I – DADOS CRONOLÓGICOS:
A arte barroca desenvolveu-se no século XVII, período de grandes mudanças na Europa da Idade Moderna.
O período entre 1600-1750 conseguiu casar a técnica avançada e o grande porte da Renascença com a emoção, a intensidade e a dramaticidade do Maneirismo, fazendo do estilo Barroco o mais suntuoso e ornamentado na história da arte.
Podemos dividir o Barroco em dois gêneros:
I – Barroco dos países baixos, principalmente na Hollanda (doméstico, leigo, sem finalidade litúrgica, em virtude de serem países protestantes).
II – Barroco monumental (grande) – arte institucional que acontece nos interiores das igrejas e nos palácios; refletindo o poder político igual ao poder teológico (Roma) e retratando os países católicos (Rubens e Velásquez)
II – CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL:
Para melhor entendermos os acontecimentos daquele século, precisamos buscar suas origens em fatos do século XVI, dos quais um dos mais importantes foi a Reforma Protestante, que se iniciou na Alemanha e expandiu-se por muitos outros países. Ao barroco, como estilo artístico, vinculam-se diretamente acontecimentos históricos, religiosos, econômicos e sociais de grande significação para a história da humanidade e que devem ser pelos citados aqui. Entre eles, destaca-se o início dos governos absolutistas europeus com especial ênfase para a França, Áustria e a Alemanha, quando os reis eram considerados como senhores absolutos, com amplos poderes adquiridos por direito pessoal, realizada tanto pela pintura e escultura quanto pela arquitetura dos majestosos palácios que erigiam.
Por outro lado, após a revolta de Lutero, que resultou na Reforma Protestante, a Igreja Católica foi obrigada a rever suas atitudes quanto aos principais dogmas e ao seu próprio fundamento, diminuindo os abusos do poder dos papas e dos religiosos em geral, como foi determinado pelo Concílio de Trento.
A REFORMA E A CONTRA-REFORMA:
A Reforma Protestante foi um movimento de contestação à doutrina da Igreja Católica e teve como principal líder o alemão Martinho Lutero. Apesar de ter sido um movimento religioso, provocou mudanças em outros setores da cultura européia. Favoreceu, por exemplo, a formação dos Estados nacionais, ao propor que cada nação se libertasse do poder do papa.
A Igreja Católica, porém, logo se organizou contra a Reforma. Na verdade, desde o início do século XV havia essa reação espiritual, mas apenas no século XVI essa reação viria a constituir a Contra-Reforma.
Com a ação das grandes ordens religiosas, como a Companhia de Jesus, a Igreja Católica retomou sua força e construiu novas e grandes igrejas.
A arte voltava a ser vista como um meio de ampliar a influência católica.
Á esses dois marcos: o Absolutismo e a Contra-Reforma podem ser ainda somados outros eventos importantes como a Revolução Comercial, resultante do ciclo das grandes navegações que modificou os sistemas econômicos até então vigentes e favoreceu as descobertas de novas terras.
A própria cultura barroca seria instrumento ideológico de uma classe poderosa, a burguesia, que via naquela um agente de seu interesse, principalmente na Holanda, Bélgica e França.
Assim, a opinião pública, pré-condicionada, foi manipulada por inúmeros artifícios, notadamente nas artes plásticas, no teatro e nos festivais religiosos.
As reformas religiosas foram:
- Função do sacerdote (líder, dízimo, impostos dos governantes): poder espiritual e temporal.
- Calvino corta com a Igreja e obtêm apoio dos governantes (evitar mandar dinheiro para Roma e construir governos locais).
- O sacerdote protestante não tinha o poder de perdoar ninguém, o perdão tem que vir da própria consciência do pecador e buscavam a ensinar a “salvação” através das leituras realizadas na Escola Dominical. O pecador reconhece a sua culpa com base nos ensinamentos religiosos. As traduções eram interpretativas, subjetivas e buscavam o enriquecimento pessoal pela graça divina, onde o trabalho é o caminho da salvação e da continuidade da obra divina.
- O sacerdote não tinha acesso às escrituras. Ele era custeado pela comunidade, pode casar-se e o dízimo era recolhido no hollerith e controlado pelo estado.
- Com o enfraquecimento da nobreza e o fortalecimento da burguesia, o catolicismo centrado em Roma reagiu. O Concílio Tridentino visava conter a debandada e expandir os números de fiéis.
- Na época a Península Ibérica dominava o mundo, ao invés de buscar àquele que demandou, buscou na Contra-Reforma (Santo Ofício da inquisição) mais na Companhia de Jesus representada pelo Pe. Inácio de Loyola (espanhol) através da catequese, trabalhando em troca da salvação.
- Para garantir o acesso da comunidade negra, associaram as imagens africanas com o catolicismo.
III – CARACTERÍSTICAS:
A era barroca começou na Itália, logo se espalhou por outros países da Europa e chegou à América, onde assumiu peculiaridades resultantes das diversas condições geográficas, históricas e sociais do novo meio para o qual fora transplantada pelos espanhóis e portugueses.
Em Roma, os papas se dispuseram a financiar magníficas catedrais e grandes trabalhos, para manifestar o triunfo da fé católica depois da Contra-Reforma, e para atrair novos fiéis com a dramaticidade das belíssimas obras de arquitetura.
Na França, onde os monarcas absolutistas reinavam por direito divino e gastavam somas enormes para se glorificar, os palácios se tornavam ambientes de encantamento, projetados para impressionar os visitantes com o poder e a glória do rei.
A riqueza proveniente das colônias sustentava o luxo do mobiliário, dos jardins, e a arte ostentada em palácios como Versailles, de Luís XIV.
Embora a arte barroca seja voltada à arte religiosa, a pintura francesa elegia temas profanos, derivados do modelo da Grécia e de Roma, como as tranquilas paisagens habitadas por deidades pagãs, de Poussin.
Em países católicos, como Flandres, a arte religiosa florescia, ao passo que nas terras protestantes do norte da Europa, como a Inglaterra e a Holanda, as imagens religiosas eram proibidas.
Em consequência, a pintura tendia a naturezas-mortas, retratos, paisagens e cenas do cotidiano. Pela primeira vez, à parte do retrato, essas categorias assumiam um lugar significativo cujos temas eram extraídos da Bíblia, da História Clássica e da Mitologia.
Os mecenas da arte não eram apenas os mercadores prósperos, ansiosos para exibir sua riqueza, mas também os burgueses de classe média, que compravam quadros para enfeitar a casa. Isto é especialmente visível na pintura.
Utilizando-se do escorço (reduzir a perspectiva); claro versus escuro (luz versus sombra); exagerar o efeito plástico de estranhamento; carga expressiva e dramática; expressividade das figuras; patético; emoção; teatral; proliferação dos gêneros; temas múltiplos e com objetivo principal de chocar as pessoas (“sangue jorrando todo mundo conhece”).
Arte violenta com personagens sensuais, fortes que apresentam ambiguidade despertando o desejo e o difícil entendimento para reter o observador (retórica – arte de persuadir).
“Arte versus religião versus política” traduzindo o pensamento teológico-político (muda o patrão – passa ser o burguês, o mecenas, e a arte passa representar o dia a dia).
Heinrich Wölfflin um dos primeiros estudiosos a pesquisar sobre a estética barroca, apresentou cinco traços genéricos principais contrapondo-o ao Renascimento:
- o privilégio da cor e da mancha sobre a linha;
- da profundidade sobre o plano;
- das formas abertas sobre as fechadas;
- da imprecisão sobre a clareza;
- da unidade sobre a multiplicidade.
O recurso favorito dos artistas barrocos para a criação de um espaço dinâmico e profundo foi o emprego de primeiros planos magnificados com objetos aparentemente bem ao alcance do observador, justapostos a outros em dimensões reduzidas num plano de fundo muito recuado. Também foi comum o uso do escorço pronunciado e de perspectivas multifocais. Segundo Hauser, a tendência barroca de substituir o absoluto pelo relativo, a limitação pela liberdade, é expressa mais nitidamente no uso de formas abertas.
Numa composição clássica, a cena representada é um todo auto-suficiente e autocontido, todos os seus elementos são inter-relacionados e interdependentes, nada é supérfluo ou casual e tudo veicula um significado preciso, enquanto que uma obra barroca parece mais frouxamente organizada, com vários elementos parecendo arbitrários, circunstanciais ou incompletos, produtos de uma fantasia que adquire valor por si mesma e não pretende ser essencial ao discurso visual, tendo antes um caráter decorativo e improvisatório.
Além disso, na forma clássica a linha reta, o equilíbrio e as coordenadas ortogonais são elementos fortes na articulação da composição, mas no Barroco a preferência passa para as diagonais, a assimetria, as formas curvas e espiraladas, e um desprezo pela orientação provida pelos limites físicos da obra, se organizando livremente pelo espaço disponível e parecendo poder continuar para além da moldura. Esses mesmos traços falam pela relativa pouca clareza na apresentação das cenas, sendo mais difícil do que em uma obra classicista compreender o conjunto de uma só vez. Paradoxalmente, apesar dessas características contribuírem para dar à obra barroca um aspecto mais difuso, fragmetário e complexo, pareceu a Wölfflin que havia entre os barrocos um forte desejo de atingir uma unidade sintética em suas obras, coordenando os elementos díspares na direção de um efeito final de conjunto unificado e refletindo a busca por princípios compositivos mais eficientes.
Ao contrário do Renascimento, que buscava criar através da arte um mundo de formas idealizadas, purificadas de suas imperfeições e idiossincrasias individuais, dentro de uma concepção fixa do universo, durante o Barroco a mutabilidade das formas e da natureza e o dinamismo de seus elementos se tornaram evidentes. Ainda que os modelos do Classicismo idealista tenham permanecido uma referência importante, em sua interpretação barroca a observação da natureza como ela é, e não como ela deveria ser, ganhou peso e deu à obra uma feição em muitos pontos anti-clássica, pela sua ênfase na emoção, no espetaculoso e no teatral, pelas contorções dramáticas das figuras, pelo registro das formas com suas imperfeições naturais e pela liberdade concedida ao artista para experimentar soluções individuais. Ciavolella & Coleman pensam que longe de expressar uma rebelião anárquica contra a tradição, as tensões manifestas na arte barroca foram tentativas de se conciliar a humanidade com o mundo transcendental, presente mas indistinto por virtude de sua própria transcendência.
As construções monumentais erguidas durante o Barroco, como os palácios e os grandes teatros e igrejas, e mesmo os ambiciosos planos barrocos de reurbanização de cidades inteiras, buscavam impactar os sentidos pela sua exuberância, opulência e grandiosidade, propondo uma integração entre as várias linguagens artísticas e prendendo o observador numa atmosfera catártica, retórica e apaixonada. Para Sevcenko, nenhuma obra de arte barroca pode ser analisada adequadamente desvinculada de seu contexto, pois sua natureza é sintética, aglutinadora e envolvente
Mas todas estas características têm o problema de serem elas mesmas dificilmente definíveis com clareza, são aplicáveis para alguns outros estilos além do Barroco, e a ausência de uniformidade em seu uso entre os historiadores da arte complica muito a compreensão do estilo como um movimento unificado; antes, parece atestar que pouca unidade existiu em tudo o que comumente é chamado em bloco de "arte barroca". Além disso, o conceito de "barroco" tem sido transportado para áreas alheias à arte, como a política, a psicologia, a ética, a história e a ideologia social, fazendo dele mais do que um estilo artístico, mas um período histórico e um amplo movimento cultural. Parte desse problema de definição do que é o Barroco deriva da grande variedade de abordagens entre as várias regiões em que foi cultivado e entre os artistas individualmente.
Como lembrou Braider, ainda que em certos lugares o Barroco tenha se revelado bastante "típico", como por exemplo na Itália e Espanha, a identificação do estilo se torna mais árdua na Inglaterra, Alemanha, França e nos Países Baixos, a não ser que nestes locais todo o conceito padrão de Barroco seja adaptado, mas então se assume a posição de que o Barroco, como formulado inicialmente pelos italianos, não foi um estilo universal, e sim limitado a contextos, regiões e artistas específicos, ou se reconhece que sua definição ainda não foi estabelecida clara e satisfatoriamente.
IV – ORIGEM DO “BARROCO”
BARROCO: originalmente, uma palavra portuguesa que significa uma pérola de formato irregular ou, como alguns historiadores asseveram, deriva do italiano “baroco”, um obstáculo na lógica escolástica medieval. Num ou noutro caso, a palavra circulou num sentido metafórico quando significava qualquer ideia complexa ou um processo tortuoso e intricado de pensamento.
Denis Diderot, autor francês do século XVIII e crítico de arte, usou a metáfora “pérola” igual a “coisa” imperfeita no sentido etimológico. A imagem não é completa, sempre faltando um pedaço (pernas, braços) gerando a incompletude.
Em 1771, o “Dictionnaire de Travaux” deu como significado de Barroco: “na pintura, um quadro ou figura...em que as regras de proporção não são observadas, e tudo é representado de acordo com o capricho do artista”.
Em 1797, o crítico italiano Milizia escreveu: “O Barroco é a última palavra em bizarria; é o ridículo levado a extremos...”
MÚSICA BARROCA
A música barroca é o estilo musical correlacionado com a época cultural homônima na Europa, que vai desde o surgimento da ópera no século XVII até a morte de Johann Sebastian Bach, em 1750.
Trata-se de uma das épocas musicais de maior extensão, fecunda, revolucionária e importante da música ocidental, e provavelmente também a mais influente.
As características mais importantes são o uso do baixo contínuo, do contraponto e da harmonia tonal, em oposição aos modos gregorianos até então vigente. Na realidade, trata-se do aproveitamento de apenas dois modos: o modo jônio (modo “maior”) e o modo eólio (modo “menor”).
Pela primeira vez na história, música e instrumento estão em perfeita igualdade.
Nesse período a instrumentação atinge sua primeira maturidade e grande florescimento. Pela primeira vez surgem gêneros musicais puramente instrumentais, como a suíte e o concerto. Nesta época surge também o virtuosismo, que explora ao máximo o instrumento musical. Johann Sebastian Bach e Dietrich Buxtehude foram os maiores virtuoses do órgão. Jean Philipe Rameau, Domenico Scarlatti e François Couperin eram virtuoses do cravo. Antonio Vivaldi e Arcangelo Corelli eram virtuoses no violino.
A época das orquestras de câmara
O barroco foi á época de máximo desenvolvimento de instrumentos como o cravo e o órgão, mas também surgiram várias peças para grupos pequenos de instrumentos, que iam de três até nove instrumentistas.
Particularidades do estilo
Desenvolvimento extenso do uso da polifonia e contraponto. Os acordes tem uma ordem hierárquica em suas progressões tonais, tanto funcional como cadencial, que definem a tonalidade progressiva do barroco musical. A harmonia era acompanhada e definida pelo basso contínuo criando uma necessidade do intérprete de ser um virtuoso na arte do período para não deixar a musicalidade se desviar do aspecto tonal da época — visto que quase sempre o basso continuo não era escrito e chamava pela improvisação, dando então o dom de virtuosidade a quem melhor improvisasse.
O contraponto era intenso, especialmente na forma de tema e variação. A modulação tonal na música barroca é frequente. Devido a incapacidade física de um cravo prover dinâmicas variadas a arte da música barroca voltava a habilidade da performance em termos de articulação. Entre outras particularidades dos estilos desenvolvidos na música barroca, incluem-se:
• Monodia, homofonia com uma voz diferente cantando por cima do acompanhamento, como nas árias italianas; expressões mais dramáticas, como na ópera.
• Combinações de instrumentações e vozes mais variadas em conjunto a oratórios e cantatas.
• Notes inégales (Francês para "notas desiguais") usadas. Técnica barroca que envolvia o uso de notas pontuadas que eram usadas para substituir notas não pontuadas, dentro de um mesmo tempo que alternavam entre duração de valores longos e curtos.
• Ária (curta peça cantada em uma cantata, ou instrumental na suíte).
• Ritornello (estilo que contém breve passagens instrumentais entre os versos cantados).
• Concertante (o estilo que contrasta entre a orquestra e os instrumentos solos, ou pequeno grupo de instrumentistas);
instrumentação precisa anotada (no período anterior, a Renascença, a partitura raramente listava os instrumentos).
• Notação musical escrita idiomaticamente melhor para cada instrumento específico.
• Notação musical para interpretação virtuosa, tanto instrumental como vocal.
• Ornamentação
• Desenvolvimento profuso na tonalidade da música ocidental (escala maior e menor).
• Cadenza, uma seção ad lib nas cadências das partituras para o virtuoso improvisar.
Estilos
Compositores barrocos escreveram em diversos gêneros musicais; incluem-se diversos estilos inovadores para a época. A ópera foi inventada na Renascença, mas foi no Barroco que Alessandro Scarlatti, Handel e outros desenvolveram grandes obras. O oratório chegou a grande popularidade com Bach e Handel; ambos a opera e o oratório usavam forma musical semelhantes, tal como o uso da ária da capo.
Na música litúrgica, a Missa e os motetos não foram tão importantes, mas a cantata prosperou, principalmente nos trabalhos de Bach e outros compositores protestantes. Música para o organista virtuoso floriu, com o uso das tocatas, fugas, e outros trabalhos..
Sonatas instrumentais e suítes para dança foram escritas para instrumentos individuais, para grupos de música de câmara, e pequenas orquestras. O concerto emergiu, tanto na forma para o intérprete solista como para orquestra, assim como o concerto groso qual um grupo pequeno de solistas criam simultaneamente um contraste com um grupo maior que intercalam suas partes com perguntas e respostas do diálogo melódico. A Abertura francesa com o seu típico contraste de seções rápidas e outras lentas, adicionaram grandeza à muitas cortes nas quais eram apresentadas.
As obras para teclado eram algumas vezes escritas para grupos maiores. Novamente, existe um grande número de obras de Bach escrita tanto para os instrumentos solos, como concertos e o mesmo tema se apresenta em arranjos de concerto para orquestra, ou suíte. Grandes trabalhos de Bach que culminaram na música da Idade Barroca incluem: o Cravo 'bem temperado', as Variações Goldberg, e a Arte da Fuga.
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