ser e se manifestam pateticamente. As obras expressionistas não têm preocupação com o padrão de beleza tradicional e exibe enfoques pessimistas da vida, marcado por angústia, dor, inadequação do artista diante da realidade e, muitas vezes, necessidade de denunciar problemas sociais.
Suas imagens são distorcidas, muitas vezes caricaturais e como o Surrealismo, valoriza a ilógica, os mitos e os sonhos.
Como afirma Lúcia Helena em “Movimentos da vanguarda européia”, “ao contrário de outras vanguardas, que refletem otimistamente sobre a técnica e o progresso, como por exemplo, os futuristas, os expressionistas são mais afetados pelo sofrimento humano do que pelo triunfo”.

“(...) O que perturba o público a respeito da arte expressionista talvez seja menos o fato de a natureza ter sido distorcida do que o resultado implicar o distanciamento da beleza. Que o caricaturista mostre a fealdade do homem é ponto pacífico; no fim de contas, é esse o objetivo de seu trabalho. Mas que pessoas que pretendem ser artistas sérios esqueçam que, se tiverem de alterar a aparência das coisas, devem idealizá-las e não desfeá-las, foi profundamente ressentido”, comenta E.H.Gombrich.

O pintor expressionista é individualista, expressa os seus sentimentos e recusa o aprendizado técnico, pintando conforme as exigências de sua sensibilidade. Abusam dos contrastes de claro e escuro e possuem uma técnica original.
A figura humana e a paisagem perdem seu valor representativo, transformando-se em puros valores afetivos.
Pregavam um retorno à vida. Para isso, valorizavam os contornos simplificados, as formas reduzidas e as cores vivas, brilhantes e contrastadas. Era uma arte do imediato, do impulso, do arrebatamento, da emoção. No centro não estava mais a reprodução exata da realidade pelo artista, mas do que ele sentia ao contemplá-la.
O artista vive não apenas o drama do homem, mas também o da sociedade. Critica a exploração do homem pelo homem, a infância e velhice desamparadas, a hipocrisia, a miséria etc.
O Expressionismo possui raízes geográficas e raciais e desenvolveu-se mais em países nórdicos como a Noruega, Suécia e Dinamarca, ou em países como a Alemanha e Holanda, mais pelo temperamento místico, visionário e climático.
Durante os verões de 1909 e 1911, o grupo se reuniu no lago do castelo Moritzburg, em Dresden, para sessões de banho e pintura. Afastados do olhar curioso e inquisidor de guardiães da moral burguesa, os artistas e suas modelos se banhavam ao sol e se amavam ao ar livre. "Nós vivíamos em absoluta harmonia, trabalhávamos e nos banhávamos", disse Pechstein sobre aqueles tempos. Essas sessões estão retratadas em inúmeras pinturas de banhistas, hoje incluídas entre as mais importantes obras do expressionismo alemão.

Principais características:
* pesquisa no domínio psicológico;
* cores resplandecentes, vibrantes, fundidas ou separadas;
* dinamismo improvisado, abrupto, inesperado;
* pasta grossa, martelada, áspera;
* técnica violenta: o pincel ou espátula vai e vem, fazendo e refazendo, empastando ou provocando explosões;
* preferência pelo patético, trágico e sombrio
MÚSICA

Intensidade de emoções e distanciamento do padrão estético tradicional marca o movimento na música. A partir de 1908, o termo é usado para caracterizar a criação do compositor austríaco Arnold Schoenberg (1874-1951), autor do método de composição dodecafônica. Em 1912 compõe Pierrot Lunaire, que rompe definitivamente com o romantismo. Schoenberg inova com uma música em que todos os 12 sons da escala de dó a dó têm igual valor e podem ser dispostos em qualquer ordem a critério do compositor.


Arnold Schoenberg

CINEMA


Os filmes produzidos na Alemanha após a I Guerra Mundial são sombrios e pessimistas, com cenários fantasmagóricos, exagero na interpretação dos atores e nos contrastes de luz e sombra. A realidade é distorcida para expressar conflitos interiores das personagens. Um exemplo é “O Gabinete do Dr. Caligari”, de Robert Wiene (1881-1938), que marca o surgimento do expressionismo no cinema alemão em 1919.
Filmes como “Nosferatu”, de Friedrich Murnau (1889-1931), e “Metrópolis”, de Fritz Lang (1890-1976), traduzem as angústias e as frustrações do país em plena crise econômica e social. O nazismo, que domina a Alemanha a partir de 1933, acaba com o cinema expressionista. Passam a ser produzidos apenas filmes de propaganda política e de entretenimento.

LITERATURA


O movimento é marcado por subjetividade do escritor, análise minuciosa do subconsciente das personagens e metáforas exageradas ou grotescas. Em geral, a linguagem é direta, com frases curtas. O estilo é abstrato, simbólico e associativo.
O irlandês James Joyce, o inglês T.S. Eliot (1888-1965), o tcheco Franz Kafka e o austríaco Georg Trakl (1887-1914) estão entre os principais autores que usam técnicas expressionistas.

TEATRO


Com tendência para o extremo e o exagero, as peças são combativas na defesa de transformações sociais. O enredo é muitas vezes metafórico, com tramas bem construídas e lógicas. Em cena há atmosfera de sonho e pesadelo e os atores se movimentam como robôs. Foi na peça expressionista “R.U.R”., do tcheco Karel Capek (1890-1938), que se criou a palavra robô. Muitas vezes gravações de monólogos são ouvidas paralelamente à encenação para mostrar a realidade interna de um personagem.
A primeira peça expressionista é “A Estrada de Damasco” (1898-1904), do sueco August Strindberg (1849-1912). Entre os principais dramaturgos estão ainda os alemães Georg Kaiser (1878-1945) e Carl Sternheim (1878-1942) e o norte-americano Eugene O'Neill (1888-1953).

EXPRESSIONISMO NO BRASIL


Nas artes plásticas, os artistas mais importantes são Candido Portinari, que retrata o êxodo do Nordeste, Anita Malfatti, Lasar Segall e o gravurista Osvaldo Goeldi (1895-1961). No teatro, a obra do dramaturgo Nelson Rodrigues tem características expressionistas.

Nenhum comentário: