MIGUEL ÂNGELO DI LUDOVICO BUONARROTI SIMONI
ou apenas:
MICHELANGELO
Pintor, escultor, poeta e arquiteto renascentista italiano.
(Caprese, na Toscana 06/03/1475 — Roma, 18/02/1564)
"Não sou o escultor Michelangelo. Sou Michelangelo Buonarroti".
Michelangelo nasceu a 6 de março de 1475, em Caprese, província florentina. Se pai Ludovico di Lionardo Buonarroti Simoni era um homem violento, "temente de Deus", sua mãe, Francesca morreu quando Michelangelo tinha seis anos. Eram 5 irmãos.
Michelangelo foi entregue aos cuidados de uma ama-de-leite cujo marido era cortador de mármore na aldeia de Settignano. Mais tarde, brincando, Michelangelo atribuirá a este fato sua vocação de escultor. Aos treze anos, sua obstinação vence a do pai: ingressa, como aprendiz, no estúdio de Domenico Ghirlandaio, famoso pintor de Florença.
Mas o aprendizado é breve, cerca de um ano, pois Michelangelo irrita-se com o ritmo do ensino, que lhe parece moroso, e além disso considera a pintura uma arte limitada: o que busca é uma expressão mais ampla e monumental. Diz-se também que o motivo da saida do juvem foi outro: seus primeiros trabalhos revelaram-se tão bons que o professor, enciumado, preferiu afastar o aluno. Entretanto, nenhuma prova confirma essa versão.
Deixando Ghirlandaio, o canhoto Michelangelo entra para a escola de escultura que o mecenas Lourenço, o Magnifico, riquíssimo banqueiro e protetor das artes em Florença mantinha nos jardins de São Marcos.
A arte vive em plena enfervencência cultural do Renascimento italiano. O retorno ao ideal de beleza, o equilíbrio das formas e a filosofia platônica da Grécia Antiga, contagiará a arte de Michelangelo.
"A perfeição é feita de pequenos detalhes - não é apenas um detalhe."
Nesse período o artista criou “O Combate dos Centauros”, baixo-relevo de tema mitológico e sente-se não um artista italiano inspirado nos padrões clássicos helênicos, mas um escultor grego de verdade.
Mármore, 90,5 X 90,5 cm
Segundo Condivi, esse relevo teria sido executado a pedido de Ange Politien (1454-1494), tutor dos filhos de Lorenzo, O Magnífico. Politien, poeta e humanista, conhecia o tema a partir da genealogia de Bocácio (de uma edição parisiense de 1511, livro XIX), ou a partir da coleção de mitologia atribuída a Hygenious. O episódio narra o aparecimento de Hércules durante o casamento do rei Cyclopes, Eurithon, com Dejanra, para sequestrá-la, já que ela tinha sido sua noiva. As formas deste relevo são bastante indecisas, é difícil reconhecer os Centauros e mais ainda distinguir os sujeitos masculinos e femininos.
Essa obra foi inspirada em um frontão de sarcófago romano dos tempos do Império. Foi também comparado, justamente ao baixo-relevo equestre de Bertoldo.
Michelangelo parece ter gostado muito de seu baixo-relevo (fato confirmado por Condivi). Ele o guardou em vida e sua família conservou o em seguida.
Na Igreja del Carmine, Michelangelo copia os afrescos de Masaccio.
Nos jardins de Lourenço, participa de requintadas palestras sobre filosofia e estética.
Em 1490, Michelangelo tem 15 anos. É o ano em que, o monge Savonarola começa a inflamada pregação mistica que o levará ao governo de Florença. O anúncio de que a ira de Deus em breve desceria sobre a cidade atemoriza o jovem artista: sonhos e terrores apocalípticos povoam suas noites. Lourenço, o Magnifico, morre em 1492. Michelangelo deixa o palácio. A revolução estoura em 1494. Michelangelo, um mês antes, fugira para Veneza.
Longe do caos em que se convertera a aristocrática cidade dos Médici, Michelangelo se acalma. Passa o inverno em Bolonha, esquece Savonarola e suas profecias, redescobre a beleza do mundo. Lê Petrarca, Boccaccio e Dante. Na primavera do ano seguinte, passa novamente por Florença.
Esculpe o “Cupido Adormecido”, obra "pagã" num ambiente tomado de fervor religioso, vai a Roma, onde esculpe “Baco Bêbado”, “Adônis Morrendo”. Enquanto isso, em Florença, Savonarola faz queimar livros e quadros: "as vaidades e os anátemas".
“Cupido Adormecido”
“Baco Bêbado”
Michelangelo escolheu duas qualidades do deus do vinho e do êxtase para representá-lo em sua obra. Na cabeça de Baco colocou cachos de uvas, e em sua mão direita uma taça segura com movimento para cima como se ele estivesse prestes a saudar alguém. A expressão facial é de um pensamento vago e meio confuso, como se ele tivesse esquecido o que iria brindar ou o que faria em seguida. A cabeça está pendente e a boca aberta, seus olhos parecem indecisos e fora de foco. O corpo, como que balançando, parece demonstrar a aparência de uma pessoa alcoolizada. Uma perna está um pouco levantada, enquanto seu dorso e cintura pendem para trás, fazendo com que o deus pareça não ter certeza de seus passos, como se estivesse completamente bêbado. A obra foi solicitada por um banqueiro romano rico, Jacopo Galli, entre os anos de 1497-1498, enquanto Michelangelo estava morando em Roma.
O artista aos vinte e três anos de idade criou “Pietà”, escultura magnífica que confere a genialidade de Michelangelo e sua perfeição técnica ao registrar o drapeado das roupas, os músculos e a veias dos corpos.
Foi sua passagem para trabalhar para a família Médici.
"Observei o anjo gravado no mármore, até que eu o libertasse."
“Pietà”
Mármore: 174 cm X 195 cm X 64 cm.
Pietà significa piedade e representa a maior expressão da dor de uma mãe.
O seu arranjo piramidal é derivado de Leonardo, com a clássica postura do rosto da Virgem refletindo a expressão calma, idealizada, das estátuas gregas.
Desafiando a passagem do tempo, Maria é representada por uma mulher jovem com olhar sereno contrastando com o tema dramático e com o sofrimento da cena: o recolhimento do corpo de seu filho após a morte na cruz. Torna-se assim evidente a influência do “pathos” dos clássicos gregos. Imaginou a juventude de Maria, objeções que erguem contra ele seus críticos, como expressão de pureza incorruptível.
A dor de Maria sobre o corpo morto do filho foi representada com o abandono do realismo cruel típico em favor de uma visão idealizada. Criou, então, a sua mais acabada e famosa escultura.
A anatômica do corpo de Cristo se deve a dissecação de cadáveres efetuada por Michelangelo; porém nem Cristo nem a mãe apresentam tamanhos “normais”, causando dessa forma, um efeito expressivo do todo.
A Virgem está sentada talvez numa poltrona, remetendo a um acolhimento; sua cabeça é pequena; seus seios são grandes; suas pernas imensas etc
O artista utilizou-se de muito polimento valorizando o volume e o jogo do planejamento.
Quando a estátua foi descoberta, um apreciador de arte não acreditou que um jovem inexperiente fosse capaz de realizar tal obra. Ao saber disso, Michelangelo esculpiu seu nome na faixa que atravessa o seio da Virgem. Foi seu único trabalho assinado.
Na primavera de 1501, ei-lo por fim em Florença. Nesse mesmo ano, surgirá de suas mãos a primeira obra madura. Um gigantesco bloco de mármore jazia abandonado havia 40 anos no local pertencente à catedral da cidade. Tinha sido entregue ao escultor Duccio, que nele deveria talhar a figura de um profeta. Duccio, porém, faleceu repentinamente e o mármore ficou á espera. Michclangelo decidiu trabalhá.lo. O resultado foi o colossal “Davi”, símbolo de sua luta contra o Destino, como Davi ante Golias.
Uma comissão de artistas, entre os quais estavam nada menos que Leonardo da Vinci, Botticelli, Filippino Lippi e Perugino, interroga Michelangelo sobre o lugar onde deveria ficar a estátua que deslumbra a todos quc a contemplam. A resposta do mestre é segura: na praça central de Florença, defronte ao Palácio da Senhoria. E para esse local a obra foi transportada. Entretanto, o povo da cidade, chocado com a nudez da figura, lapidou a estátua, em nome da moral.
“Davi”
"Em cada bloco de mármore vejo uma estátua; vejo-a tão claramente como se estivesse na minha frente, moldada e perfeita na pose e no efeito. Tenho apenas de desbastar as paredes brutas que aprisionam a adorável aparição para revelá-la a outros olhos como os meus já a vêem."
A escultura “Davi”, de Michelangelo mede 4,10 m (ou 5,16 metros de altura e 5,5 toneladas), foi esculpida em um único bloco de mármore e retrata “um jovem adulto, com o corpo tenso e cheio de energias controladas.”
A superfície do corpo é leitosa (pouca polimento), fazendo nosso olhar deslizar pelo contorno da figura e não para o volume.
Não é frágil, nem perfeito e nem elegante. A mão é colossal, que sugere força e capacidade de trabalho e de luta; braços compridos e a cabeça grande. A cabeça e o rosto expressam decisão e autoconfiança. Ele é heróico, determinado e contém uma espécie de força interior, que lhe dá consciência de sua própria capacidade para enfrentar com dignidade os desafios da existência.
Michelangelo levou dois anos para completar sua obra-prima, pela qual recebeu 400 florins de ouro, segundo as crônicas da época.
Da mesma época data a primeira pintura (que se conhece) de Michelangelo, “A Sagrada Família”, também conhecida como “Doni Tondo”.
Trata-se de um tondo, pintura circular, cujas formas e cores fariam com que, pasteriormente, os críticos o definissem como obra precursora da escola "maneirista".
A obra foi encomendada a Michelangelo pelo seu amigo Ângelo Doni, entre os anos de 1503 e 1504.
Michelangelo raramente executava trabalhos utilizando a parte mediana da obra. O “Doni Tondo” é a única obra com esse formato que pode realmente ser atribuída a ele.
Nessa obra as três figuras estão ligadas entre si pelos movimentos, formando uma figura compacta, como se fosse um trabalho escultural. A moldura redonda é realçada pela configuração triangular e o delineamento é ondulado, quase crespo, com definição clara.
O artista utilizou da pintura de tempera, que aumenta a qualidade das figuras. Nessa obra a tempera faz com que o trio sobressaia em relação ao fundo da pintura, como se estivesse sido sobreposto.
As cores são alegres e vivas. A cor laranja dourado da roupa de José parece ter uma textura de cetim.
Pode-se ver que, mesmo com o pincel, Michelangelo não deixa de ser escultor. Ou, como ele próprio dizia: "Uma pintura é tanto melhor quanto mais se aproxime do relevo".
“A sagrada família” (1504)
Em março de 1505, Michelangelo é chamado a Roma pelo Papa Júlio II. Começa então o periodo heróico de sua vida. A idéia de Júlio II era a de mandar construir para si uma tumba monumental que recordasse a magnificência da Roma Antiga com seus mausoléus suntuosos e solenes. Michelangelo aceita a incumbência com entusiasmo e durante oito meses fica em Carrara, meditando sobre o esquema da obra e selecionando os mármores que nela seriam empregados. Enormes blocos de pedra começam a chegar a Roma e se acumulam na Praça de São Pedro, no Vaticano. O assombro do povo mistura-se à vaidade do papa e à inveja de outros artistas. Bramante de Urbino, arquiteto de Júlio II, que fora frequentes vezes criticado com palavras sarcásticas por Michelangelo, consegue persuadir o papa a que desista do projeto e o substitua por outro: a reconstrução da Praça de São Pedro. Em janeiro de 1506, Sua Santidadc aceita os conselhos de Bramante. Sem sequer consultar Michelangelo, decide suspender tudo: o artista está humilhado e cheio de dividas.
Michelangelo parte de Roma. No dia seguinte, Bramante, vitorioso, começa a edificação da praça. No entanto, Júlio II quer o mestre de volta. Uma nova incumbência aguarda Michelangelo: executar uma colossal estátua de bronze para ser erguida em Bolonha. São inúteis os protestos do artísta de que nada entende da fundição desse metal. Que aprenda, responde-lhe o caprichoso papa. Durante 15 meses, Michelangelo vive mil acidentes na criação da obra. Escreve ao irmão:
"Mal tenho tempo de comer. Dia e noite, só penso no trabalho. Já passei por tais sofrimentos e ainda passo por outros que, acredito, se tivesse de fazer a estátua mais uma vez, minha vida não seria suficiente: é trabalho para um gigante".
O resultado não compensou. A estátua de Júlio II, erguida em fevereiro de 1508 diante da lgreja de São Petrônio, teria apenas quatro anos de vida. Em dezembro de 1511, foi destruida por uma facção política inimiga do papa e seus escombros vendidos a um certo Alfonso d'Este, que deles fez um canhão.
"O Papa Júlio II"
De regresso a Roma, Michelangelo deve responder a novo capricho de Júlio II : decorar a Capela Sistina. O fato de o mestre ser antes de tudo um escultor não familiarizado com as técnicas do afresco não entrava nas cogitações do papa. Todas as tentativas de fugir á encomenda são inúteis. O Santo Padre insiste, segundo alguns críticos, manejado habilmente por Bramante que, dessa forma, desejaria arruinar para sempre a carreira de Michelangelo e o artista cede mais uma vez.
Michelangelo considerava a pintura como arte inferior e achava que, entre todas as artes, a mais próxima de Deus era a escultura.
Deus havia criado a vida a partir do barro, e o escultor libertava a beleza da pedra. Segundo ele, sua técnica consistia em “libertar a figura do mármore que a aprisiona”. Enquanto outros escultores adicionavam pedaços de mármores para disfarçar seus erros, Michelangelo fazia suas esculturas num bloco único.
“Ainda que rolem do alto de uma montanha, não caíra um só pedaço”, afirmava.
Entre 1508 e 1512, trabalhou na pintura do teto da Capela Sistina, no Vaticano e criou mais de 340 figuras representando a origem e a queda do homem. O teto tinha três mil metros quadrados para o projeto e mais de 20 metros de altura, e, apresentava muitos desafios: as infiltrações umedeciam a alvenaria; a curva da abóbada cilíndrica, atravessada por abóbadas cruzadas, dificultava mais ainda o trabalho do artista, além de ter que trabalhar encolhido numa posição desconfortável, num andaime com altura equivalente a sete andares.
Michelangelo dedicou-se a tarefa e fez com tanta mestria que praticamente ofuscou as obras primas de seus antecessores. De fato, um dos maiores tesouros artísticos da humanidade.
É difícil acreditar que tenha sido obra de um só homem, e que o mesmo ainda encontraria forças para retornar ao local, duas décadas depois, e pintar na parede do altar, sacrificando, inclusive, alguns afrescos de Perugino, o “extraordinário espetáculo” do Juízo Final, entre 1535 e 1541, já sob o pontificado de Paulo III.
“Teto da capela Sistina” (1508-1512)
O afresco de Michelangelo continha figuras não do mundo real, mas do mundo de sua própria criação. Os nus são apresentados sem cenário e sem ornamentos.
De início, o artista deveria pintar os 12 Apóstolos, mas protestou e pediu uma tarefa mais audaciosa, um esquema que representasse toda a doutrina da Igreja Católica centrada nas cenas do Gênesis (a “Criação da Terra por Deus”, a “Criação de Adão” e “Adão e Eva no Paraíso”, a “Criação da Humanidade e sua queda”, a “Humanidade” representada por Noé), e por fim, “O Juízo Final”.
A superfície da abóbada foi dividida em áreas concebendo-se arquitetonicamente o trabalho de maneira que resultasse numa articulação do espaço dividido por pilares. Nas áreas triangulares alocou as figuras de profetas e sibilas; nas retangulares, os episódios do Gênese. Para entender estas últimas deve-se atentar para as que tocam a parede do fundo.
Dia 10 de maio de 1508, começa o gigantesco trabalho. A primeira atitude do artista é recusar o andaime construído especialmente para a obra por Bramante. Determina que se faça outro, segundo suas próprias ideias. Em segundo lugar, manda embora os pintores que lhe haviam sido dados como ajudantes e instrutores na técnica do afresco. Terceiro, resolve pintar não só a cúpula da capda mas também suas paredes.
É a fase dc Michelangdo herói. Herói trágico. Tal como Prometeu, rouba ao Olimpo o fogo de sua genial inspiração, embora os abutres das vicissitudes humanas não deixem de acossá.lo. O trabalho avança muito lentamente. Por mais de um ano, o papa não lhe paga um cêntimo sequer. Sua família o atormenta com constantes pedidos de dinheiro. A substância frágil das paredes faz logo derreter as primeiras figuras que esboçara. Impaciente com a demora da obra, o papa constantemente vem perturbar-lhe a concentração para saber se o projeto frutificava. O diálogo é sempre o mesmo:
- "Quando estará pronta a minha capela?"
- "Quando eu puder!"
Irritado, Júlio II faz toda a sorte de ameaças. Chega a agredir o artista a golpes de bengala, que tenta fugir de Roma. O papa pede desculpas e faz com que lhe seja entregue, por fim a soma de 500 ducados. O artista retoma a tarefa.
No dia de Finados de 1512, Michelangdo retira os andaimes que encobriam a perspectiva total da obra e admite o papa à capela. A decoração estava pronta. A data dedicada aos mortos convinha bem á inauguração dessa pintura terrível, plena do Espírito do Deus que cria e que mata. Todo o Antigo Testamento está ai retratado em centenas de figuras e imagens dramáticas, de incomparável vigor e originalidade de concepção: o corpo vigoroso de Deus retorcido e retesado no ato da criação do Universo; Adão que recebe do Senhor o toque vivificador de Sua mão estendida, tocando os dedos ainda inertes do primeiro homem; Adão e Eva expulsos do Paraíso; a embriaguez de Noé e o Dilúvio Universal; os episódios bíblicos da história do povo hebreu e os profetas anunciando o Messias.
São visões de um esplendor nunca dantes sonhado, imagens de beleza e genialidade, momentos supremos do poder criador do homem. No olhar do Papa Júlio II naquele dia de Finados de 1512 já se prenunciavam os olhares de milhões de pessoas que, ao longo dos séculos e vindas de todas as partes do mundo, gente de todas as raças, de todas as religiões, de todas as ideologias políticas, se deslumbrarão diante da mais célebre obra de arte do mundo ocidental.
Deus separando a Luz das Trevas
Deus criando o Sol e a Lua
Deus separa a terra das águas
A Criação de Adão
"Criação de Adão" é um afresco de 280 cm x 570 cm, pintado por volta de 1511, que figura no teto da Capela Sistina.
A cena representa um episódio do Livro do Gênesis no qual Deus cria o primeiro homem: Adão.
Deus com aparência de Zeus é representado por um homem de cabelos brancos e de corpo vigoroso, envolto em um manto e cercado por anjos.
Seu braço esquerdo está abraçado a uma figura feminina, normalmente interpretada como Eva, que ainda não foi criada e, figuradamente, espera no céu para ganhar uma forma humana.
O braço direito de Deus está esticado para criar o poder da vida de seu próprio dedo para Adão, representado por um homem jovem, de corpo harmonioso e que está com o braço esquerdo estendido em contraposição ao do criador. Os dedos de Adão e de Deus estão separados por uma pequena distância.
A composição é obviamente artística e não literal, já que Adão é capaz de alcançar Deus mesmo antes de ter ganho vida. Pela mesma razão, Eva é vista representada antes de sua própria criação. Esse motivo levou algumas pessoas a acreditar que a figura feminina fosse a primeira esposa mística de Adão, Lilith; Entretanto, essa interpretação não faz o menor sentido por Lilith também ter sido criada depois de Adão.
As posições de Deus e Adão, a pintura do braço direito de Deus e esquerdo de Adão são quase idênticas e representam o fato de que, como diz o Gênesis 1:27, “Deus criou o homem à sua imagem e semelhança.” O dedo indicador de Adão, a mais famosa representação do afresco, não é de fato um trabalho de Michelangelo. Ele foi danificado durante reparos de um desabamento em meados do século XVI e foi repintado por um restaurador do Vaticano.
Existem várias teorias sobre o significado da composição original de "A Criação de Adão", levantadas principalmente por causa do amplo conhecimento que Michelangelo possuía em anatomia. Em 1990, um médico chamado Frank Lynn Meshberger, em artigo no Journal of the American Medical Association, afirma que a figura em que Deus está apoiado tem o formato anatômico de um cérebro, incluindo o lobo frontal, nervo ótico, glândula pituitária e o cerebelo. Também observou que o manto vermelho de Deus tem o formato de um útero, e que a echarpe verde que sai de seu ventre poderia ser um cordão umbilical.
A Criação de Eva
O Pecado Original e a expulsão do Paraíso
O Sacrifício de Noé
De acordo com o texto bíblico, Noé teria vivido 950 anos. Tinha 500 anos quando gerou a Sem, Cam e Jafé. Com a idade de 600 anos, enfrentou o dilúvio e viveu mais três séculos e meio, significa ter falecido nos dias de Abraão, na décima geração de seus descendentes. A vida de Noé após o dilúvio, porém, é curiosamente deturpada pelo alcoolismo. Em certa altura, embebedara-se com o vinho produzido de sua própria videira de tal modo que ficou nu em sua tenda. Seu filho Cam o viu e faz saber aos que estavam fora. Seus irmãos sabendo entraram na tenda de costas para cobrirem Noé sem o ver nu. Quando recobrou a consciência, Noé amaldiçoou seu filho Cã e seu neto Canaã, porém abençoando seus outros filhos, Sem e Jafé.
O Dilúvio Universal
Noé "descanso, alívio, conforto" é o nome do herói bíblico que "recebeu ordens de Deus para a construção de uma arca, para salvar a Criação do Dilúvio".
Em Gênesis diz que "E viu o SENHOR que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era má continuamente." (Gênesis 6:5) e decidiu eliminar a população provocando uma grande inundação. Resolveu poupar a vida de Noé e de sua família, o qual era um homem justo e achou graça aos olhos do senhor (Gênesis 6:8). Deus, então, falou com Noé, ordenando-lhe a construção de uma grande embarcação, onde ele reuniria todos os animais da Terra pelos 40 dias de dilúvio. Noé então reuniu um casal de cada espécie e abrigou sua família no interior da arca. A arca repousou nos Montes Ararat (Urartu), atual Turquia, por um período de quase 8 meses até que Deus confirmou o momento que poderiam descer dela.
O Noé Embriagado
“O Juízo Final”
Este afresco encontra-se na parede ao fundo do altar da Capela Sistina, terminado 29 anos após a pintura do teto, e é a representação magnânima do inferno dantesco. A obra dá-nos a sensação de uma atmosfera sinistra e apresenta monstros e demônios infernais que puxam, arrastam e carregam às costas aqueles que foram condenados no Juízo Final, como o pormenor “Ressurreição da Carne”, no qual um dos julgados é agarrado por demônios e pode-se ver em sua face o terror assustador e marcante de sua angústia interior.
Cristo representado transmite-nos a ideia de um Juiz vingativo e punitivo; formas humanas em movimento; figuras contorcidas em luta e sendo atiradas ao inferno, como exemplo, São Bartolomeu, mártir queimado vivo, segura sua própria pele com um grotesco auto-retrato de Michelangelo. O terror pavoroso expresso nos rostos deles faz referência direta à “Divina Comédia”, de Dante Aliguieri.
"O Juízo Final "é a reação de Michelangelo à crise social e cultural vivida naquele momento. O tema, além do dogmatismo cristão, fala do drama do homem em um momento de total insegurança e dualismo entre o teocentrismo e o antropocentrismo. É expressão do desespero e desânimo de um cristão frente à instabilidade política e religiosa trazida com a Reforma. É um grito agonizante e uma súplica por socorro.
Jesus encontra-se no meio simbolizando Júpiter; à direita, temos os condenados. São Pedro está com as chaves e a Virgem vira o rosto para os condenados.
Há uma espécie de cemitério (julgamento) em que os absolvidos somem (são salvos).
Os sete Profetas:
Isaías - teria vivido entre 740 a.C. e 681 a.C., durante os reinados de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias, sendo contemporâneo à destruição de Samaria pela Assíria e à resistência de Jerusalém ao cerco das tropas de Senaqueribe que sitiou a cidade com um exército de 185 mil assírios em 701 a.C. Isaías, cujo nome significa Iavé salva ou Iavé é salvalção exerceu o seu ministério no reino de Judá, tendo se casado com uma esposa conhecida como a profetisa que foi mãe de dois filhos: Sear-Jasube e Maer-Salal-Hás-Baz.
O capítulo 6 do livro informa sobre o chamado de Isaías para tornar-e profeta através de uma visão do trono de Deus no templo, acompanhado por serafins, em que um desses seres angelicais teria voado até ele trazendo brasas vivas do altar para purificar seus lábios a fim de purificá-lo de seu pecado. Então, depois disto, Isaías ouve uma voz de Deus determinando que levasse ao povo sua mensagem.
Focando em Jerusalém, a profecia de Isaías, em sua primeira metade, transmite mensagens de punição e juízo para os pecados de Israel, Judá e das nações vizinhas, tratando de alguns eventos ocorridos durante o reinado de Ezequias, o que se verifica até o final do capítulo 39. A outra metade do livro (do capítulo 40 ao final) contém palavras de perdão, conforto e esperança.
Pode-se afirmar que Isaías é o profeta quem mais fala sobre a vinda do Messias, descrevendo-o ao mesmo tempo como um servo sofredor que morreria pelos pecados da humanidade e como um príncipe soberano que governará com justiça. Por isso, um dos capítulos mais marcantes do livro seria o de número 53 que menciona o martírio que aguardava o Messias: "Mas ele foi ferido pelas nossas, transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e, pelas suas pisaduras, fomos sarados". (Is 53:5). De acordo com a tradição judaica, Isaías teria sido morto serrado ao meio na época do rei Manassés.
Daniel - O livro de Daniel contém um registro de certos incidentes históricos da vida de Daniel e de seus três amigos, judeus deportados que estavam ao serviço do governo de Babilônia, e o registro de um sonho profético do rei Nabucodonosor, interpretado por Daniel, juntamente com o registro de visões recebidas pelo mesmo profeta. Mesmo o livro sendo escrito na Babilônia durante o cativeiro, e pouco depois dele, não tinha o propósito de proporcionar uma história do desterro dos judeus nem uma biografia de Daniel. O livro relata as vicissitudes principais da vida do estadista-profeta e de seus colegas, e foi compilado com fins específicos.
Ezequiel é um dos livros proféticos do Antigo testamento da Bíblia. Possui 48 capítulos.
Chamado para profetizar durante o cativeiro babilônico do povo judeu. Diz-se que fundou uma escola de profetas e que ensinava a Lei à beira do rio que corta a cidade de Babilônia. São curiosas as visões que o profeta teve sobre a glória de Deus e os sinais que aconteceram em sua própria vida demonstrando a ação de Deus são fortes e marcantes. Ezequiel perdeu a sua esposa como sinal da queda de Jerusalém.
Joel - Livro do Antigo Testamento. Segundo a tradição, foi escrito pelo profeta Joel. A sua datação atribuída é do ano 830 a.C., porém existem os que datam dos anos 775 a 725 a.C. ou de 500 a.C.. A mensagem do livro fala sobre o "julgamento que Deus fará contra os inimigos de Israel e, de uma perspectiva escatológica, a vitória final do povo de Deus". Joel 2:28, 29 citada por Simão Pedro no sermão de Pentecostes em Atos 2:14-36. Joel tem enorme importância na teologia cristã.
Jonas - profeta israelita da Tribo de Zebulão, filho de Amitai, natural Gete-Héfer. Profetizou durante o reinado de Jeroboão II, Rei de Israel Setentrional. (II Reis 14:25; Jonas 1:1) Crê-se que tenha sido o escritor do livro bíblico do Antigo Testamento que leva o seu nome. Comissionado pelo Deus de Israel para ir a Nínive, capital da Assíria. A sua missão era admoestar os assírios que devido a sua crueldade e ao muito derramamento de sangue, iriam sofrer a ira Divina caso não se arrependessem dentro de quarenta dias. Os assírios eram famosos, por exemplo, por decapitar os povos vencidos, fazendo pirâmides com seus crânios.
Crucificavam ou empalavam os prisioneiros, arrancavam seus olhos e os esfolavam vivos. Temendo pela sua vida, Jonas foge rumo a Társis, no SE da Península Ibérica (na moderna região da Andaluzia). Situa-se a aproximadamente 3.500 km do porto de Jope (a moderna Tel Aviv-Yafo). Segundo a bíblia, durante a viagem acontece uma violenta tempestade. Esta só acaba quando Jonas é lançado ao mar. Ele é engolido por um "grande peixe" (Jonas 1:17) e no seu estômago, passa 3 dias e 3 noites. Arrependido reconsidera a sua decisão e é vomitado pelo peixe numa praia e segue rumo para Nínive.
Zacarias - profeta das tribos Reino de Judá, e foi o 11º profeta dos 12 profetas menores. Conforme Ezequiel, ele foi um profeta do exílio. Ele descreveu a si mesmo (1:1) como "o Filho de Baraquias." Em Esdras 5:1 e 6:14 chamado "o filho de Iddo," na realidade seu avô. Sua carreira profética iniciou-se no 2º ano de Dario, Rei da Pérsia (520 A .C.), cerca de 6 anos antes do 1º grupo que retornou do exílio babilônico. Embora haja algumas indicações de que Targum Lamentações o "Zacarias filho de Ido" tenha sido morto no templo.
Jeremias - nome de vários personagens da Bíblia, o mais conhecido é o profeta do Antigo Testamento, autor do Livro das Lamentações e do Livro de Jeremias que é o 2º dos livros dos principais profetas da Bíblia. Os capítulos 1 a 24 registram muitas das suas profecias. Os capítulos 24 a 44 relatam suas experiências. Contém Profecias contra as nações. É provável que seu auxiliar, Baruque, tenha reunido e organizado grande parte do livro.
Michelangelo, em seguida, volta a entregar-se ao projeto que jamais deixara de amar: o túmulo monumental de Júlio II. Morto o papa em fevereiro de 1513, no mês seguinte o artista assina um contrato comprometendo-se a executar a obra em sete anos. Dela fariam parte 32 grandes estátuas. Uma logo fica pronta. É o “Moisés” considerada a sua mais perfeita obra de escultura. Segue-se outra, “Os Escravos”, que se acha no Museu do Louvre, doada ao soberano Francisco I pelo florentino Roberto Strozzi, exilado na França, que por sua vez a recebera diretamente do mestre em 1546.
“Moisés” (1515)
Mostrado como um todo poderoso e forte. Foi colocado no túmulo do papa Júlio II.
Diz-se que quando terminada a obra, Michelangelo bateu em seu joelho e disse: “Fala!”
Freud leu muito a respeito do tema e se sentiu mais intrigado ainda quando se deparou com um número enorme de interpretações e quando viu até que ponto elas diferiam entre si.
1. Na primeira parte do ensaio, são apresentadas várias descrições de diferentes críticos do Moisés de Michelangelo, um fragmento da gigantesca tumba que o artista deveria ter erigido para o poderoso Papa Júlio II. A estátua representa Moisés segurando as tábuas dos Dez Mandamentos. Moisés é representado sentado; o corpo está de frente, a cabeça ostenta os cornos míticos, que representam a luz radiante que veio ao rosto de Moisés após ver Deus. Ostenta também uma barba possante. Moisés olha para a esquerda, o pé direito se apóia no chão e a perna esquerda está levantada de modo tal que apenas os artelhos tocam o chão. A expressão facial de Moisés caracteriza-se por mostrar uma mistura de ira, sofrimento e desprezo. Pois, é o momento em que ele percebeu que o povo se rejubilava com o Bezerro de Ouro. Para Freud, não se pode imaginar a figura de Moisés como prestes a se levantar abruptamente; ele está em sublime repouso. Sem mostrar as emoções de ira, o desprezo e sofrimento não seriam possíveis retratar a natureza de um super-homem desta espécie. Michelangelo criou não uma figura histórica, mas um tipo de caráter encarnando uma força interior inesgotável, capaz de domar o mundo recalcitrante.
O artista deu forma não apenas à narrativa bíblica de Moisés, mas às suas próprias experiências internas e às suas impressões, tanto da individualidade do próprio Papa Júlio quanto as fontes dos eternos conflitos de Savona-rola (monge italiano que pregava contra o pecado e a impiedade do povo que acabou enforcado e queimado em praça pública, por ir contra a Igreja de Roma em alguns aspectos).
2. A parte II do ensaio fala sobre detalhes que passaram não apenas despercebidos, como nem sequer receberam uma descrição adequada dos outros críticos. E é aí que Freud vai se deter. São eles: a atitude da mão direita e a posição das duas Tábuas da Lei. O polegar está escondido e só o dedo indicador está realmente em contato com a barba. E está tão fortemente pressionado contra a massa de cabelo que sobram mechas para cima e para baixo. Para começar, Freud presume que a mão direita estava afastada da barba e que se projetou então para a esquerda, num momento de grande tensão emocional, agarrando a barba, e que finalmente voltou para trás trazendo parte da barba com ela. Há algumas dificuldades envolvidas nessa interpretação, já que a mão direita é a responsável pelas tábuas, que estão viradas para baixo. As tábuas estão de cabeça para baixo, praticamente equilibradas sobre uma quina. A borda superior é reta, a inferior tem uma protuberância, uma espécie de chifre na parte frontal, e as tábuas tocam o assento de pedra precisamente com essa protuberância. Foi para impedir que as tábuas caíssem no chão que a mão direita se encolheu, soltou a barba, parte da qual veio junto sem querer, encontrou a parte superior das tábuas a tempo, segurou-as pelo canto de trás, que depois virou para cima. Dessa maneira, o aspecto especialmente forçado do conjunto barba, mão e tábuas inclinadas são atribuídos àquele movimento apaixonado da mão e às suas consequências naturais.
3. Nas partes III e IV, Freud continua dizendo que Moisés em seu primeiro transporte de fúria quis agir, levantar-se, se vingar e esquecer as tábuas, mas dominou a tentação e permaneceu sentado e quieto, com sua ira gelada e seu sofrimento mesclado de desprezo. Também não são jogadas fora as tábuas para que se quebrem nas pedras, pois foi especialmente por causa delas que controlou sua raiva; foi para preservá-las que conteve sua paixão. À medida que nossos olhos descem pela estátua vemos três estados emocionais distintos. As linhas da face refletem os sentimentos que predominaram; a seção média mostra os traços do movimento reprimido e o pé permanece ainda na atitude da ação projetada. O Moisés da lenda e da tradição tinha um temperamento impetuoso e era sujeito a crises de paixão. Porém Michelangelo colocou um Moisés diferente na tumba do papa, um Moisés superior ao histórico e tradicional, porque conseguiu dominar sua ira, na visão de Freud, em razão de uma causa à qual se havia consagrado.
O próprio Freud fica feliz ao ver outra escultura cuja reprodução foi levada por Ernest Jones. Tratava-se de uma pequena escultura de Moisés, feita por Nicolás de Verdun, no século XII. O detalhe característico dela era que representava Moisés quanto ao gesto de segurar a barba, exatamente na postura que Freud supôs que havia precedido aquela em que Michelangelo o representava em sua famosa obra. Freud considerou que isto confirmava sua interpretação da dita obra e que representava “a calma depois da tempestade”. Mas essa confirmação só foi acrescentada num pós-escrito ao artigo, feito em 1927.
Os biógrafos de Freud, Ernest Jones e Peter Gay, têm as seguintes interpretações para esse interesse desmesurado de Freud pela a estátua de Moisés.
Ernest Jones, ele mesmo personagem importante nas buscas de Freud sobre o sentido de sua fascinação por essa obra específica de Michelangelo, fala: “O inverno de 1913-1914, seguindo-se ao infeliz congresso de Munique, foi a pior época no conflito com Jung. O Moisés foi escrito no mesmo mês, assim como os longos ensaios em que Freud apresentava a seriedade das divergências entre suas ideias e as de Jung (“Narcisismo” e “A história do movimento psicanalítico”), e não há dúvidas de que estava se sentindo, na época, amargamente desapontado com a defecção de Jung. Isso lhe custou uma luta interna para controlar suas emoções de modo firme o suficiente a lhe permitir dizer calmamente o que sentia ter a dizer. Não se pode evitar a conclusão óbvia de que nessa época e provavelmente antes, Freud tenha se identificado com Moisés e estava lutando para imitar a vitória sobre as paixões que Michelangelo retratava em sua magnífica obra” (Jones, II, p.385). A turba de apóstatas era para ele os numerosos ex-partidários que o haviam abandonado renegando sua obra, nos últimos quatro anos: Adler e seus amigos, Stekel e agora os suíços com Jung.
Freud escreve a Ferenczi que, naquele momento, “a situação em Viena faz com que meu ânimo seja mais semelhante ao do Moisés histórico do que ao outro, o de Michelangelo”. Mas acima de todas as emoções estava á suprema necessidade de salvar, de algum modo, a obra de sua vida, a psicanálise, exatamente como Moisés pôs sua força de vontade para salvar as preciosas tábuas da Lei.
Jones diz mesmo que todas as dúvidas de Freud sobre a exatidão de sua interpretação do Moisés de Michelangelo se deviam em parte à insegurança a respeito de sua própria certeza de poder impor-se a si mesmo a calma e a temperança que o Moisés do artista se impôs.
Vinte anos mais tarde, quando da tradução do artigo para o italiano, Freud escreveu ao tradutor: “O que sinto por esse trabalho se parece muito ao sentimento que inspira um filho natural. Todos os dias, durante três semanas que foram de solidão, em setembro de 1913 parava na igreja (San Pietro in Vincoli) em frente da estátua, a estudava, a media, fazia croquis, até que captei seu sentido, que só de forma anônima me aventurei a expressar. Só muitos anos mais tarde reconheci essa criatura não-analítica”. (Carta a Edoardo Weiss, em abril de 1933).
Só com o sucessor de Leão X, o Papa Clemente VII, Michelangelo encontra novamente um mecenas que o incita a trabalhar arduamente: deverá construir a capela e a tumba dos Medici, sendo-lhe paga uma pensão mensal três vezes superior á que o artista exigira. Mas o destino insiste em turvar seus raros momentos de tranquilidade: em 1527, a guerra eclode em Florença e Michelangelo, depois de ajudar a projetar as defesas da cidade, prefere fugir, exilando-se por algum tempo em Veneza. Restabelecida a paz, o Papa Clemente, fiel a seu nome, perdoa-lhe os "desvarios" políticos e o estimula a reencetar o trabalho da Capela dos Médici. Com furor e desespero, Michelangelo dedica-se á obra. Quando o interrogam sobre a escassa semelhança das estátuas com os membros da paderosa familia, ele dá de ombros: "Quem perceberá este detalhe daqui a dez séculos?”
“Tumba da Família Médici”
Michelangelo realizou trabalhos de esculturas nas tumbas dedicadas a Lourenço, “O Crepúsculo e a Aurora” e no túmulo de Giuliano de Medici, “O Dia e a Noite”, na capela da família Médici.
De forma triangular e simétrico, à direita, temos a alegoria do dia versus à esquerda, a alegoria da noite (feminina) de forma brilhante representando o descanso, o sonho. As figuras são volumosas. Em cima, temos Giuliano trajando um cinturão romano (como imperador) e não florentino.
A “Aurora”, embora simbolize o despertar da vida, traz um véu na cabeça, que é sinal de luto. O “Crepúsculo”, apesar de ser um homem maduro, um homem sábio, tem o rosto indefinido. A “Noite”, melancólica, parece não conseguir repousar e o “Dia”, aparentemente inacabado, revela incerteza.
Os últimos anos do mestre ainda foram fecundos, embora numa atividade diferente: a arquitetura. Dedicou-se ao projeto de São Pedro, tarefa que lhe custou exaustivos esforços devido às intrigas que lhe tramaram seus acirrados inimigos. Projetou também o Capitólio, onde se reúne o Senado italiano e a Igreja de São João dos Florentinos (cujos planos se perderam).
Ainda encontra energias para esculpir. Renegando cada vez mais o mundo, Michelangelo busca uma união mística com o Cristo. Sua criação, como a de Botticelli no final da vida, é toda voltada para as cenas da Paixão.
Em 1547, Michelangelo foi apontado como arquiteto da Basílica de São Pedro no Vaticano. Anos mais tarde, em 18/02/1564, Michelangelo morre, em casa, em Roma aos 88 anos de idade, solicitando em testamento que seu corpo fosse enterrado em Florença.
Abstêmio, indiferente à bebida e à comida, pessoa solitária e melancólica. Deixou também cerca de 300 poemas em italiano vernáculo, que escreveu entre 1501 e 1560, marcados por uma forte carga homoerótica. Porém, esta foi alterada na primeira edição da sua poesia, em 1623, publicada pelo seu sobrinho. Em 1893, John Addington Symonds traduziu os poemas originais para inglês.
"Espero que eu sempre possa desejar mais do que consigo fazer."
2 comentários:
A arte no mundo fez uma grande revolução, pena que hoje está se esgotando. o que mais marcou na historia da arte foi as obras de Michelangelo e de Leonardo da Vinci, entre outros
Parabéns! O site é ótimo.
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