domingo, 23 de janeiro de 2011

O MILIONÉSIMO CÍRCULO, DRª. JEAN SHINODA BOLEN, M.D.

COMO TRANSFORMAR A NÓS MESMAS E AO MUNDO
UM GUIA PARA CÍRCULOS DE MULHERES


“Círculos de Mulheres podem ser vistos como um movimento evolucionário e revolucionário que está escondido por trás de uma imagem aparente: parece ser apenas um grupo de mulheres reunidas, mas cada mulher e cada Círculo está contribuindo para algo muito maior.”
                                Jean Shinoda Bolen, “O Milionésimo Círculo”

1. ZEN E A ARTE DE MANUTENÇÃO DE UM CÍRCULO:

A mulher durante muito tempo foi condenada a limites impostos pela sociedade patriarcal. Ao se libertar do mundo limitado em que vivera condenada, ampliou o seu círculo de autoconhecimento, mudou o seu comportamento, alterando, dessa forma, todo o contexto histórico, cultural e social de uma época, iniciando um novo tempo.
A DRª. JEAN SHINODA BOLEN, M.D., analista junguiana, professora clínica de psiquiatria, feminista, ativista e autora entre outras obras, em sua obra “O Milionésimo Círculo – Como transformar a nós mesmas e ao mundo – Um guia para Círculos de Mulheres”, disserta sobre a importância sobre o poder e a força que as mulheres detêm quando reunidas em Círculos igualitários.


Utilizando-se de uma linguagem poética e metafórica e explorando do lirismo, almeja atingir pessoas sensíveis, comunicando-se através da linguagem da alma.

Drª. Bolen relata suas experiências vivenciadas em Círculos de Mulheres, das quais participou desde 1985 e suas influências inovadoras.
Através do flashback, a escritora narra que no primeiro Círculo, após a quebra da confiança, o Círculo dissolveu-se, porém deixou-lhe um grande aprendizado; já, no segundo, um Círculo de Oração, ela é integrante há mais de 14 anos, e, o terceiro Círculo é formado de comitês e de grupos executivos.
No primeiro Círculo aprendeu que a desunião e a falta de confiança resultam na desarmonia; no segundo, que o incentivo ao psique, o autoconhecimento e a doação são forças motivadoras á transformação do indivíduo, e, o terceiro Círculo, apresentou-lhe o caminho para a produtividade, o uso efetivo do poder e da persona, comprovando que “os rituais e as cerimônias estimulam a imaginação e são um meio para a criatividade e a espiritualidade.”
A autora de “O Milionésimo Círculo” recorre á metalinguagem e expõe seus objetivos e preocupações em auxiliar as mulheres a seguirem seu caminho através da sabedoria, do desenvolvimento de consciência e do autoconhecimento, formando e participando de Círculos de Mulheres.
O Círculo formado em ambientes de trabalho e comunitários só traz benefícios, pois combate a desigualdade e a hierarquia, adequando a cooperação e a aproximação emocional entre seus integrantes. Embora, na visão masculina, são vistos com descaso, tidos como ingênuos e, não ameaçadores, estes Círculos são essenciais à harmonia, ao equilíbrio e à clareza, proporcionando um bem estar para seus membros e toda a sociedade.
A obra alerta às mulheres que tiveram problemas com algum Círculo de Mulheres a repensarem nesta experiência drástica e buscarem através da leitura desta obra, soluções e diretrizes para um novo Círculo de Mulheres com objetivos bem definidos entre seus participantes.
DRª. BOLEN termina esse capítulo reafirmando a contribuição que o Círculo de Mulheres proporciona individualmente e ao coletivo, agindo como agentes de transformação individual, social e espiritual.

2. COMO MUDAR O MUNDO – O MILIONÉSIMO CÍRCULO

“O Milionésimo Círculo” é uma organização de mulheres que acreditam nos Círculos como meio de transformação do mundo.
A obra traça uma intertextualidade com a fábula alegórica inspirada na hipótese científica desenvolvida pelo biólogo Rupert Sheldrake, reescrita por Ken Keynes Junior, “Teoria do Campo Mórfico” que diz “que uma mudança no comportamento de uma espécie ocorre quando uma massa crítica – um número exato necessário – é alcançado”, propõe um guia prático de mudanças de hábitos a partir da iniciativa de um único membro (no caso, exemplificada pela macaca Imo) que pode transformar “um todo”, conscientizando e formando uma massa crítica e promovendo uma evolução social, política e cultural, mudando todas as relações que o cercam.

Como Imo e seus amigos

Segundo, Dra. BOLEN, para realmente ocorrer uma mudança na estrutura do patriarcado, deverá haver um Milionésimo Círculo, onde a sabedoria feminina se manifeste e materialize através de um Círculo de Mulheres.
O Círculo simboliza a totalidade do grupo e sua integração. A comunicação ocorre através de uma linguagem especial, subjetiva, introspectiva e na forma espiral de cada tema, onde as mulheres compartilham mutuamente suas experiências, ansiedades e sonhos.
Uma grande diversidade de Círculos de Mulheres surgiu ao longo dos tempos e inspirados na lição de Imo de inovar para transformar: “é muito mais que uma experiência da geração atual, especialmente um Círculo Sagrado.”

Veja Um, Faça Um, Ensine Um

Participar de um Círculo é concretizar a experiência do Uno, buscar a jornada do reencontro, do aprimoramento e da transcendência do Sagrado Feminino, anulando os preconceitos, as diferenças e a individualidade para vivenciar o coletivo.

Transformando a si mesma e sua participação no patriarcado

O Círculo atua como centro neutralizador das diferenças, além de promover o porto seguro de todas as mulheres que o compõem, servindo como centro de referência, agente de transformação e apoio, inspirando segurança e promovendo de forma intimista o descobrimento pessoal, revelando-se a si e ao outro.

De um Círculo ao Milionésimo Círculo

A expansão do Círculo segue um ritmo ativo. Qualquer integrante de um Círculo pode convidar outros membros, formar outros círculos ou mudar de Círculo, divulgando experiências vividas e aperfeiçoando cada vez mais até atingir o objetivo principal: o Milionésimo Círculo, a busca pela totalidade.

3. FORMANDO O CÍRCULO – QUEM, O QUE, ONDE, QUANDO?

"Quando um número crítico de pessoas muda a forma de pensar e se comportar, a cultura também muda e uma nova era se inicia."


Pensar em algo novo significa buscar novos significados, evoluir perante os desafios e enfrentar o desconhecido.

Participar de um Círculo de Mulheres é manifestar o desejo de caminhar em conjunto, “viver” outras vidas, permitir sentir emoções e sensações, compreender um pouco mais de si própria e estar em equilíbrio com o corpo e o espírito, desenvolvendo uma melhor consciência participativa e cooperativa.
Os Círculos incentivam a conexão e a integração entre suas participantes e objetivam através do apoio mútuo, evocar experiências pessoais compartilhando-as com o Círculo, na tentativa de direcionar cada participante a encontrar sua própria subjetividade e através de relações significativas, identificar-se com o outro, contribuindo à formação de uma identidade recíproca.
Experiências anteriores fortalecem o novo Círculo e o diálogo é o veículo essencial para manter o equilíbrio entre os participantes.
A disponibilidade das participantes, o tempo e o grau de interesse são fatores importantíssimos para a estrutura do grupo, como a escolha do espaço, a determinação de horário conveniente e a organização das próximas reuniões com o Círculo, além da exposição sincera dos objetivos e dos ideais traçados pelo grupo.
- Divulgar a intenção de formar um Círculo através dos meios de comunicação e enfatizar a importância de reciprocidade nestes Círculos, como se tecessem uma “colcha de retalhos”;
- Lembrar que nos anos 60-70 mulheres se organizaram em defesa social de outras mulheres, através de marchas, centro de apoio, abrigo de mulheres estupradas, violentadas etc, desempenhando o papel de defensoras das causas da mulher, integrando um movimento feminista, resgatando nos encontros as condições que favorecem nosso crescimento espiritual, encorajando o autoconhecimento e autoconfiança;
- Dirigir as discussões do círculo visando uma causa justa ou em um projeto como um ritual sagrado, abrangendo o psicológico e o espiritual conjuntamente;
- Escolher um lugar apropriado para os encontros, onde os ruídos externos e nem os internos perturbem a ordem do cotidiano.
- Além da questão espacial, o tempo é um fator de muita importância, porém de muita flexibilidade, podendo ocorrer, semanalmente, quinzenalmente e até anualmente dependendo da necessidade do Círculo. Com a tecnologia avançada, existem os “Círculos Cibernéticos” na internet que se comunicam online.
- Conciliar os encontros com base na horizontalização dos processos decisórios, na discussão, solução de problemas e na administração de conflitos são alguns dos desafios a serem enfrentados pelo círculo.

4. CENTRANDO O CÍRCULO



Em um Círculo de Mulheres, o centro simboliza o núcleo de energia que irradia iluminação às participantes, tornando-se especial e sagrado. Esse centro invisível representa o eixo intermediário entre as mulheres do círculo e a busca pela purificação.

A “revelação” é subjetiva e manifestada no interior das mulheres por meio de uma “viagem” que se inicia com a concentração, crescimento e entrega de “si próprio” para com o Círculo. É importante, conscientizar as participantes sobre o destino desta “viagem” e avaliar a disposição das mesmas em segui-la.

Centrando o Círculo: preparação

1. Preparar um espaço físico para receber as participantes, remete-nos a criar um lugar sagrado/altar em torno do qual as mulheres irão se encontrar;
2. A transferência do mundo social para o Círculo sagrado exige atenção das participantes, portanto, deve ser planejado antecipadamente;
3. Promover a concentração para a desvinculação do foco externo para o foco interno;
4. Atentar ao conforto e a tranquilidade de todas participantes, transmitindo-lhes segurança;
5. Lembrar-se que o primeiro encontro do Círculo é o início e único, refletindo dessa forma, nos outros encontros posteriores;
6. Manter-se interligada ao centro do Círculo, absorvendo a energia irradia por ele.

Centrando o Círculo: o que você pode fazer

A estimulação da atenção para o centro do Círculo pode ser conseguida através de recursos sonoros como um som de sino ou tambor, um canto, um murmúrio ou recursos visuais, exemplo, uma vela. A importância desse ato favorecerá todo o Círculo.


5. UM CÍRCULO DE IGUAIS

O Círculo permite a participação de todas as mulheres em igualdade de tempo, espaço e condições sociais. Atingir essa perfeição requer insistência, integração, comprometimento e dinamismo. O reconhecimento dos limites e dos diferenciais de cada participante do círculo permitem o crescimento integral do grupo.
As decisões do Círculo devem basear-se na transparência e sinceridade de todas integrantes. Não são aceitas falsidades e co-dependência que porventura desestruturem o Círculo.
Cada integrante deve expor sua opinião e, sobretudo, sua transformação, limitando-se falar por si e relatar somente suas experiências para com o Círculo.
É comum algumas integrantes serem mais extrovertidas e concluírem suas experiências com mais rapidez que outras. Nesse caso, deve-se superar essa dificuldade eliminando-o de maneira que todas sejam capazes de se expressarem.
O caminho para que ocorra essa fluidez no Círculo de Mulheres deve ser gradativamente, sustentando a confiança do grupo entre si, gerando maior entrega e acolhimento das diferenças.

Praticando a equidade: conferir e ouvir a todas

São diversas as reflexões em um Círculo de Mulheres e as temáticas variam sobre dúvidas existenciais, saúde, relacionamentos, trabalho, criatividade, vida espiritual ou política constituindo uma cadeia de exposições de ideias, opiniões e sentimentos compartilhados sem substituir a terapia e nem cair na banalidade.

O “bastão da fala”

O ouvir, o falar e o silêncio são peças de igual importância e, deve-se respeitar uma ordem e respeito ao se expressar, falando uma de cada vez, afinal, são falas de experiências vividas e vindas do coração e oferecidas ao Círculo.
O “bastão da fala” é uma tradição nativa norte-americana e praticada ao longo dos anos e confere à pessoa o poder e direito a fala. Em seus conselhos, as anciãs e as mães dos clãs ao reunirem-se, utilizam-se desse recurso como símbolo de aprendizagem ao dever de ouvir. O bastão que fala passa de pessoa a pessoa, à medida que a reunião se processa. Somente a pessoa que segura o Bastão tem o direito de falar naquele momento. Cada membro deve ouvir o que está sendo dito de forma que quando chegar a sua vez, não repita as informações já passadas e nem faça perguntas impertinentes. O objetivo principal desse instrumento é que cada um de nós aprenda a honrar o Sagrado ponto de vista de todas as criaturas vivas, assim como a sabedoria e os ensinamentos dos outros para ampliar o nosso conhecimento.
O “bastão da fala” ou qualquer outro objeto que detêm a mesma função deve ser consagrado como um objeto mágico, pois simboliza a detenção da sabedoria existente no centro do Círculo e seus integrantes. São figuras de linguagem que representam apoio e incentivo aos integrantes do grupo, pelo fato de que todas no Círculo podem e devem se expressar da mesma forma, independente do grau hierárquico.

Peça a opinião de uma participante silenciosa

A participação de todas as mulheres, no Círculo de Mulheres, perfaz o equilíbrio do Círculo. Assim, quando alguma participante mantém-se calada é necessário que a integrem ao grupo, questionando-a sobre suas percepções.

Reflexões

Escolher corretamente a música é uma difícil tarefa.

“Cada mulher é um instrumento individual, tocando individualmente juntas, algumas vezes lamentando, algumas vezes atingindo agudos, algumas vezes melódica, sempre no agora”.

A conscientização de que “tocar juntas como iguais requer prática e presença” demanda ponderação na hora e vez de ser solista como, também, de calar e ouvir com o coração.

6. UM CÍRCULO PRECISA SER SEGURO




Para haver segurança em um Círculo deve-se ter como base a confiança e perseverança do conteúdo. O Círculo representa o símbolo da perfeição, aquilo que começa e acaba em si mesmo, da unidade, do infinito e do absoluto. Com a quebra da linha, o Círculo deixa de existir.

Uma mulher ao desabafar deve sentir-se segura, tendo certeza de que sua história será respeitada e confidencial, portanto deve ser ouvida com discernimento em vez de julgamento.
A autora compara o Círculo de Mulheres com um útero de possibilidades, sonhos e ideais que germinam. Quando a mulher sente-se pronta para expelir suas ideias e é ridicularizada, ela sente-se bloqueada e aborta o que poderia emergir.

Reflexões

Um Círculo não exerce função terapêutica e nem substitui a terapia. Embora, muitas mulheres encontraram sua cura, em Círculos de Mulheres.

7. UM CÍRCULO COM PROBLEMAS

Em qualquer relacionamento pode surgir problemas, desentendimentos e desequilíbrios, com os Círculos de Mulheres não ocorre diferente. Fatores externos à vontade do Círculo podem vir prejudicá-lo.
Entre eles, a quebra de confiança, incompatibilidade de personalidades, projeções negativas, julgamento, mágoas, falta de comprometimento e de responsabilidade, atrai energias negativas que interferem no andamento e no equilíbrio do Círculo.
A presença de mulheres não confiáveis e superficiais em um Círculo de Mulheres acarreta conflitos, pondo fim ao Círculo.
As participantes do Círculo de Mulheres devem ter consciência que não se trata de um encontro que tenha a função de resolver todos os males e quando ocorrer de alguma participante ter problemas específicos e crônicos, o Círculo deve-se manter aliado, disposto a ajudar, apoiar e aprender através dessa união, mas não apresentar a solução.
O Círculo corre o risco de tornar-se não funcional gerando desinteresses entre seus membros e esvaziá-lo, dessa forma, “o Círculo estará, então, agindo como uma família disfuncional, cujos membros temem falar sobre o quanto se sentem desconfortáveis ou frágeis.”
O compromisso, a responsabilidade e a assiduidade podem ser fatores que interferem e afastam algumas mulheres do Círculo.
Algumas participantes não conseguem adaptar-se à igualdade das outras nem comunicar-se com o seu centro e com o centro do Círculo, como também, pode ocorrer que uma integrante decida abandonar o Círculo causando desconforto para as participantes, desencadeando sentimentos de culpa, dúvida, raiva e abandono. Essas posturas e comportamentos podem vir atrapalhar o andamento do Círculo e dessa maneira, fica inviável a sua participação, pois estão quebrando algumas regras básicas de um Círculo de Mulheres.
A maturidade do Círculo manifesta quando atitudes são repensadas e aceitas individualmente como em grupo e principalmente, quando concluem que algumas decisões importantes são necessárias e que muitas não acarretam em perdas e sim, em melhorias para um todo.
Um Círculo ao apresentar diversos problemas, pode na realidade estar apresentando os primeiros sinais de sua extinção.
Às vezes, muitos empecilhos e entraves ocorrem em um Círculo de Mulheres e são difíceis de serem superados ou contorná-los, principalmente quando o Círculo não está em sintonia com suas participantes, com o seu centro e com os objetivos específicos do mesmo, impossibilitando a sua continuidade.
Para que a dissolução de um Círculo não seja um fato dramático na vida de suas integrantes, os conflitos devem ser encarados como aliados e os problemas como forma de aperfeiçoamento e maturidade para a solução, evitando um vago sentimento de fracasso.
Caso, a melhor solução seja o término do Círculo, ressaltar a importância de superarem esses obstáculos iniciais e não recuaram e nem desanimaram, e, sim, formaram outros Círculos de Mulheres instituídos na base da lealdade, doação e aceitação.

Como manter um Círculo saudável

1. Salientar a responsabilidade de cada participante com relação à intenção e a imagem de um Círculo como um centro, principalmente nas dificuldades que vierem acontecer e decidir em conjunto todas as decisões a serem tomadas.
2. Cada participante deve identificar o seu próprio centro e através da meditação e do silêncio, pedir zelo para si e para o Círculo.
3. Refletir sobre o estado de sua psique e analisar se está fora de centro ou se o Círculo está fora de centro e perceber a possibilidade de ser parte do problema.
4. Perceber quando a energia do grupo estiver baixa e propondo uma reflexão sobre o assunto. Caso o problema detectado exigir uma atenção especial, é momento de discutir o assunto entre as participantes e solucioná-lo.
5. Manter confidencial as discussões do Círculo, evitando problemas de fronteiras/limites para todo o Círculo.
6. Ressaltar a igualdade entre as participantes e não permitir o destaque de qualquer mulher do Círculo correndo o risco dela falar pelo grupo ou por participantes caladas. Assim, fale de sua própria experiência e crenças em vez de falar para os outros
7. Cuidar da imagem passada a outras mulheres, lembrando que o Círculo de Mulheres reflete “o que cada uma vê de si mesma nas palavras e nos gestos das demais”, buscando sempre, o aprimoramento e a transformação, estimulando e acolhendo diversos pontos de vista.
8. Superar a saída de uma mulher do Círculo, de maneira amena, promovendo ritual que marque seu significado para as mulheres e para o Círculo.
9. Conscientizar que a saída de uma mulher que tem um problema que foge da altura do Círculo ajudá-la é necessária e desejar que “talvez alguma coisa ajude, talvez nada, a não ser o tempo.” Assim, o Círculo deve oferecer experiência em vez de conselho.
10. Lembrar-se que um Círculo de Mulheres não é perfeito.

Reflexões

Segundo, a DRª. BOLEN, “o arquétipo do Círculo pode ser perfeito, mas um Círculo de Mulheres nunca é”, partindo dessa afirmativa, o Círculo de Mulheres deve atentar-se ao seu centro e quando ocorrer algum desvio, buscar na sabedoria a continuidade para o Círculo atingir os seus objetivos contornando os obstáculos.

8. O CÍRCULO CERIMONIAL

Um Círculo de Mulheres é um ritual de beleza, de forma, de espaço e delimitado pelo intróito e o fechamento.
O Círculo retomando a Antiguidade possui um centro que simboliza o fogo sagrado no centro de uma lareira redonda, representando a fonte de luz e calor, representado por Héstia, divindade feminina, Deusa da Lareira e do Templo.


No Círculo de Mulheres o centro visível corresponde ao espaço do altar que é renovado e recriado a cada encontro como num círculo cerimonial, um ritual sagrado.

A elaboração de uma cerimônia deve seguir um planejamento direcionando os objetivos específicos para evitar o desvio do seu real significado. Deve-se atentar ao fato de que a organização e a preparação como o seu feitio é um desafio, lembrando-se de que se trata de um Círculo de Mulheres e que a essência de um Círculo de Mulheres é invisível.

O toque cerimonial

“A chama é um símbolo visível de um fogo invisível que é espírito, alma, sabedoria, iluminação, coração, e fogo em torno do qual nos reunimos.”

Velas no centro, velas votiva, velas flutuando, castiçal, uma toalha colorida ou um xale para cobrir o altar, flores embelezam e reproduzem no espaço o caráter cerimonial.

Invocando o círculo


A preparação do Círculo deve ser de forma provocadora e ritualística, pois tem como objetivo atrair a atenção das participantes, promovendo a ruptura das mesmas com o mundo terrestre e transportando-as para o Espaço Sagrado.

Não há nenhuma regra pré-estabelecida para o processo de iniciação, mas o chamamento pode ser conseguido através de recursos sonoros, visuais, performático etc, o importante é que as participantes percebam que se trata de uma fase de meditação.
Uma vez que esse estado meditativo tenha sido alcançado, segue-se a fase da concentração que será conquistada através do centro. É essencial que as participantes concentrem-se nesse centro, pois ele será o principal condutor da meditação, ocorrendo a (re)conexão com a sacralidade feminina e seus ritos de passagem.

Cerimônias e celebrações

As cerimônias podem ter caráter de um ritual pessoal, marcando um final de relacionamento ou um final de um período de luto; ou um rito de passagem, relacionando com os ciclos da vida que marcam finais e começos, em ocasião de alguma doença grave ou de transição.
Um ritual é um ato criativo, performático e ultrapassa os limites do mundo terrestre e são “tão elaborado quanto uma catedral, ou tão simples quanto uma observação silenciosa.”

Fechando o Círculo

Tanto a abertura como o fechamento das atividades dos Círculos de Mulheres devem ser valorizadas: proferir algumas palavras ou silenciar-se; sons e quietude e até o ato de apagar as velas corresponde ao ritual de fé, de iluminação, purificação que une as participantes até o próximo encontro.

Reflexões

Refletir sobre a importância das reproduções deste ato baseando-se nos peregrinos do Himalaia que ao se encontrarem nas trilhas das montanhas, unem as mãos no gesto universal de oração, curva-se e dizem Namaste.

“A divindade em mim saúda e a divindade em ti.” (“A Deusa em mim acolhe a Deusa em ti.”)

9. O MILIONÉSIMO CÍRCULO

A civilização ocidental tem longa tradição e aliança com a história do patriarcado. O autoritarismo, o poder e a hierarquia resultaram num caminho que levou ao avanço da tecnologia culminando em guerras, devastações, poluições, queimadas, toxicidade, capitalismo etc.

A Lenda do Santo Graal é uma história planetária

A lenda do Santo Graal, de origem incerta, alastrou-se ao longo da história e produziu inúmeras versões. A possibilidade da existência desse artefato inspirou epopéias e incorporou ideais de espírito aventureiro e heróico em busca da relíquia que curassem todos os males.
Citações ao Graal aparecem em quase todas as muitas versões e a mais famosa dessas sagas, é a do Rei Artur e os Cavaleiros da Távola Redonda.
Outra conhecida versão remete a lenda do Rei Pescador (símbolo do poder e do patriarcado), que, dono de uma ferida incurável, é soberano de um reino triste e decadente, arrasado pela fome e pelo sofrimento. Segundo a história, o rei só seria curado e suas terras recuperadas quando um cavaleiro de espírito puro e de ideais elevados encontrar o castelo – e, nele, o cálice.
Alguns acreditam tratar-se do cálice sagrado utilizado por Jesus Cristo na Última Ceia remetendo ao ritual da missa onde somente o padre pode segurar e levantar o cálice, representando o Graal.

“No entanto, na lenda do Graal é sempre uma mulher, a sacerdotisa do Graal, que segura esse cálice, símbolo do sagrado feminino, em útero cheio de sangue que desapareceu do mundo.”

Curiosamente, a lenda do Santo Graal incorpora um simbolismo muito anterior à religião cristã. Na tradição das antigas doutrinas pagãs, que cultuavam um deus supremo sob forma feminina, a Deusa, o cálice representava o princípio feminino, a maternidade e a fecundidade.
Até hoje, esse objeto sagrado motiva a uma jornada interior. Aquela em que, ao final, encontra-se a própria taça, repleta de amor, compaixão e bondade e descrevem a eterna busca do ser humano por um objeto mágico e misterioso, capaz de curar as feridas do corpo e do coração, prolongar a existência e, ao fim, trazer respostas sobre o sentido e o significado da vida.
A saga medieval da procura da taça é, na verdade, uma metáfora sobre a viagem espiritual que todo ser humano empreende ao decidir trilhar o caminho em direção ao autoconhecimento em busca de felicidade e realização pessoal. Em um tempo de incertezas, o Graal guarda lições inspiradoras.

A premissa e o poder do Milionésimo Círculo

O Círculo de Mulheres está promovendo uma grande revolução pacífica do mundo, um movimento da espiritualidade feminina através das mulheres curadoras. E, deixa uma pergunta para refletirmos: “será que a cultura vai conseguir dar uma reviravolta?”

CONSIDERAÇÕES FINAIS:


• DRª. BOLEN, de forma direta, mas com grande maestria, recorda que com o advento do patriarcado, a mulher foi colocada numa posição de submissão, causando desigualdades sem precedentes e, somente algumas vezes, foram relembradas como portadoras do sagrado feminino.


• A autora explicita a importância de “re-unir” Círculos de Mulheres a fim de partilhar experiências, transformar seu mundo pessoal e atingir a universalidade, através do apoio mútuo, e principalmente resgatar o feminino sagrado, acelerando a mudança da humanidade e contrapondo-se ao modelo patriarcal vigente.

• Segundo, “O Milionésimo Círculo", quando um número crítico de pessoas muda a forma de pensar e se comportar, a cultura também muda e uma nova era se inicia.

• Mulheres inspiradas por essa teoria aderiram às palavras da antropóloga Margaret Mead, que diz: “Nunca duvide que um pequeno grupo de cidadãos conscientes e comprometidos podem mudar o mundo; na verdade, é a única maneira disto acontecer.”

• A proliferação de Círculos de Mulheres tornou-se uma força curadora mundial ao trazer valores femininos, aflorando toda a sabedoria intrínseca deste universo e objetivando o equilíbrio do “eu” para com o grupo e para a consciência planetária.

• Além de trazer uma série de reflexões reveladoras às mulheres, o Círculo propõe a percepção de que o desenvolvimento individual é um fator determinante das relações sociais, demonstrando que atitudes individuais geram consequências e por isso, mudanças de atitude são necessárias.

• Participar de um Círculo de Mulheres é fazer parte de uma revolução pacífica e de um movimento de espiritualidade feminina, voltada a uma experiência de aprendizado e crescimento, numa compreensão de que as relações devem ser cooperativas, curadoras e não hierárquicas, exigindo compromisso e coragem de cada mulher que o compõe.

• Dessa forma, vivenciar o Círculo de Mulheres é uma experiência transformadora: estimulam, alimentam, curam, potencializam e preparam as mulheres para agirem de forma mais sadia, produtiva e feliz tanto em seus espaços domésticos quanto nas esferas públicas.

A forma geométrica do círculo é uma fonte de múltiplos significados, entre eles, o signo da harmonia, além de representar o universo, o espírito, a essência, a transcendência, a unidade de toda a existência e a totalidade, sendo assim, a simbologia mítica do tempo infinito, cíclico e universal.

• Desde os tempos mais antigos e de culturas diversificadas, o círculo envolve o imaginário e a espiritualidade de todos os povos, indicando sempre o mais importante aspecto da vida – sua extrema e integral totalização que converge para o centro.

• Seu centro é a origem primordial de toda energia e de todas as possíveis manifestações nele contidas.

• O círculo está ligado diretamente com as danças sagradas e atravessou a história de todos os tempos, sobrevivendo graças a sua representatividade: a negação da unilateralidade e a busca da circularidade do autoconhecimento e da sociabilidade.

• Segundo, “O Milionésimo Círculo”, de Jean Shinoda Bolen, “o círculo é um princípio e também uma forma. Ele age contra a ordem social, a compartimentação, superior/inferior”, elementos que remetem a quebrar paradigmas, interagirem com o seu “eu profundo” e com o desconhecido; ultrapassando os limites entre o Mundo terrestre e o Mundo espiritual; aceitando as diferenças e assimilando os conceitos de ética, respeito, igualdade, companheirismo e a cumplicidade.

• Dançar em círculos é libertar-se, movendo-se em torno de si mesma, de modo que todos os lados da personalidade sejam envolvidos e entrem em ressonância com o espírito universal.

• Através do Círculo de Mulheres, vivencia-se a busca da perfeição, da harmonia, da clareza e a ausência da distinção ou preconceitos, incorporando o sentido de integração e de unidade de opostos.

• O conceito do movimento cíclico, sem começo nem fim, instiga a repensar no presente e transpor-se ao infinito e a eternidade, pleiteando a totalidade.

• No Círculo de Mulheres na medida em que as participantes dão as mãos em círculo, a respiração acompanha o compasso de suas emoções e através de uma forma mágica, o coletivo torna-se o Uno, numa manifestação de integralidade e transcendência, recriando a ordem comum.

• A escritora, na referida obra, enumera alguns itens essenciais para a organização e para o bom desenvolvimento de um Círculo de Mulheres, ou como antecipar e resolver conflitos em potencial, ressaltando a consciência das participantes em contribuir para este movimento comum e integrar-se com o grupo; pois a desarmonia acarretará na desintegração e no distanciamento do centro, desequilibrando o grupo; além de incentivar mulheres a criar novos Círculos, aprofundar e transformar Círculos já existentes.

• No Círculo de Mulheres, as integrantes são estimuladas a participar de forma integral, encontrando um lugar seguro para exercitarem a essência, as necessidades e as possibilidades de sua alma feminina, fatores esses, que a mulher precisa “vir a ser” ou “precisa descobrir”.

• Num Círculo de Mulheres fundamentado nas bases da lealdade não cabem desavenças, desconfianças, falta de integralidade, de compromisso e hierarquias, nem mecanismos de comparação e julgamento entre as mulheres, impossibilitando a igualdade de espaço para a expressão da verdade de cada uma e limitando a individualidade.

• Para que o Círculo de Mulheres aconteça num clima de harmonia e integralidade, alguns preparativos requerem atenção, dentre eles: a recepção carinhosa às participantes num espaço especial, aconchegante, tranquilo e de acolhimento e um centro comum, disposto de objetos simbólicos e temáticos, simbolizando a iluminação, a fonte de energia que as une em roda de círculo e em torno dele, as mulheres giram e harmonizam num ritual de integração, de totalidade e de auto-reconhecimento.

• O Círculo de Mulheres, dessa forma, promove em suas participantes transformações incríveis, não só fisicamente que torna seu corpo mais leve, flexível e alegre, como também, em seu âmbito espiritual e social, induzindo a participante a pensar de forma universal e circular, elevando o individual para o equilíbrio mundial.

4 comentários:

Kliwem disse...

Que se forme o Milionésimo Círculo de Mulheres e que as bençãos possam se manifestar através dos círculos e que possa haver a cura para todos! Amém!

Kliwem disse...

Que se forme o Milionésimo Círculo de Mulheres e que as bençãos possam se manifestar através dos círculos e que possa haver a cura para todos! Amém!

Flavia Tibucheski disse...

Oi Valéria!
Fiquei muito feliz por encontrar esse texto em seu blog!! Estamos formando um Círculo de Mulheres e o livro da Jean está difícil de achar, então acabo de compartilhar seu endereço para que todas as comadres do nosso grupo possam ler pois, assim, nos alinhamos em propósito e intenção. Muito obrigada!!

Unknown disse...

gratidão por compartilhar! Que possamos curar a nós mesmas e ao planeta.