quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

SINFONIA, OLAVO BILAC


SINFONIA, OLAVO BILAC



Meu coração, na incerta adolescência, outrora,

Delirava e sorria aos raios matutinos,

Num prelúdio incolor, como o alegro da aurora,

Em sistros e clarins, em pífanos e sinos.

 

Meu coração, depois, pela estrada sonora

Colhia a cada passo os amores e os hinos,

E ia de beijo a beijo, em lasciva demora,

Num voluptuoso adágio em harpas e violinos.

 

Hoje, meu coração, num scherzo de ânsias, arde

Em flautas e oboés, na inquietação da tarde,

E entre esperanças foge e entre saudades erra...

 

E, heroico, estalará num final, nos clamores

Dos arcos, dos metais, das cordas, dos tambores,

Para glorificar tudo que amou na terra!


- ÚLTIMO POEMA DO LIVRO “TARDE”, DE OLAVO BILAC.
- SINFONIA É UMA PALAVRA DE ORIGEM GREGA QUE SIGNIFICA “TODOS OS SONS JUNTOS”, DIVIDIDA EM TRÊS OU QUATRO PARTES: ALEGRO, ANDANTE, SCHERZO OU MINUETO E FINAL OU RONDÓ.
- OLAVO BILAC UTILIZA A IMAGEM DA SINFONIA E DOS INSTRUMENTOS MUSICAIS QUE A COMPÕE, A FIM DE METAFORIZAR AS FASES DE SUA VIDA.
- APRESENTA, DESSA FORMA, UMA ANALOGIA AOS SEUS SENTIMENTOS QUE MUDAM ATRAVÉS DE SUA VIDA, COMO FOSSE UMA ORQUESTRA EM SINFONIA.
- NO POEMA “SINFONIA”, O POETA CRIA UMA ATMOSFERA SINESTÉSICA, APRESENTA BASTANTE APELO SENSORIAL COM COMBINAÇÃO DE CORES, SONS E IMAGENS.

- PRIMEIRO QUARTETO:  

Meu coração, na incerta ADOLESCÊNCIA, outrora,

Delirava e sorria aos raios matutinos,

Num PRELÚDIO incolor, como o ALEGRO da aurora,

Em SISTROS E CLARINS, EM PÍFANOS E SINOS.

- A PRIMEIRA ESTROFE DELIMITA A INTRODUÇÃO DO QUE SERIA A SINFONIA, APRESENTANDO SEU PERÍODO DA ADOLESCÊNCIA (“PRELÚDIO”) UM PERÍODO DE ALEGRIA (“ALEGRO”), MARCADO POR

TONS MAIS AGUDOS E ESTRIDENTES QUE PODEM SER RELACIONADOS À VIVACIDADE:

- SISTROS: INSTRUMENTO MUSICAL DE PERCUSSÃO QUE PRODUZ UM SOM ACHOCALHADO.

- CLARINS: INSTRUMENTO DE SOPRO, DE SOM AGUDO E PENETRANTE, USADO PRINCIPALMENTE PELO EXÉRCITO.

- PÍFANOS: INSTRUMENTO DE SOPRO DE MADEIRA QUE SE ASSEMELHA À FLAUTA.


- SEGUNDO QUARTETO:

 Meu coração, depois, pela ESTRADA SONORA

Colhia a cada passo os amores e os hinos,

E ia de beijo a beijo, em lasciva demora,

Num voluptuoso ADÁGIO EM HARPAS E VIOLINOS.

- NESSA ESTROFE, DEMONSTRA SUA JUVENTUDE, ONDE FORAM COLHIDOS AMORES E GLÓRIAS.

- OS INSTRUMENTOS SÃO HARPAS E VIOLINOS, CUJOS SONS E FORMAS REMETEM-NOS À SENSUALIDADE, PORTANTO, AOS MOMENTOS DE PAIXÕES AVASSALADORAS E AMORES TURBULENTOS.

 

- PRIMEIRO TERCETO:

 Hoje, meu coração, num SCHERZO de ânsias, arde

Em FLAUTAS E OBOÉS, na inquietação da tarde,

E entre esperanças foge e entre saudades erra...

 - O PRIMEIRO TERCETO APRESENTA A MATURIDADE: PERÍODO DE INQUIETAÇÃO NUM MISTO ENTRE ESPERANÇA E SAUDADES (FUTURO E PASSADO).

- SCHERZO: PEÇA MUSICAL DE CARÁTER LIGEIRO.

- FLAUTAS E OBOÉS: INSTRUMENTOS MUSICAIS DE SOPRO.

 

- SEGUNDO TERCETO:

 E, heroico, estalará num final, nos clamores

Dos arcos, dos METAIS, das CORDAS, dos TAMBORES,

Para glorificar tudo que amou na terra!

- SE NO PRIMEIRO TERCETO, “MEU CORAÇÃO, NUM SCHERZO DE ÂNSIAS, ARDE”, NO SEGUNDO TERCETO, O EU LÍRICO AFIRMA QUE SEU CORAÇÃO “ESTALARÁ NUM FINAL”, ISTO É, A MORTE QUE SE APROXIMA SERÁ UMA MÚSICA HEROICA, EM QUE ELE SE SENTE GLORIOSO POR TUDO QUE AMOU NESTA TERRA.

- POR ISTO EXISTE A PRESENÇA DE ARCOS, METAIS, CORDAS E TAMBORES, CHEGANDO ASSIM, AO TÉRMINO DA SINFONIA.

- RECURSOS ESTILÍSTICOS MAIS EMPREGADOS: REPETIÇÃO (A PALAVRA “MEU CORAÇÃO” NAS TRÊS PRIMEIRAS ESTROFES); AS METÁFORAS E COMPARAÇÕES A TERMOS MUSICAIS COMO INSTRUMENTOS OU ESTILO/GÊNERO/RITMO. 

- OLAVO BILAC, DIFERENTEMENTE DE OUTROS PARNASIANOS, MANTEM PARTE DO SUBJETIVISMO, PESSIMISMO E A SENSUALIDADE NA CONSTRUÇÃO DE SUAS CRIAÇÕES.  

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