domingo, 21 de novembro de 2010

Construtivismo Russo


1913 - 1930


I – DADOS CRONOLÓGICOS:


O Construtivismo é o movimento das artes plásticas, do cinema e do teatro que ocorre basicamente na Rússia, com importante papel no apoio à Revolução Russa de 1917 e teve como alguns artistas: Ilya Chashnik, Alexandra Exter, Naum Gabo, El Lissitzky, Antoine Pevsner, Lyubov Popova, Aleksandr Rodchenko, Olga Rozanova, Varvara Stepanova, Vladimir Tatlin, Aleksandr Vesnin.
Desde 1913, o Construtivismo insere-se no grupo das artes de vanguarda e revolucionárias lideradas pelo teórico russo e poeta futurista Vladimir Maiakóvski (1893-1930).
Depois da Revolução Bolchevique de 1917, os artistas construtivistas ganharam poder político e são oficialmente sustentadas pelo governo de Lênin. Essa posição causou um desacordo entre aqueles interessados numa arte pessoal e aqueles ocupados em fazer um design utilitário para as massas.



O governo de Stalin não compreende que a revolução artística vinha de encontro com os pressupostos socialistas e persegue os construtivistas, acusando-os de elitistas e inventores de uma forma de arte sem propósito, impossibilitando a arte clássica e tradicional chegarem até o proletariado.
O partido comunista decretou que a arte deveria ser funcional, uma arte para as massas e, de preferência, aliada à propaganda.
Stalin enviou os artistas não-conformistas para campos de trabalho e trancou suas obras modernistas no porão.
O Construtivismo, assim, marcou o fim de uma era brilhante.
Em 1925, o Comitê Central do Partido Comunista saiu contra a abstração; em 1932 todos os grupos culturais dispersaram-se, e em 1934 um novo estilo de propaganda do realismo social se tornou a única abordagem artística oficial da União Soviética.
A mais expressiva vanguarda russa na arte foi assim dissipada e os artistas tiveram que optar em permanecer na Rússia e continuar nos moldes artísticos dos séculos anteriores, ou mudar para o oeste. Muitos foram lecionar na Bauhaus, escola alemã orientada para o design e para tecnologia, surgida como uma necessidade imposta pela expansão industrial e influenciaram toda Europa e Estados Unidos.



II – CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL:


A revolução de 1917 fez a conversão da sociedade russa do estado feudal para a “república do povo”. Lênin tolerou o movimento de vanguarda, achando que podia transmitir sua ideologia ao público iletrado através do desenvolvimento de novos estilos visuais. Porém, por um breve período, antes de Stalin chegar ao poder e proibir a pintura “elitista” de cavalete. Os artistas russos mais ousados promoveram uma revolução não só artística, mas também social. Sua intenção era despir a arte, assim como o Estado, dos anacronismos burgueses e refazer a arte, tal como a sociedade, a partir do zero.
O termo Construtivismo surgiu em 1921 em debates sobre o propósito da arte estimulada pelo "Manifesto Realístico" de Naum Gabo e Antoine Pevsner, em 1920. Apesar da rejeição das pinturas convencionais de cavalete e da ideia de arte pela arte a favor de desenhos utilitários destinados à produção em massa, a Abstração Construtivista encontra suas raízes na arte não utilitária de Kazimir Malevich e Pablo Picasso.
Em 1912 Picasso criou a sua primeira construção ou assemblage - um pedaço de metal e arame no formato de um violão, onde as formas angulares das pinturas e colagens transformaram-se em três dimensões.
Quando Vladimir Tatlin volta a Moscou depois de visitar Picasso em Paris em 1913, começou a construir contra-relevos - assemblages abstratas de metal industrializado, arame, madeira, plástico e vidro. Para Tatlin os contra-relevos ficavam numa zona intermediária entre a pintura e a escultura porque fugiam da estabilidade dos pedestais ou das paredes, ficando muitas vezes suspensos por arames estendidos de diversas maneiras no encontro de duas paredes. Ele dava muito mais ênfase ao espaço, do que com a matéria, e isso o fazia revolucionário.
Muitas construções, como o “Monumento para a Terceira Internacional” (1919), criado por Tatlin, são protótipos para arquitetura, cenários ou desenho industrial. Outros, influenciados pelas abstrações de Malevich, são objetos puramente abstratos e não funcionais; mas, no entanto, podem ter o mesmo propósito, como as esculturas cinéticas de Aleksandr Rodchenko que parecem antecipar modelos moleculares e celebram a racionalidade científica e a tecnologia da era da máquina.



III – CARACTERÍSTICAS:


HERMANO OPERÁRIO, PROTEGE TUA IRMÃ DA PROSTITUIÇÃO, 1923.


Em torno de 1914, TATLIN, inaugurou a arte geométrica russa:

CONSTRUTIVISMO porque sua característica principal era a “construção” da arte e não a sua “criação”.

Assim, a proposta primordial do Construtivismo refletia as alterações provocadas pela revolução industrial na vida cotidiana e artística e a defesa da arte funcional, que deve atender às necessidades do povo.
O movimento artístico adquire características próprias perseguindo o ideal de abstração, pois, despoja-se de qualquer alusão à natureza. Trata-se de uma arte anti naturalista e gera formas segundo uma ordem matemática, propondo uma arte abstrata, geométrica e autônoma.
Dessa forma, corresponde a uma ruptura total com a tradição da mímese ou da representação da realidade visível.
O grupo surge como uma decorrência do Futurismo italiano e suas imagens múltiplas sobrepostas para expressar a agitação da vida moderna e, do Cubismo francês, as formas quebradas. Rompe radicalmente com a arte do passado (da representação do real) e propõe uma nova linguagem plástico-pictórica: "O mundo da não-representação" (Malevitch).
Esses artistas levaram a arte a evoluir do representativo para o abstrato, acreditavam que poderiam construir uma utopia tecnológica por meio de seus projetos e defendiam que a arte precisa dar a ideia de revolução em andamento. Para tanto, ela deve fabricar objetos para o povo, e não apenas luxo para os ricos.
A pintura e a escultura precisam ser funcionais, por isso aparecem muito ligadas à arquitetura.
O Construtivismo apresenta a ideia de "construir" usando materiais naturais e sintéticos oferecidos pela industrialização. As obras se apresentam como objetos compostos de elementos geométricos em materiais diversos como metal, vidro, papelão, madeira, acrílico, plástico, dentre outros em obras tridimensionais.
Marca o início da preocupação da arte em criar objetos numa nova direção: a virtual, no sentido que a ênfase está mais no espaço vazio que na massa, na ausência que na presença. O objeto artístico se liberta de sua base, do pedestal, do paralelismo à parede e trabalha mais com o espaço como elemento da linguagem plástica.
Na pintura chega ao branco sobre o branco, ressaltando o objeto "tela" como elemento mais importante que representações feitas sobre sua superfície. Nesta acepção está denotada a valorização do objeto industrial frente ao artesanal e a consequente dessacralização do objeto artístico.
Os cubistas George Braque e Pablo Picasso foram os primeiros a optarem pela revelação da verdadeira tridimensionalidade em detrimento da sua representação. A primeira obra dentro destes parâmetros foi à construção cooperativa dos dois artistas intitulada "Guitarra" (1912), feita de folhas de metal e arame. Preferiram agregar ao plano da tela elementos reais do que continuar "imitando" a realidade, representando-os através da pintura, o que passou a ser considerado sem sentido uma vez que a tecnologia tinha inventado e aprimorado métodos de reprodução mais fiéis como a fotografia.
A tecnologia liberta a arte de seu compromisso social de representar.
Modifica-se totalmente o processo de criação. As obras de arte tornam-se verdadeiras homenagens à racionalidade científica da época e evidenciam a mais direta representação do impulso modernista no sentido de se adaptar à tecnologia da "era da máquina", por intermédio das facilidades advindas pelo avanço técnico e tecnológico.


ESCULTURA:


A escultura é a grande beneficiada pela contribuição construtivista, pois modifica a noção tradicional de "esculpir", o chamado método subtrativo (conceito de desgastar um material, por exemplo: escultura em pedra e madeira) ou de adicionar massa (escultura feita em argila, terracota, gesso, assim como também as técnicas de vazar bronze e massas em formas).
A gênese da escultura construtivista é determinada pelo seu material. O destaque dado ao material coloca questões também de ordem psicológica, pois passa a existir o diálogo do artista com o material e com o espectador, já que carrega significados em suas características confrontadas pelas vivências do artista, sua memória emocional e sensória.


CINEMA:


No cinema, os temas resumem-se às etapas da Revolução Russa e a seus ideais. O teórico e cineasta Serguei Eisenstein (1898-1948), diretor de "A Greve" (1924) e "Outubro" (1927), é o principal representante.



Seus filmes pretendem induzir ao debate de ideias, e a montagem das cenas explora o contraste das imagens. Sua obra-prima, “O Encouraçado Potemkin" (1925), é uma homenagem aos 20 anos do levante popular russo de 1905, precursor da revolução.


Em 1921, o cineasta Dziga Vertov (1895-1954) funda o grupo Kinoglaz (cinema-olho), que produz documentários sobre o cotidiano com filmagens ao ar livre e cuidadosa montagem.


Entre suas principais obras estão "A Sexta Parte do Mundo" (1926) e "Um Homem com a Câmera" (1929).


TEATRO:

O Construtivismo no teatro reúne o estilo de cenografia e encenação desenvolvido por Vsévolod Meyerhold (1874-1940) a partir dos anos 20. O texto tem menos importância que os elementos não-verbais, como a expressão corporal. Cenários elaborados por pintores invadem a área da platéia e quebram a perspectiva convencional. As cenas são despojadas, e no palco há apenas os elementos indispensáveis ao trabalho dos atores.


VESTIMENTA CONSTRUTIVISTA:


As listras, símbolo da marginalidade, conhecida como “O pano do diabo” desde os hebreus até o século XX com Picasso e a irreverência dos seus trajes, submete a ideia do malandro, da prostituta e dos prisioneiros.
As listras reafirmam que o corpo humano é pensado com regras e como uma máquina, como comprova os uniformes de sanatórios e presídios.



FOTOGRAFIA CONSTRUTIVISTA:



O Construtivismo é revolucionário e a foto é construída. O artista trabalha através de montagem: reúne pedaços de negativos (fotograma) para produzir uma imagem que não existe na natureza.
O “artista fotógrafo” quase já não usa as mãos, como fazia o pintor, mas sim opera a máquina e submete o filme a processos químicos.


O CONSTRUTIVISMO E O NEOCONCRETISMO BRASILEIRO:


O Construtivismo influenciou várias correntes na história da arte moderna. O movimento Neoconcreto, nascido no Brasil por volta dos anos 60, surge como uma reação ao concretismo racionalista de exploração de ilusões óticas e reaproxima-se da vanguarda russa na procura de um novo objeto para arte.
O Neoconcretismo brasileiro, derivado da escola de Ulm, na Alemanha já não lida em nenhum grau com o problema da representação, mas com o de emprestar uma transcendência à tela mesma como objeto material, segunda palavras de Ferreira Gullar (1985). Provavelmente seu maior legado foi de relacionar a arte com a ciência e a tecnologia. A abordagem racional inspirou as esculturas cinéticas, o minimalismo, a pintura concreta (que parece ser feita por máquina), abstração geométrica e a arte tecnológica.



DO CONSTRUTIVISMO À ARTE TECNOLÓGICA:


Esta arte do fim deste século se assemelha também do construtivismo por seu amor ao avanço científico e tecnológico, além da tendência ideológica à democratização. A arte vem de encontro ao seu público, rompendo com sistemas de poder como o "sistema das artes": composto por marchands, galerias, curadores, museus, etc. "Esta arte partilhada com as máquinas entra nas casas via satélites, telefones, oferecendo-se para ser recebida, modificada e devolvida (...). Comunidades virtuais on-line reúnem indivíduos por afinidade, em que a arte também afirma sua liberdade" como se expressa Diana Domingues (1997).
Enquanto que a arte tradicional privilegia a permanência da obra e procura fixar uma ideia sobre um suporte, a arte eletrônica trabalha com suporte virtual, a imaterialidade, a mutabilidade, a efemeridade, a conectividade, interatividade e colaboração.
Na arte tradicional o espectador é colocado como diante de uma "janela" pela qual ele assume uma atitude contemplativa; na arte interativa, o espectador se posiciona diante de uma "porta aberta" por onde ele pode passar e interagir, colaborando com o artista.
As novas tecnologias remodelam a sociedade como um processo irreversível. Só o artista pode enfrentar impunemente o efeito eletrônico porque é especialista em causar rupturas e transgressões, impondo o papel da análise conceitual dos fenômenos que ocorrem na sociedade, provocando uma tomada de consciência.

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