1863-1944
“Doença, loucura e morte foram os anjos negros que embalaram meu berço”, escreveu Munch.
MUNCH foi o maior pintor norueguês e mais importante inspirador do movimento Expressionista alemão. Embora tivesse passado algum tempo em Paris, onde aprendeu à arte Impressionista e Pós-Impressionista, o período mais produtivo de MUNCH foi entre 1892-1908, em Berlim. Ali produziu pinturas, litogravuras, águas-fortes e xilogravuras que expressam com força inigualável a angústia moderna.
Filho de um pastor calvinista, órfão de mãe e irmã, que morreram de tuberculose quando era pequeno, foi criado num clima de intensa religiosidade. Para complicar, Munch ficou muito doente durante a infância.
Mesmo adulto, o artista cobriu o seu primeiro nu “Puberdade”, exposto em Oslo, em virtude da presença de seu pai.
Composição onde o expressionismo impera, onde o simbólico é a força deste dizer não dizendo, Puberdade é uma marca inscrita no corpo, mas também, na forma quer como olhamos o corpo quer como os outros o olham. Ou seja, é do papel do espectador que se trata aqui. De um lado, o espectador da vida, o voyeur, aquele que (se) castra simbolicamente. Do outro lado, o espectador da arte, aquele que (se) redime simbolicamente.
O olhar fixo da jovem é perturbador e parece trespassar o nosso olhar, apontando-nos a qualquer culpa que desconhecemos em absoluto, a não ser de termos nascido e, consequentemente, sermos habitados pelo desejo, pela libido. Depois, o modo como a jovem esconde o sexo, com os braços em cruz, numa duplicidade que tanto pode significar vergonha como sedução ou à semelhança das santas.
“Puberdade”, 1894.
“Auto-retrato” (1895) é um quadro aparentemente comum que deixa transparecer, através de seus elementos, características do autor: o rosto do pintor em evidência pelo único foco de luz direcionado a ele; o cigarro em sua mão, cuja fumaça se dissipa e some na escuridão, confirma que ele fumava muito; a roupa alinhada; o bigode; o cabelo aparado e a pose expressiva mostram sua classe social ou a sua aspiração a certa posição social.
O próprio enquadramento em plano americano revela certo distanciamento e porte do homem retratado.
É interessante observar como o fundo preto borrado de tons mais claros transmite a sensação de que todo o ambiente está carregado com a fumaça proveniente do cigarro.
Munch foi sempre um marginal, neurótico e melancólico. Chamava seus quadros de filhos e dizia “não tenho mais ninguém”.
Especializou-se em pintar emoções extremas como: ciúme, desejo sexual e solidão.
Sempre doente, Munch foi internado várias vezes num sanatório apresentando quadro grave de depressão. Mas, através de seus problemas psicológicos descobriu os catalisadores de sua arte:
“Eu não dispensaria minha doença”, disse ele, “pois há muito em minha arte que devo a isso.”
Embora passasse meses sem pintar, cada vez que começava um trabalho entregava-se loucamente ao seu trabalho. O cavalete chocalhava enquanto ele atacava a tela com violentas pinceladas.
“Quero pintar quadros que façam as pessoas tirarem o chapéu com temor respeitoso, como fazem na igreja.”
No final da década de 1930 e início da década de 1940 passou por uma forte decepção. O governo nazista ordenou a retirada de todas as obras de arte de Munch dos museus da Alemanha por considerá-las esteticamente imperfeitas e por não valorizar a cultura alemã.
Entregue a bebidas, promíscuo, tendo um caso de amor catastrófico, Munch sofreu um colapso nervoso. Mais tarde, depois de recuperado, decidido esquecer os temas atormentados, sua obra adquiriu um tom mais otimista, porém menos emocionante.
CARACTERÍSTICAS:
Enquadramento: Os planos de enquadramento variam, mas com certeza há a predominância do plano geral, de conjunto e americano.
Composição: A composição de terços é respeitada, mas nem sempre, a maioria de suas pinturas são retratos de pessoas que são às vezes centralizadas.
Cor: As cores são fortes, não trazem a sensação de alegria, mas sim o contrário. São mais escuras, pesadas, densas, com grande contraste que serve não só para diferenciar os objetos, mas para evidenciá-los também.
Luz: Sua luz é um pouco escassa na maioria dos quadros, mas ainda assim é pesada e visa complementar a sensação já objetivada no tema. A keylight geralmente é dura, a filllight bem escassa e a backlight nem sempre utilizada, ou apenas suavemente.
O detalhamento não é tão grande, apenas os elementos essenciais são retratados e destacados.
A grande sombra, tema recorrente em Munch, representaria a memória das mortes em sua família e, mas genericamente, a consciência da proximidade do vazio, a ansiedade do próprio pintor
“O Grito” (1893)
“Acima do fiorde azul-negro, pairam nuvens vermelhas com sangue, vermelhas como línguas de fogo”, escreveu Munch, sobre “O Grito”.
Sua obra mais famosa: é a expressão da angústia humana e o medo intolerável de perder a razão.
A sua preocupação não era com a beleza, mas expressar tudo o que estava reprimido, libertar-se através da arte do “eu”.
Nesse quadro, cada linha oscila, movimenta-se, trazendo ritmos diversos. A figura que grita não tem os traços do rosto bem definidos; não se identifica o sexo; a idade e a raça, tratando-se de um rosto distorcido, uma máscara, uma caricatura, estereótipo.
Munch centraliza o rosto da figura como fontes de sons e ondas de cor, que se dilatam concentricamente no ar, espalhando o sentimento trágico da vida e a sensação de catástrofe iminente.
As linhas curvas do céu e da água, assim como a linha da ponte, conduzem o olhar do observador à boca da figura, que se abre num grito perturbador.
Não tem perspectiva e o lugar não é claro; mas, sim, caótico.
O contraste entre as cores quentes predominantes no céu ao entardecer e as cores frias que predominam no restante da imagem realçam a divisão feita pela linha do horizonte. Na sua parte inferior, as principais linhas da ponte, do rio e de suas margens convergem para o rosto do homem que está em primeiro plano. Além disso, o enquadramento, que mostra outros planos, inclusive outras duas pessoas caminhando sobre a ponte a certa distância, reforça a expressividade de dor e de solidão do grito.
E.H.Gombrich comenta:
“(...) Munch poderia ter replicado que um grito de angústia não é belo, que seria uma falta de sinceridade olhar apenas o lado agradável da vida. Pois os expressionistas sentiam tão fortemente o respeito do sofrimento humano, pobreza, violência e paixão, que estavam inclinados a pensar que a insistência na harmonia e beleza em arte nascera de uma recusa em ser sincero. A arte dos mestres clássicos, como Rafael ou Correggio, parecia-lhes insincera e hipócrita. Eles queriam enfrentar os fatos nus e crus da nossa existência, e expressar sua compaixão pelos deserdados e os feios. Tornou-se quase um ponto de honra dos expressionistas evitarem qualquer coisa que cheirasse a “boniteza” e “polimento”, e chocar o “burguês” em sua complacência real ou imaginada.”
O quadro ficou tão famoso que hoje é praticamente um clichê de alta ansiedade, mas quando a pintura apareceu causou tanto tumulto que a exposição foi fechada.
“Ciúme” (1896)
Obra intimista relacionada com acontecimentos específicos da vida do próprio Munch. “Ciúme” simboliza sua adaptação de um idioma “Art Nouveau” para fins intensamente subjetivos.
“A Vampira” (1893)
A pintura, intitulada de "A vampira", constitui uma série de quadros que perfazem a maturidade emocional do artista. Os tons lúgubres e as sombras avermelhadas despertam uma forte sensação de nostalgia. Para a época em que Munch viveu, essa concatenação de figuras representa uma cisão com o modelo artístico em voga. Fugindo ao naturalismo e à geometria utilizada para representar figuras com exatidão, na pintura do norueguês a nebulosa de sentimentos se sobrepõe a uma possível descrição do que esses mesmos sentimentos representam.
A vampira mantém a sua boca e o nariz na nuca do rapaz, unindo-se numa entrega total. A mulher com seus cabelos rubros remetem ao erotismo e consequentemente ao pecado. Seus braços torneados envolvem o rapaz, roubando-lhe as forças e deixando-o exaurido num descanso profundo, apoiado em seu colo. Trata-se de uma alegoria à sua própria vida, marcada pela doença e pelas perdas. A nuca ofertada é, na verdade, o grito sufocado, o desejo de libertação do seu próprio destino.
“A mãe morta” (1893)
Primeiro artista a representar a sua própria mãe morta. A pintura não apresenta profundidade, está sem acabamento, indo contra o fazer artístico acadêmico.
O tema deixa de ser comercial e passa a ser individual.
"A Mãe Morta e a criança" (1900): É mostrada a exata cena em que a menina olha na direção do observador e com as mãos na cabeça, como que tampando os ouvidos, parece não querer ouvir algo e está de costas para a cama como que não querendo acreditar que sua mãe está morta. Deitada na cama atrás da criança, a mulher está tão pálida e sem vida que a sua brancura se confunde com o lençol e o travesseiro sobre os quais permanece.
O contraste entre as cores quentes que predominam no primeiro plano: o chão, a pele e o cabelo da menina e, as cores frias e mais diluídas que predominam no segundo plano: a mãe morta e a cama.
Mais uma vez a expressividade das personagens transmite o seu universo interior.
“Natureza morta” (“A assassina”) (1906)
No quadro “Natureza Morta” (“A assassina”), uma mulher, possivelmente uma prostituta com um olhar vago e doentio olha diretamente na direção de quem aprecia o quadro. No ambiente, sugerindo um quarto, encontra-se uma mesa com um cesto de frutas e um bolo e, ao seu lado esquerdo, uma cama desalinhada sobre a qual se pode ver um homem ensanguentado, supostamente o assassinado do título
As pessoas não têm comunicação entre elas e estão isoladas, parecendo um momento de delírio pela falta de organização.
“Auto-retrato com garrafa de vinho” (1906)
Retrata a solidão: as pessoas estão de costas; o espaço é grande e o prato está vazio.
“A criança doente”
O pintor conseguiu captar uma cena justamente no instante em que se passa muita emoção. De um lado a menina com um olhar lânguido mostrando sua debilidade ao olhar para a mulher que, por sua vez, ao segurar sua mão, mantém a cabeça baixa evitando demonstrar seus sentimentos (talvez suas lágrimas).
A primeira coisa que vemos ao olharmos para o quadro é justamente o rosto da menina, o que não acontece por acaso: ela se encontra no foco de interesse superior-esquerdo.
O foco de luz sobre a cama contribui para a dramaticidade, bem como as cores com pouca luminosidade. Além do preto, que compõem o ambiente e as vestimentas das pessoas, o contraste com a pele das pessoas, realça mais ainda suas expressões.
“A dança da vida”
Representa o transcorrer de uma vida. O quadro deve ser lido da esquerda para a direita: é nessa direção que a vida da personagem transcorre.
No terço esquerdo da imagem, encontra-se uma moça com expressão e gestos joviais que transmite certa dinamicidade: seu vestido branco com detalhes amarelos transmite as características de pureza, jovialidade, alegria e bondade.
Toda a parte central da imagem é tomada por casais dançando. Entre casais que rodopiam alegremente, se destaca no centro um casal que se entreolha serenamente, de mãos dadas. O vestido da mulher é vermelho, o que representa a paixão, o amor e os sentimentos intensos.
No terço direito se encontre uma senhora estática com uma expressão triste e mãos unidas. Percebe-se que em seu entorno o verde do chão se torna mais escuro. Seu vestido preto transmite os sentimentos de tristeza, resignação e morte.
Deduz, então, que as três mulheres são a mesma e representam o ciclo da vida e do tempo: a juventude, a maturidade e a velhice.
“Cinzas”
A imagem retrata, assim como nos outros quadros do pintor, uma grande expressividade de sentimentos, sobretudo os negativos, como a dor, a angústia e a solidão. Nele, as duas personagens, ao levaram as mãos à cabeça, expressam sua reação de desespero, possivelmente frente a um cenário de destruição. Essa reação é evidente, principalmente, na mulher que tem seus cabelos soltos e em desalinho, olhar triste e com o vestido branco (símbolo de pureza) entreaberto (símbolo de sedução), deixando aparecer uma peça vermelha (símbolo de paixão) por baixo. Esse é o primeiro elemento a ser percebido no quadro, principalmente devido ao contraste entre seu vestido e sua coloração de pele e cabelos mais vívida em contrapartida com a pouca luminosidade do resto da composição.
O homem que está no foco de interesse inferior-esquerdo, com vestes negras e de costas para o resto da cena, é percebido depois da mulher, que está de pé mais a direita na cena, próxima a ele e com parte de seus cabelos esvoaçados sobre ele.
Madonna (1894)
Dia de Primavera na Rua Karl Johan (1891)
Nenhum comentário:
Postar um comentário