Caricaturista com um sentido apurado de sátira social, atividade que adquire notoriedade ímpar pela sua atitude intervencionista, coragem e técnica, sempre pronto a atacar a política de Luís Filipe, tal como o sistema legislativo, judiciário e burocrático do estado dominado por uma aristocracia decrépita que, lentamente, cede o seu cetro à burguesia industrial e financeira.
O artista desenhou caricaturas intensamente satíricas, alfinetando a pompa de nobres, bonapartistas e políticos. O rei Luís Felipe prendeu DAUMIER por causa de sua caricatura do rei engolindo “sacos de ouro extorquidos do povo”.
Caricatura representando D. Pedro IV e D. Miguel I a lutar pela coroa portuguesa, por Honoré Daumier, 1833.
Em 1834, “La Caricature ” foi suprimido e desde então DAUMIER trabalhou para “Charivari”.
De um artista mais ou menos inexperiente, converteu-se num dos maiores desenhistas da arte ocidental. À sua extraordinária fluência e poder de traço, somou um profundo sentido da injustiça social e uma compreensão pessoal das ambições e da pobreza urbanas.
Seus ataques políticos não poderiam ter sido tão amargos, se entre DAUMIER e as massas não houvesse estreita afinidade.
Suas litografias foram admiradas por artistas de renome, como Corot e Delacroix, Balzac, o romancista, que também trabalhou para “Charivari”, disse ele:
“Este moço tem algo de Michelangelo sob a pele”.
Quase ninguém se apercebeu de que DAUMIER era também notável pintor, e utilizava as tintas com uma liberdade desconhecida de seus contemporâneos.
Amigo de Balzac (1799; 1850), melhor do que este soube ver no povo vitimado, o herói da luta pela liberdade contra o poder. Assim, é este povo (que em Daumier é representado pelo operariado urbano, despojado de história e de presente, mas unido pelo desejo de mudança) que se torna o motivo central de toda a sua temática. Como consequência, não há um Daumier político e um Daumier artista, tal como claramente sucede com Courbet.
Daumier é o primeiro a fundar a arte sobre um interesse político (vendo na política a forma moderna da moral), tal como é o primeiro a recorrer a um meio de comunicação de massas, a imprensa, para com a arte influir sobre o comportamento social.
Mestre da litografia "existem cerca de 4000 trabalhos litográficos catalogados como suas produções" o artista orienta toda a sua produção plástica no sentido desta técnica, até então considerada menor, dada a sua característica de múltipla reprodução que a afasta do objeto único, exclusivo do seu detentor. Mas se esta posse é um dos fundamentos do colecionismo burguês, Daumier não está interessado nele. O seu objeto e destinatário são os mesmos; a multidão que constitui a base da pirâmide hierárquica. Deste modo, podemos constatar que Daumier concebe os seus trabalhos como imagens litográficas, tornando a sua comunicação direta, simples e peremptória e isenta de qualquer vestígio de subjetividade como a que encontramos no seu contemporâneo Millet.
Mestre da litografia "existem cerca de 4000 trabalhos litográficos catalogados como suas produções" o artista orienta toda a sua produção plástica no sentido desta técnica, até então considerada menor, dada a sua característica de múltipla reprodução que a afasta do objeto único, exclusivo do seu detentor. Mas se esta posse é um dos fundamentos do colecionismo burguês, Daumier não está interessado nele. O seu objeto e destinatário são os mesmos; a multidão que constitui a base da pirâmide hierárquica. Deste modo, podemos constatar que Daumier concebe os seus trabalhos como imagens litográficas, tornando a sua comunicação direta, simples e peremptória e isenta de qualquer vestígio de subjetividade como a que encontramos no seu contemporâneo Millet.
A exceção que confirma a regra reside nos seus múltiplos trabalhos dedicados à temática de D. Quixote, mas essa mostra, a faceta íntima e poética muito própria de Daumier.
Honoré Daumier (num estilo que já podemos encontrar em germinação com Goya) conserva da representação apenas aquilo que pode atuar como estímulo e despertar no espectador uma reação moral imediata.
Mais, a imagem não é uma representação ou narração de um fato, mas o juízo que se tece sobre esse mesmo fato. É neste ponto onde o realismo de Daumier colide e se afasta da proposta de Courbet para quem a representação não deve incluir nenhuma valoração subjetiva.
Este posicionamento de Daumier é visível não só nas suas litografias, mas em toda a sua produção plástica e assumidamente expressa em obras como "Queremos Barrabás" (1850),"A Insurreição" (1860), "O vagão de Terceira Classe" (1862), etc.
Este posicionamento de Daumier é visível não só nas suas litografias, mas em toda a sua produção plástica e assumidamente expressa em obras como "Queremos Barrabás" (1850),"A Insurreição" (1860), "O vagão de Terceira Classe" (1862), etc.
"Queremos Barrabás", 1850
Além da temática, transversal a todas elas, Daumier emprega uma técnica cujo fim é salientar o meio, onde essa realidade se produz, assim, opta por um traço desfocado por contrastes de luminosidades e sombras carregadas, permitindo que as zonas de penumbra desempenhem um papel significativo, desenvolvendo as bases de toda a ação dramática.
Alguma crítica vê nesta manipulação, quase monocromática, o reflexo autodidata do autor, fato que facilmente se desmente quando observamos a riqueza policromática e a composição extremamente inovadora, para não dizer visionária, que apresentam alguns dos seus trabalhos dedicados à temática de D. Quixote.
Alguma crítica vê nesta manipulação, quase monocromática, o reflexo autodidata do autor, fato que facilmente se desmente quando observamos a riqueza policromática e a composição extremamente inovadora, para não dizer visionária, que apresentam alguns dos seus trabalhos dedicados à temática de D. Quixote.
“O vagão de terceira classe”,1862.
Mesmo assim, DAUMIER, continuou os seus ataques: “O vagão de terceira classe” retrata passageiros da classe trabalhadora, dignos, apesar apertados feito animais. Esta foi a mais precoce representação pictórica do efeito desumanizador do transporte moderno.