Última flor do Lácio,
inculta e bela,
És, a um tempo,
esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na
ganga impura
A bruta mina entre os
cascalhos vela…
Amo-te assim,
desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor,
lira singela,
Que tens o trom e o
silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
- APOIADO NA TRADIÇÃO
UFANISTA, BILAC ASSUMIU O PAPEL DE POETA CÍVICO, EXALTANDO A PÁTRIA, SUA
LÍNGUA, SEUS SÍMBOLOS E HERÓIS ENGAJANDO-SE NAS CAUSAS CÍVICAS DE SEU TEMPO.
- O TÍTULO DO POEMAS JÁ
INDICA A TEMÁTICA QUE SERÁ ABORDADA PELO AUTOR : O HISTÓRICO DA LÍNGUA
PÁTRIA QUE REPRESENTA A MAIOR PROVA DE CIDADANIA.
- PRIMEIRA ESTROFE:
- A METÁFORA DA LÍNGUA
COMO UMA FLOR,
« ÚLTIMA FLOR DO
LÁCIO, INCULTA E BELA».
- INCULTA: REFERE-SE AO FATO DE A
LÍNGUA PORTUGUESA TER SIDO A ÚLTIMA LÍNGUA NEOLATINA FORMADA A PARTIR DO LATIM
VULGAR, OU SEJA, O LATIM POPULAR, FALADA PELOS SOLDADOS DA REGIÃO ITALIANA DO
LÁCIO, PORTANTO NÃO PARTIU DOS ERUDITOS OU ECLESIÁTICOS, O QUE ENFATIZA A
NATURALIDADE DA LÍNGUA PORTUGUESA.
- BELA: REFORÇA O
SENTIDO DA BELEZA ASSOCIADA AO ASPECTO SIMPLES E NATURAL DA LÍNGUA.
- NO SEGUNDO VERSO, HÁ
UM PARADOXO: “ÉS A UM TEMPO, ESPLENDOR E SEPULTURA».
- “ESPLENDOR”, PORQUE
UMA NOVA LÍNGUA ESTAVA ASCENDENDO, DANDO CONTINUIDADE AO LATIM ;
BRILHANTE, RELUZENTE E ORIGINADA DE UMA LÍNGUA MUNDIALMENTE CONHECIDA – O
LATIM.
- “SEPULTURA” PORQUE, A
PARTIR DO MOMENTO EM QUE A LÍNGUA PORTUGUESA VAI SENDO USADA E SE EXPANDIDO, O
LATIM VAI CAINDO EM DESUSO, «MORRENDO».
- NO TERCEIRO E QUARTO
VERSO: “OURO NATIVO, QUE NA GANGA IMPURA / A BRUTA MINA ENTRE OS CASCALHOS
VELA»
- GANGA: IMPUREZAS SEM
VALOR ENCONTRADOS JUNTOS DOS MINÉRIOS; RESÍDUOS.
- O POETA EXALTA A
LÍNGUA QUE AINDA NÃO FOI LAPIDADA PELA FALA, EM COMPARAÇÃO ÀS OUTRAS TAMBÉM
FORMADAS A PARTIR DO LATIM.
- SEGUNDA ESTROFE:
- O POETA AINDA EXPRESSA
O SEU AMOR PELO IDIOMA, AGORA ATRAVÉS DE UM VOCATIVO :
- “AMO-TE, Ó RUDE E
DOLOROSO IDIOMA»: ESSA DECLARAÇÃO DE AMOR É ALTAMENTE VISÍVEL POR MEIO DA
INSERÇÃO DA SEGUNDA PESSOA DO SINGULAR, EVIDENCIANDO O DESTINO DA FALA
DIRETAMENTE À LÍNGUA PORTUGUESA.
- BILAC ALUDE AO FATO DE
QUE O IDIOMA AINDA PRECISAVA SER MOLDADO (« RUDE ») E, IMPOR ESSA
LÍNGUA A OUTROS POVOS QUE NÃO ERA UMA TAREFA FÁCIL, POIS IMPLICOU E DESTRUIR A CULTURA DE OUTROS POVOS.
- NO VERSO: «TUBA DE ALTO CLANGOR, LIRA SINGELA», O POETA SEGUE ENALTECENDO
A BELEZA DA LÍNGUA EM SUAS DIVERSAS EXPRESSÕES, COMPARANDO-A COM CANÇÕES, SONS
DE INSTRUMENTOS MUSICAIS DAS GRANDES ORATÓRIAS (ALTO CLANGOR, SOM ALTO
ESTRIDENTE), CANÇÕES DE NINAR, EMOÇÕES.
- OU SEJA, APESAR DE
ESTRIDENTE, FORTE, PODE TAMBÉM SER SERENA, SINGELA AOS NOSSOS OUVIDOS.
- EM «TENS O TROM E O
SILVO DA PROCELA», O POETA EM TOM DE INTIMIDADE, POR MEIO DO PRONOME
«TU» :
- TROM: SOM DE TROVÃO ;
SONS FORTES DA LÍNGUA.
- SILVO: VENTO; SONS
SIBILANTES, COMO UM ASSOVIO QUE CHEGA A LONGAS DISTÂNCIAS,
COMO O VENTO.
- PROCELA: FORTE
TEMPESTADE NO MAR COM VENTO INTENSO E GRANDES ONDAS.
- QUER DIZER, É A LÍNGUA
QUE DESABROCHA PELOS DESCOBRIMENTOS PORTUGUESES E GANHA O MUNDO.
- «E O ARROLO DA
SAUDADE E DA TERNURA!»
- ARROLO: SOM DAS POMBAS
– TRATA-SE DA DIVERSIDADE DE SONS SUAVES E FORTES, EVOCA CHEIRO.
- PRIMEIRO TERCETO:
- «AMO O TEU VIÇO
AGRESTE E O TEU AROMA»
- VIÇO: VIGOR EM TODA
PARTE, INCLUSIVE NO «AGRESTE».
- SINESTESIA: IDEIA DE
AROMA E BELEZA RÚSTICA.
- «DE VIRGENS SELVAS E
DE OCEANO LARGO!»
- APONTA A RELAÇÃO
SUBJETIVA ENTRE O IDIOMA NOVO.
- “VIRGENS SELVAS»: FAZ
ALUSÃO AO DESCONHECIDO DAS FLORESTAS AINDA NÃO EXPLORADAS PELO HOMEM BRANCO.
- “OCEANO LARGO»:
MANIFESTA A MANEIRA PELA QUAL A LÍNGUA FOI TRAZIDA AO BRASIL, ATRAVÉS DO
« OCEANO LARGO », NUMA LONGA VIAGEM DE CARAVELA.
- «AMO-TE, Ó RUDE E
DOLOROSO IDIOMA»: ALUDE À DIFICULDADE DE SE ENTENDER AS REGRAS E AS EXCEÇÕES.
- SEGUNDO TERCETO:
- «EM QUE DA VOZ MATERNA
OUVI: MEU FILHO!»
- FICA EVIDENTE O PAPEL
MATERNO DA LÍNGUA PORTUGUESA, PORTANTO, PERSONIFICADO E DE LONGA VIDA.
- «E EM QUE CAMÕES
CHOROU, NO EXÍLIO AMARGO,
O GÊNIO SEM VENTURA E O
AMOR SEM BRILHO!»
- HÁ UM ELO ENTRE O EU
POÉTICO E CAMÕES, QUEM CONSOLIDOU A LÍNGUA PORTUGUESA NO SEU CÉLEBRE LIVRO «OS
LUSÍADAS», UMA EPOPEIA QUE ESCREVEU PROVAVELMENTE QUANDO ESTEVE EXILADO, NAS
COLÔNIAS DA ÁFRICA E DA ÁSIA.
- Esse poema inspirou “Língua”, de Gilberto Mendonça, e a letra da
canção “Língua Portuguesa”, de Caetano Veloso.
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