sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

SEURAT E O PONTILHISMO

PINTURA PÓS-IMPRESSIONISTA II

         (1859-1891)

Eles vêem poesia no que fiz”, disse ele uma vez. “Não, aplico meu método, só isso.” 

Georges-Pierre Seurat nasceu numa abastada família burguesa em Paris. Entre 1875 e 1877 Seurat frequenta o curso de desenho numa escola estatal noturna, que o escultor Justin Lequien dirigia. Então iniciou uma amizade com Edmond Aman-Jean.
Em 1876 estudou a Gramática das Artes do Desenho de Charles Blanc.
Em fevereiro de 1878, Seurat é admitido, juntamente com Aman-Jean, na École des Beaux-Arts e ingressou, em 19 de março, na turma de pintura de Henri Lehmann, um aluno de Jean Auguste Dominique Ingres. Ele estuda os antigos mestres no Louvre.
Em 1879 deixa a École des Beaux-Arts e arrenda com Aman-Jean e Ernest Laurent um atelier na Rue de I'Arbalète. A partir de novembro presta um ano de serviço militar em Brest. Reuniu no seu livro em um livro esboços de figuras e também estudos sobre o mar, a praia e os barcos e ocupou-se do livro de David Sutters sobre Os Fenômenos do Olhar.
Depois de seu regresso de Brest em 8 de novembro de 1880, arrenda um pequeno quarto na Rue de Chabrol, nº 19, perto da casa paterna, onde, até 1886, pinta as suas obras mais significativas.
Seurat apresenta em 1883, o desenho o “Retrato de Aman-Jean”, no Salon Oficial.




Seu “método” quase científico é conhecido como “Pontilhismo” (aplicar pontos do tamanho de confetes de cor pura, sem mistura, por toda a tela).
SEURAT afirmava que as cores complementares ou opostas, colocadas lado a lado, se misturariam no olho do espectador com maior luminosidade do que se misturadas na paleta do pintor. O todo supostamente se fundia, como um mosaico, de uma distância, mas na verdade os pontos individuais nunca se mesclam completamente, dando um efeito granulado, cintilante, à superfície.
Pelo fato de seu “método” ser demorado, SEURAT só terminou sete pinturas grandes durante sua carreira.
A partir de 1886, SEURAT trabalhou com as cores e as linhas como ferramentas, atribuindo emoções a diferentes cores e formas com o objetivo de suscitar respostas previsíveis no espectador. Para o pintor, as cores quentes (laranja, vermelho) conotavam ação e alegria, enquanto, que, as cores escuras e frias (azul e verde) evocam tristezas e, os tons médios (equilíbrio entre as cores quentes e frias) e linhas laterais transmitiam tranquilidade e êxtase.
O seu trabalho, influenciado pelos mestres da renascença, caracterizava-se por ser extremamente disciplinado e ordenado. Embora influenciado pelos impressionistas, apreciando os seus valores.
Seurat rejeitou a espontaneidade e a ausência de forma destes, e reintroduziu a estrutura e a formalidade na pintura.
O primeiro grande quadro de Seurat, “Une baignade à Asnières”, é recusado pelo Salon em 1884, no entanto, em maio, é apresentado na exposição da “Société des Artistes Indépendant”. Fora da exposição, Seurat conhece Paul Signac, com o qual em breve se ligará por uma intensa amizade.

Une baignade à Asnières”, 1884



Na oitava e última exposição dos Impressionistas, em 1886, Seurat expõe “Um Domingo à Tarde na Ilha da Grande Jatte. O crítico de arte Félix Fénéon comenta a técnica e o estilo de Seurat no quadro com uma crítica extremamente objetiva. Ele conhece através de Fénéon o jovem matemático e teórico de arte Charles Henry, cujas teorias o impressionam bastante.

Domingo á Tarde na Ilha da Grande Jatte”, 1884-1886.

Em 2 de fevereiro de 1887, Seurat participa, em Bruxelas, com Signac na abertura do Salon dos Les Vingt, onde expõe sete quadros, entre os quais “Domingo á Tarde na Ilha da Grande Jatte”. Iniciado por Signac forma-se o grupo dos Neo-Impressionistas, no qual os artistas decidem trabalhar a técnica do pontilhismo.

Em março, Seurat mostra nos Indépendants estudos do seu novo quadro “Os Modelos”.
SEURAT demorou dois anos para terminar a sua obra, e desenvolveu mais de quarenta estudos de cor preliminares.
Essa obra inspirou o musical da Broadway, “Domingo no parque com George”, de Stephen Sondheim.
O pintor manteve as cores vivas, sem mistura, dos Impressionistas, bem como seus temas de férias, céu aberto, mas acrescentou um desenho estável, baseado em formas geométricas e padrões rigorosamente calculados.
O que mais chama a atenção é a forma como o artista conseguiu criar áreas de luz e sombra: os pintinhos amarelos nos dão a ideia de luz e do sol; os pontinhos mais escuros nos sugerem as sombras causadas pelas copas das árvores e pelas sombrinhas das mulheres.


No verão, trabalha neste quadro e em “A Parada no Circo, que é influenciado pela estética de Henry. Em Janeiro de 1888, Seurat e seus amigos expõem nas salas da Revue Indépendant que é dirigida por Pénéon. O pintor passou o verão em Port-en-Bessin na Normandia, onde produz inúmeros quadros sobre o mar.

 

”A Parada no circo”, 1888

Em fevereiro de 1889, Seurat participou na renovada exposição da reunião dos artistas Les Vingt. Irritado com desavenças internas, começa a afastar-se dos seus amigos. Conhece Madeleine Knobloch e vai morar com ela, a partir de Outubro, num atelier na Passage de I'Élysée-des-Beaux-Arts. Em 16 de Fevereiro de 1890, nasce o filho Pierre George.
Nos Independants, Seurat expõe “Le Chahut” e “Jovem a Empoar-se”, um retrato de Madeleine Knobloch.

Le Chahut”, 1889.


 Jovem a Empoar-se

Seurat passa os meses de Verão em Gravelines, no Mar do Norte, onde pinta novos quadros sobre o mar. Em 7 de Setembro de 1891, o Salon do grupo Les Vingt abre em Bruxelas com, entre outros, Le Chahut e seis paisagens de Seurat. A 16 de Março, Seurat mostra no Salon des Independas, “O Circo”, ainda inacabado.


“O circo”, 1891 (inacabado)

Última pintura do artista. O quadro transmite um clima de atividade frenética. As cores ácidas (amarelo e laranja), e as linhas que se curvam para o alto dos artistas no picadeiro apresentam um vibrante contraste com relação aos espectadores mudos, enfileirados e estáticos. O artista suprimiu o detalhe para dar à cena um estilo simplificado do tipo do cartaz, semelhante à artificialidade do mundo da diversão.

Em primeiro plano vemos a cabeça e parte das costas e dos braços de um palhaço (isto é, uma inovação, apresentar, em primeiro plano, uma figura incompleta e de costas para o observador).
O palhaço e a bailarina que se equilibra no cavalo ocupam a área central; à direita está, o adestrador, o malabarista, um grupo de pessoas com o mesmo traje e, mais acima, a orquestra.
À esquerda estão o cavalo e parte da platéia. Observe como as linhas curvas predominam à direita e existe em menor número à esquerda, o que dá a impressão de que o movimento vem da direita para a esquerda e descreve um círculo, pois segue a linha do picadeiro.
Seurat morre a 29 de março de 1891, com uma angina infecciosa, três dias depois de expor a pintura “O circo” em estado inacabado. Pouco depois morre o seu filho Pierre, com a mesma infecção que vitimou Seurat.
Sua mãe pendurou “O circo” sobre seu leito de morte.


PONTILHISMO OU DIVISIONISMO

TEMA: Atividades de lazer em Paris
ASSINATURA: Cores vivas em pontos minúsculos (Pontilhismo)
TIPO: Científico, lógico
PREOCUPAÇÃO: Sistema de mistura ótica no olho do receptor
MARCAS: Superfície granulada, figuras estilizadas em aura de luz (“irradiação”; desenho chapado, preciso)
A contribuição Seurat para com as Artes fora tamanha que Pissarro afirmou:
"Você pode imaginar a dor de todos aqueles que o seguiram o que estavam interessados em sua pesquisa artística. É uma grande perda para a arte."
Tinha um gênio individualista e uma personalidade voltada para as ciências exatas. Não gostava de trabalhar em grupos, já que afirmava que quanto mais artistas se reuniam, menos originalidade cada um tinha.
Como ele mesmo disse:
"Eles vêem poesia no que fiz. Não, aplico meu método, só isso."
Seu método consistia na técnica sistemática, mais do que querer pintar de acordo com idéias solidamente científicas, ele quis representar essas próprias idéias na tela, chamada pontilhismo ou divisionismo a que ele chamou Pintura Óptica e que deu origem ao neo-impressionismo e foi extensivamente utilizada na arte do século XX. Pode-se afirmar que a teoria pontilhista foi precursora da televisão e da imagem digital.
A técnica de pintura consiste em separar as cores nas suas componentes, de maneira que, em vez de serem misturadas como pigmentos e aplicadas à tela, representassem volume, figuras, ou texturas quaisquer, desde que as vejamos à distância certa, misturadas pelo olhar. Esta técnica baseia-se na lei das cores complementares, avanço científico impulsionado no século XIX, pelo químico Michel Chevreul. Segundo os quais as cores deviam ser justapostas e não entre mescladas, deixando à retina a tarefa de reconstruir o tom desejado pelo pintor, combinando as diversas impressões registradas.
A técnica de utilização de ponto coloridos justapostos também pode ser considerada o culminar do desprezo dos impressionistas pela linha, uma vez que esta é somente uma abstração do Homem para representar a natureza., além de representarem uma simbologia cromática: as cores quentes representavam a alegria e a energia, enquanto as frias eram consideradas como tristeza e sobriedade.
Na pintura clássica, as formas eram delimitadas por linhas e as cores eram obtidas pela mistura das tintas na paleta até se chegar ao tom desejado. No Divisionismo, seguindo as idéias dos impressionistas, o tom é decomposto nas cores primárias e as formas são construídas laboriosamente, meticulosamente, pela aplicação, diretamente na tela, de minúsculas pinceladas, nitidamente separadas, mesmo a olho nu, na forma de pequenos pontos ou traços.
Essas cores primárias, justapostas e não mescladas, são combinadas na retina de quem a observa para formar o tom desejado pelo autor. A partir de certa distância, que pode ser diferente para diferentes observadores, essa imagem pontilhada passa a ser contínua, como se tivesse sido pintada por linhas e não por pontos.
Esse pontilhismo observa-se mais claramente no detalhe abaixo da sua obra "La Parade", de 1889.


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