sexta-feira, 1 de março de 2024

LÍNGUA PORTUGUESA, OLAVO BILAC

 

Última flor do Lácio, inculta e bela,

És, a um tempo, esplendor e sepultura:

Ouro nativo, que na ganga impura

A bruta mina entre os cascalhos vela…

 

Amo-te assim, desconhecida e obscura,

Tuba de alto clangor, lira singela,

Que tens o trom e o silvo da procela

E o arrolo da saudade e da ternura!

 

Amo o teu viço agreste e o teu aroma

De virgens selvas e de oceano largo!

Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

 

Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”

E em que Camões chorou, no exílio amargo,

O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

 

- APOIADO NA TRADIÇÃO UFANISTA, BILAC ASSUMIU O PAPEL DE POETA CÍVICO, EXALTANDO A PÁTRIA, SUA LÍNGUA, SEUS SÍMBOLOS E HERÓIS ENGAJANDO-SE NAS CAUSAS CÍVICAS DE SEU TEMPO.

- O TÍTULO DO POEMAS JÁ INDICA A TEMÁTICA QUE SERÁ ABORDADA PELO AUTOR : O HISTÓRICO DA LÍNGUA PÁTRIA QUE REPRESENTA A MAIOR PROVA DE CIDADANIA.

 

- PRIMEIRA ESTROFE:

 

- A METÁFORA DA LÍNGUA COMO UMA FLOR,

« ÚLTIMA FLOR DO LÁCIO, INCULTA E BELA».

- INCULTA: REFERE-SE AO FATO DE A LÍNGUA PORTUGUESA TER SIDO A ÚLTIMA LÍNGUA NEOLATINA FORMADA A PARTIR DO LATIM VULGAR, OU SEJA, O LATIM POPULAR, FALADA PELOS SOLDADOS DA REGIÃO ITALIANA DO LÁCIO, PORTANTO NÃO PARTIU DOS ERUDITOS OU ECLESIÁTICOS, O QUE ENFATIZA A NATURALIDADE DA LÍNGUA PORTUGUESA.

- BELA: REFORÇA O SENTIDO DA BELEZA ASSOCIADA AO ASPECTO SIMPLES E NATURAL DA LÍNGUA. 

- NO SEGUNDO VERSO, HÁ UM PARADOXO: “ÉS A UM TEMPO, ESPLENDOR E SEPULTURA».

- “ESPLENDOR”, PORQUE UMA NOVA LÍNGUA ESTAVA ASCENDENDO, DANDO CONTINUIDADE AO LATIM ; BRILHANTE, RELUZENTE E ORIGINADA DE UMA LÍNGUA MUNDIALMENTE CONHECIDA – O LATIM.

- “SEPULTURA” PORQUE, A PARTIR DO MOMENTO EM QUE A LÍNGUA PORTUGUESA VAI SENDO USADA E SE EXPANDIDO, O LATIM VAI CAINDO EM DESUSO, «MORRENDO».

- NO TERCEIRO E QUARTO VERSO: “OURO NATIVO, QUE NA GANGA IMPURA / A BRUTA MINA ENTRE OS CASCALHOS VELA» 

- GANGA: IMPUREZAS SEM VALOR ENCONTRADOS JUNTOS DOS MINÉRIOS; RESÍDUOS.

- O POETA EXALTA A LÍNGUA QUE AINDA NÃO FOI LAPIDADA PELA FALA, EM COMPARAÇÃO ÀS OUTRAS TAMBÉM FORMADAS A PARTIR DO LATIM.

 

- SEGUNDA ESTROFE:

 

- O POETA AINDA EXPRESSA O SEU AMOR PELO IDIOMA, AGORA ATRAVÉS DE UM VOCATIVO :

- “AMO-TE, Ó RUDE E DOLOROSO IDIOMA»: ESSA DECLARAÇÃO DE AMOR É ALTAMENTE VISÍVEL POR MEIO DA INSERÇÃO DA SEGUNDA PESSOA DO SINGULAR, EVIDENCIANDO O DESTINO DA FALA DIRETAMENTE À LÍNGUA PORTUGUESA. 

- BILAC ALUDE AO FATO DE QUE O IDIOMA AINDA PRECISAVA SER MOLDADO (« RUDE ») E, IMPOR ESSA LÍNGUA A OUTROS POVOS QUE NÃO ERA UMA TAREFA FÁCIL, POIS IMPLICOU E  DESTRUIR A CULTURA DE OUTROS POVOS.

- NO VERSO: «TUBA DE ALTO CLANGOR, LIRA SINGELA», O POETA SEGUE ENALTECENDO A BELEZA DA LÍNGUA EM SUAS DIVERSAS EXPRESSÕES, COMPARANDO-A COM CANÇÕES, SONS DE INSTRUMENTOS MUSICAIS DAS GRANDES ORATÓRIAS (ALTO CLANGOR, SOM ALTO ESTRIDENTE), CANÇÕES DE NINAR, EMOÇÕES.

- OU SEJA, APESAR DE ESTRIDENTE, FORTE, PODE TAMBÉM SER SERENA, SINGELA AOS NOSSOS OUVIDOS.

- EM «TENS O TROM E O SILVO DA PROCELA», O POETA EM TOM DE INTIMIDADE, POR MEIO DO PRONOME «TU» :

- TROM: SOM DE TROVÃO ; SONS FORTES DA LÍNGUA.

- SILVO: VENTO; SONS SIBILANTES, COMO UM ASSOVIO QUE CHEGA A LONGAS DISTÂNCIAS,

COMO O VENTO.

- PROCELA: FORTE TEMPESTADE NO MAR COM VENTO INTENSO E GRANDES ONDAS.

- QUER DIZER, É A LÍNGUA QUE DESABROCHA PELOS DESCOBRIMENTOS PORTUGUESES E GANHA O MUNDO.

- «E O ARROLO DA SAUDADE E DA TERNURA!»

- ARROLO: SOM DAS POMBAS – TRATA-SE DA DIVERSIDADE DE SONS SUAVES E FORTES, EVOCA CHEIRO.

 

- PRIMEIRO TERCETO:

 

- «AMO O TEU VIÇO AGRESTE E O TEU AROMA»

- VIÇO: VIGOR EM TODA PARTE, INCLUSIVE NO «AGRESTE».

- SINESTESIA: IDEIA DE AROMA E BELEZA RÚSTICA.

- «DE VIRGENS SELVAS E DE OCEANO LARGO!»

- APONTA A RELAÇÃO SUBJETIVA ENTRE O IDIOMA NOVO.

- “VIRGENS SELVAS»: FAZ ALUSÃO AO DESCONHECIDO DAS FLORESTAS AINDA NÃO EXPLORADAS PELO HOMEM BRANCO.

- “OCEANO LARGO»: MANIFESTA A MANEIRA PELA QUAL A LÍNGUA FOI TRAZIDA AO BRASIL, ATRAVÉS DO « OCEANO LARGO », NUMA LONGA VIAGEM DE CARAVELA.

- «AMO-TE, Ó RUDE E DOLOROSO IDIOMA»: ALUDE À DIFICULDADE DE SE ENTENDER AS REGRAS E AS EXCEÇÕES.

 

- SEGUNDO TERCETO:

 

- «EM QUE DA VOZ MATERNA OUVI: MEU FILHO

- FICA EVIDENTE O PAPEL MATERNO DA LÍNGUA PORTUGUESA, PORTANTO, PERSONIFICADO E DE LONGA VIDA.

- «E EM QUE CAMÕES CHOROU, NO EXÍLIO AMARGO,

O GÊNIO SEM VENTURA E O AMOR SEM BRILHO!»

- HÁ UM ELO ENTRE O EU POÉTICO E CAMÕES, QUEM CONSOLIDOU A LÍNGUA PORTUGUESA NO SEU CÉLEBRE LIVRO «OS LUSÍADAS», UMA EPOPEIA QUE ESCREVEU PROVAVELMENTE QUANDO ESTEVE EXILADO, NAS COLÔNIAS DA ÁFRICA E DA ÁSIA.

 

- Esse poema inspirou “Língua”, de Gilberto Mendonça, e a letra da canção “Língua Portuguesa”, de Caetano Veloso.

 

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