terça-feira, 10 de agosto de 2010

Monet - Impressionismo


Impressionismo puro.


I - CLAUDE MONET:

“as cores inconstantes da natureza”


“A palavra “impressionismo” foi criada para ele, e é mais apropriada a ele do que a qualquer outro.” (Félix Fénéon)

CLAUDE OSCAR MONET nasceu em Paris, em 14 de novembro de 1840, numa família de modestos comerciantes. Em 1845, a família se mudou para Le Havre.
Claude revelou bem cedo seu talento natural para o desenho. Seus cadernos escolares estão cheios de esboços e caricaturas de colegas e professores.
A princípio, Monet desenhava quase que apenas para distrair-se, embora não lhe faltasse talento. Mas por fim seu amor pelo desenho o levou a ter aulas com mestres como Ochard, que logo reconheceu o dom incomum de Monet.
Outro mestre, Eugène Boudin, dizia: “Estude, aprenda a ver e a pintar, a desenhar e a produzir paisagens”. O rapaz, porém, continuava a desenhar caricaturas.
Mesmo relutante assim, acabou por aceitar o conselho e começou a pintar. Boudin muitas vezes o levava a longas excursões, nas quais os dois se deleitavam com as tonalidades da luminosa atmosfera ao ar livre. Do ponto de vista artístico, essa foi uma época decisiva, na qual Monet começou a considerar a cor como o mais importante elemento da pintura.
“Compreendi de fato a natureza” comentaria o artista mais tarde, “e também aprendi a amá-la.”
Em 1859 o jovem provinciano decidiu tentar a sorte na capital. Paris era também a capital da arte, sede do Salão, nome pelo qual os artistas da época se referiam à exposição oficial promovida todo ano pelo governo.
Em Paris, Monet vivia sentado ao canto de uma mesa na Brasserie dês Martyrs e desenhava caricaturas (com as quais conseguia o dinheiro das refeições), mas sempre atento às discussões acaloradas que o cercavam.
Em 1862 Monet começou a freqüentar o estúdio de Marc-Charles-Gabriel Gleyre, onde conheceu Bazille, Renoir e Sisley. Mas sua natureza impaciente não lhe permitiria ficar estudando com Gleyre por muito tempo. Partiu para Chailly, aldeia no meio da floresta de Fontainebleau. Lá, vagando pelas trilhas da mata e aspirando o cheiro forte das árvores, vivia no exultante senso de liberdade que tanto amava. A solidão e os ritmos naturais condiziam com seu temperamento e estimulavam sua imaginação e criatividade. Observava, desenhava, pintava.
Em 1865, Monet alugou com Bazille um pequeno estúdio em Paris. Ali, deu os retoques finais em dois quadros que exporia no próximo Salão: O Estuário do Sena e Ponte sobre o Hève na Vazante. Os dois trabalhos foram aceitos e, pela primeira vez, Monet pode ler seu nome na Gazette dês Beaux-Arts.
Na mostra oficial, os dois quadros fizeram sucesso. Um crítico chegou a dizer que eles traziam nova luz e ar fresco ao Salão. Entre aqueles que nunca tinham ouvido falar em Monet havia os que o confundiam com Manet, que não gostou nada de ser elogiado por obras de outro pintor.
No Salão do ano seguinte expor: Camille ou O Vestido Verde e A Floresta de Fontainebleau., recebendo elogios inclusive de Émile Zola e de Manet de quem se tornara amigo.
Monet mudou-se para Ville-d’Avray e tentou algo novo: um quadro de grandes dimensões pintado por inteiro ao ar livre, no qual retrataria quatro mulheres num jardim. Camile, sua esposa, serviria de modelo para as quatro. Tão grande era a tela que Monet teve de baseá-la numa valeta que escavou para isso, e que ele ia afundando progressivamente à medida que o trabalho avançava; só assim podia manter estável o quadro e, ao mesmo tempo, alcançar-lhe a parte superior. É provável que o pintor não tenha terminado Mulheres no Jardim ao ar livre. Mesmo assim, o júri do Salão de 1867 não a aceitou


Em 1868, Navio Deixando o Cais de La Havre foi aceito no Salão, mas recebeu comentários desmoralizantes de um crítico.
Já Barcos de Pesca receberia medalha de prata na Exposição Marítima Internacional de La Havre, como prêmio por sua “incontestável sinceridade de execução”.
Passando por grande crise financeira, Monet recebeu apoio de um patrocinador generoso, Monsieur Gaudibert, que o ajudou a encontrar nova moradia e estúdio em Paris. Nem sempre o pintor teria o que comer, mas pelo menos agora não lhe faltava lugar para trabalhar. Também tinha amigos, entre eles Renoir, com o qual pintou lado a lado um mesmo tema, o dos quadros aos quais deram o mesmo título, La Grenouil-lère.
Nesse ano eclodiu a guerra franco-prussiana, conflito que traria tumultuosas dificuldades para a França nos anos seguintes. Muitos artistas deixaram o país durante esse período, entre eles Monet, que se refugiou com a família em Londres.
Ali encontraram segurança, mas não alívio para a miséria, agora agravada pelo isolamento.
Visitava museus na companhia de Pissarro, outro refugiado, e conheceu o marchand Paul Durand-Ruel, para quem começou a trabalhar.
Passou algum tempo em Zaandam, onde transpôs para a tela o colorido de canas campestres como a de Moinho perto de Zaandam, quadro datado de 1871.


Após a turbulência da guerra, Monet decidiu mudar-se para Argenteuil, onde o atraía o Sena. A paisagem o fascinava, como também a outros impressionistas. Sisley, Manet e Renoir, entre outros, muitas vezes foram pintar em Argenteuil na companhia de Monet.
São desse período algumas de suas obras mais famosas, entre elas Regata em Argenteuil com Bom Tempo, A Ponte Ferroviária em Argenteuil, A Ponte de Argenteuil e O Barco-Estúdio em Argenteuil.


Monet passava horas nas margens e nos jardins observando a luz do sol que vinha acender vermelhos, verdes, azuis.
Outro dois produtos desse fecundo período são Camille Monet na Janela, Argenteuil, de 1873, e A Família no Jardim em Argenteuil, de 1875.
Em visita à Holanda, a paleta de Monet assumiu nova escala cromática, como “uma harpa com acordes de luz”. As telas mostravam agora uma luminosidade diferente, que lhes dava ainda mais vida.
Experimentou a divisão de tons, usando pequenos toques de cor pura justapostos, para assim representar a luz de modo mais vibrante do que com a mera mistura das tintas na paleta. Usou essa técnica, motivo então de debate, numa marinha pintada em Le Havre.


Chamou-a de Impressão: Sol Nascente e incluiu-a numa exposição coletiva aberta em 15 de abril de 1874.
Um crítico derivou desse título o epíteto sarcástico – impressionistas – com o qual tencionava desmoralizar todo o grupo de artistas inovadores. O nome pegou, embora aos poucos viesse a perder sua conotação depreciativa.
Em Argenteuil conheceu um rico negociante, Monsieur Hoschédé, que lhe prestou ajuda financeira e ainda lhe comprou alguns quadros.
Retornou à Paris e descobriu luz e cores na capital cinzenta e transpôs na tela A Rua Montorgueil Ornamentada, que representa uma rua embandeirada para o feriado de 30 de junho.
Hoschédé foi à falência, ainda assim o negociante não abandonou de todo seu protegido. Convidou-o a partilhar sua residência em Vétheuil. As duas famílias moraram juntas durante o outono de 1878, mas o convívio resultou em drama, ao mesmo tempo em que o pintor se sentia cada vez mais atraído por Alice, esposa de Hoschédé, Camille adoeceu e faleceu logo depois.
Com o pesar agravado por remorso, mais a preocupação com os dois filhos pequenos, Monet buscava derivativo no trabalho intenso. Produziu naturezas-mortas e o famoso, Ruptura do Gelo perto de Vétheuil, que representa efeitos de um inverno rigoroso no Sena.
Em junho de 1880 a revista L aVie Moderne promoveu uma exposição de Monet, com resultados financeiros surpreendentemente animadores. E passado o inverno, as telas voltaram a ganhar a luminosidade de antes. Primavera e O Pomar de Maçãs em Vétheuil mostram ricos reflexos de verdes e luminosas vibrações amarelas.
Em 1883, Monet mudou-se para Giverny, na Normandia. Era uma aldeia agradável, aninhada entre colinas, no vale onde o Epte aflui ao Sena.
“Espero pintar obras primas aqui”, escreveu ele a um amigo, “pois gosto muito desta paisagem.”
Percorria trechos extensos do grande rio, ao longo de lavouras e pastagens e também das margens arborizadas que alinhavam choupos. Eram paisagens ideais para um pintor tão interessado em cenários naturais.
Viajou para vários lugares em busca de novos temas. Na maioria dessas viagens sua estada era curta, exceto em Bordighera, onde mantinha extensa correspondência com Alice: “Você precisa saber de uma vez por todas que você e meus filhos são a minha vida e em cada tema que pinto...digo a mim mesmo que devo fazê-lo bem, de modo que você veja onde estive e como é o lugar.”
“Às vezes sinto descontrolado receio de usar os tons de que preciso...a luz é terrível”, escreveu ele numa carta. Em outra ocasião, porém, ele escreveu: “Agora me sinto bem aqui, atrevo-me a aplicar os tons de vermelho e azul; é um país de fadas, delicioso, espero que a agrade”.
Em 1884, Monet voltou a Giverny, mas vivia atormentado por crises morais e angústia, além de dificuldades e problemas de ordem prática. Ele às vezes chegava a perder todo o interesse pela pintura. Essa ambivalência de sentimentos durou até a morte de Hoschédé, em 1891. No ano seguinte, Monet e Alice se casaram.
A partir daí a vida do pintor serenou um pouco e pode dedicar-se aos estudos de composições que chamava de “série”, o mesmo motivo sob diferentes efeitos de luz.
Como a luz mudava constantemente a aparência das paisagens e objetos, ele tinha de trabalhar com rapidez.
Monet descreveu um exemplo:
“Comecei a pintar alguns montes de feno que já tinham me chamado a atenção. Formavam um grupo magnífico, a menos de dois passos daqui. Vi então que a luz tinha mudado. Pedi à minha enteada que corresse à casa e me trouxesse outra tela. Mas pouco depois que ela a trouxe, a luz tinha mudado outra vez. Então eu lhe disse; “Outra! Traga-me outra” E não trabalhei em nenhuma delas a menos que o efeito fosse o pretendido. Só isto. Não é muito difícil de entender”.


Fazer uma série tonou-se para ele um método de trabalho, demonstrado na famosa série de quadros das catedrais de Rouen, produzida entre 1892 e 1894.
A maioria das mais lindas criações do período final do artista foi pintada nos arreadores de Giverny. Dali, em 1899, surgiu às várias versões de Nenúfares. Foram os primeiros quadros em que ele retratou a famosa lagoa que mandara escavar na divisa da propriedade e preenchê-la com água desviada do Epte.
A lagoa, com sua pequena ponte de estilo japonês, glicínia florida e admiráveis nenúfares, dominou nesse período o temário da pintura de Monet.
Em 1903, embora continuasse a pintar com intensidade, ele passou a concentrar toda a sua atenção na superfície simples da lagoa, com suas flores flutuantes, de coloração delicada.
Os quadros, quarenta e nove ao todo, geraram abrupto sucesso quando expostos na galeria de Durand-Ruel.
Contudo, dinheiro, celebridade e prestígio chegavam-lhe um tanto tarde. Os problemas de visão que Monet já tivera antes começaram a piorar, com ameaça real de cegueira. Acrescentou-se a isso, em 1911, o pesar pelo falecimento de Alice, que também vinha vivendo entristecida pela morte prematura de uma das filhas.
Durante esse período, Monet pareceu ter perdido todo o interesse pela vida. Nem a pintura o confortava.
Em 1908, em Veneza, Monet pintou os delicados ornatos arquitetônicos de igrejas e palácios do Grande Canal. Num desses quadros, O Grande Canal (ou A Igreja de Santa Maria della Salute, Veneza), o templo parece emergir dos reflexos da água.
Em 1912, Veneza parecia retribuir a bem-sucedida exposição de vinte e nove de seus quadros na Galleria Bernheim, da famosa cidade, veio aliviar a depressão de Monet. Outro fator de ânimo foi à amizade do influente político Georges Clémenceau, que incluiu Monet entre os interesses que tinha no mundo intelectual e artístico de seu tempo.
Animado por Clémenceau, Monet construiu em Giverny um grande estúdio em que, num tipo especial de cavalete móvel, mandou montar telas em chassis de quatro metros de largura e dois metros de altura. Usando estudos que fizera noutros tempos, pintou com serenidade os nenúfares banhados pela luz de um delicado pôr-do-sol.
O trabalho continuou durante o transcurso da Primeira Guerra Mundial. Encerrado o conflito, Monet ofereceu a obra ao povo francês, com intermediação de Clémenceau, que era então primeiro-ministro.
Embora Monet não tivesse terminado os painéis, o governo francês ofereceu-lhe alta soma por Mulheres no Jardim.
Foi o seu reconhecimento na carreira e na vida como homem e pintor, último sobrevivente do movimento impressionista.
Em 1923 sua atividade se interrompeu, porque o pintor estava quase cego. Operaram-lhe com êxito o olho direito, mais afetado do que o esquerdo.
Em 1925, Monet escreveu que trabalhava com entusiasmo. De fato, conseguiu terminar os grandes painéis de nenúfares destinados à rotunda do Salão.
Em 6 de dezembro fecharam-se para sempre os olhos pelos quais até hoje se podem ver extraordinários efeitos de luz e cor da natureza.
Não houve cerimônia oficial nem funeral solene. Apenas singela homenagem dos aldeões de Giverny ao artista que celebrizou o lugar.


II – CARACTERÍSTICAS:

“O mais popular dos impressionistas, Monet (1840-1926), por suas experiências com tintas, cores e luz, tem sua obra como um ponto de partida para a arte abstrata. Típico integrante do movimento impressionista, que busca retratar especialmente ambientes externos e naturais, Monet consagrou-se como o pintor dos jardins aquáticos, por conta de sua residência em Giverny, na França.” (FGV)

A maior parte do verão de 1888 foi vivida por Monet em Giverny, onde havia começado, no ano anterior, sua série de medas de feno. Se os feixes sobre os campos já atraíam os olhos do impressionista, um magnetismo mais forte exerceu a vegetação subaquática, serpenteando ao sabor das correntes fluviais.
Monet “queria pintar água com a erva a ondular por baixo da superfície, pois “é um aspecto maravilhoso, mas uma pessoa fica doída quando tenta fixar aquilo” (UFO, p.152).
O pintor audacioso consegue transpor “essa doidice” em duas telas: La Barque (1887) e Em Canot sur l’Epte (1890).
“Comecei algo que é impossível fazer: água com plantas que se mexem no fundo...É uma loucura quere fazer isso. É muito agradável quando se observa, mas dificílimo pintar. No entanto eu continuo insistindo. Estas paisagens aquáticas tornaram-se uma obsessão. Preciso transmitir o que sinto”. (Fragmento da carta de Monet, 1890 a Geffroy).

TEMAS: Paisagens marinhas, séries sobre campos de papoulas, rochedos, montes de feno, a Catedral de Rouen; fase final da obra: nenúfares aquáticos quase abstratos.

CORES: Tons solares, cores primárias puras em pinceladas uma ao lado da outra (as sombras eram cores complementares em pinceladas uma ao lado da outra).

ESTILO: Dissolvia a forma em luz e clima, contornos suaves, ar impressionista clássico.

RECOMENDAÇÃO: “Tente esquecer que objetos têm à sua frente, árvores, casa, campo ou o que for”. Pense apenas: “Aqui está um quadradinho azul, aqui uma forma cor-de-rosa, aqui uma faixa amarela e pinte-a exatamente como você a vê.”




III – OBRA:


CANOA SOBRE O EPTE (1890)


Óleo sobre tela: 133 X 145 cm


“Canoa sobre o Epte” apresenta um enquadramento sobremodo bizarro.
A canoa, em tom salmão ou rosa/laranja, tem um recorte inusitado, levando a imaginação do espectador a complementar a figura no extra-quadro. Monet retrata essa pequena embarcação na posição horizontal, ligeiramente inclinada. A composição diagonal da margem e da embarcação abre um ângulo com o remo, que por sua vez cria uma outra diagonal, interferindo na parte direita inferior da tela – são diagonais que salientam o movimento, o fluxo do Epte e reforçam a idéia da velocidade.
Um muro esverdeado que aparece atrás da embarcação é iluminado por raios dourados de sol que dão vida às folhagens azul-esverdeada contrastando com a paisagem aquática e seus reflexos.
Dentro da embarcação, róseas como sonhos inocentes, duas moças (suas enteadas, Suzanne e Blanche Hoschedé) navegam suavemente e despreocupadas, ressaltando a fugacidade do momento e indiferença dessas com relação ao artista; enquanto que, o artista dedica-se exclusivamente em captar essa imagem, criando dessa forma uma oposição psicológica.
Uma das moças está sentada a remar, sofre o fatal fracionamento em suas costas, alijando-a de seus centros somáticos.
O rosado dos vestidos serve como contraponto ao verde do conjunto.
Como o próprio título sugere, temos dois sujeitos para o tema: a canoa e o rio, mas fica evidente que as águas do Epte serão para Monet a personagem principal da obra. Como essa água não consegue desenvolver “drama” ou “narração” e ser agente ativo e condutor da pintura; o artista opta pela composição de diagonais da canoa como complementação da ação.
Monet trabalha as águas (a superfície do Epte) sem transparências artificiais, sem reflexos antinaturais; mas, de uma forma viva e verdadeira, revelando todas as possibilidades de cores que essa camada d’água esconde internamente: verdes em composição com um rosa-sal, como reflexos dos habitantes do mundo fluvial, que só o olho do artista e se pincel serão capazes de revelar.
Monet decide pintar aquilo que é impossível, não mais a cidade, que em alguns momentos permanece, mas aquilo que raramente é presente, algo efêmero, instantes improváveis, metáforas do futuro e da transitoriedade de todas as coisas.

4 comentários:

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