ROMANCE LXXIII OU DA INCONFORMADA MARÍLIA
PUNGIA
A MARÍLIA, A BELA.
NEGRO
SONHO ATORMENTADO:
VOAVA
SEU CORPO LONGE,
LONGE,
POR ALHEIO PRADO.
PROCURAVA
O AMOR PERDIDO,
A
ANTIGA FALA DO AMADO.
MAS O ORÁCULO
DOS SONHOS
DIZIA
A SEU CORPO ALADO:
“AH,
VOLTA, VOLTA, MARÍLIA,
TIRA-TE
DESSE CUIDADO,
QUE
TEU PASTOR NÃO SE LEMBRA
DE
NENHUM TEMPO PASSADO ...”
E ELA,
DORMINDO, GEMIA:
“SÓ SE
ESTIVESSE ALIENADO! “
- DE
INÍCIO, O ROMANCE CONFIGURA-SE COMO UM PESADELO DA MARÍLIA: O “ORÁCULO DOS
SONHOS” QUE NARRA À MARÍLIA O FIM DO AMOR E DO ESQUECIMENTO POR PARTE DE SEU
AMADO.
-
MARÍLIA ESTÁ EM UM “NEGRO SONHO ATORMENTADO”, QUE NOS REMETE À IMAGEM ESCURA DA
NOITE OU DA MADRUGADA.
ENTRE
LÁGRIMAS SE ERGUIA
SEU CLARO
ROSTO ACORDADO.
VOLVIA
OS OLHOS EM RODA,
E
LOGO, DE CADA LADO,
PIEDOSAS
VOZES DISCRETAS
DAVAM-LHE
O MESMO RECADO:
“NÃO
CHORES TANTO, MARÍLIA,
POR
ESSE AMOR ACABADO:
QUE
ESPERAVAS QUE FIZESSE
O TEU
PASTOR DESGRAÇADO,
TÃO
DISTANTE, TÃO SOZINHO,
EM TÃO
LAMENTOSO ESTADO?”
A
BELA, PORÉM, GEMIA:
“SÓ SE
ESTIVESSE ALIENADO! “
- EM
SEGUIDA, A PERSONAGEM DESPERTA DO PESADELO, MAS, EM DELÍRIO, AS “PIEDOSAS VOZES
DISCRETAS”, TENTAM CONVENCÊ-LA A NÃO TER MAIS ESPERANÇAS.
- JÁ
NÃO ESTÁ MAIS ESCURO E HÁ A CLARIDADE, OU SEJA, CRIA-SE A IDEIA DE QUE AMANHECEU
O DIA SEGUINTE AO DA ATRIBULADA NOITE SOBRE A QUAL FALA A ESTROFE ANTERIOR.
E A
NÉVOA DA TARDE VINHA
COM
SEU VÉU TÃO DELICADO
ENVOLVER
A TORRE, O MONTE,
O
CHAFARIZ, O TELHADO ...
AH,
QUANTA NÉVOA DE TEMPO
LONGAMENTE
ACUMULADO ...
MAS OS
VERSOS! MAS AS JURAS!
MAS O
VESTIDO BORDADO!
BEM
QUE O CORAÇÃO DIZIA
-
CORAÇÃO DESVENTURADO
“TALVEZ
SE TENHA ESQUECIDO ...”
“TALVEZ
SE TENHA CASADO ...”
SEU
LÁBIO, PORÉM, GEMIA:
“SÓ SE
ESTIVESSE ALIENADO! ”
- NA
ÚLTIMA ESTROFE, APARECEM LEMBRANÇAS DOS TEMPOS PASSADOS: OS VERSOS, AS JURAS DE
AMOR, E SURGE A VOZ DO “CORAÇÃO DESVENTURADO” DE MARÍLIA, QUE LEVANTA
POSSIBILIDADES SOBRE O DESTINO DE SEU AMADO, MAS QUE SÃO REFUTADAS NOVAMENTE
PELA NEGAÇÃO FINAL: “SÓ SE ESTIVESSE ALIENADO!”
- E A
VOZ DO “CORAÇÃO DESVENTURADO” QUE SE CONFIGURA COMO UMA PARTE DE MARÍLIA QUE JÁ
PERDEU AS ESPERANÇAS DE REVIVER O SEU AMOR.
-
TEMOS, ENTÃO, A VOZ DE UMA MULHER QUE SE DESESPERA E REJEITA A REALIDADE DA SUA
SINA.
- A
PERSONAGEM AFIRMA QUE JAMAIS O AMADO IRIA ESQUECÊ-LA: SÓ SE ESTIVESSE ALIENADO!”
- O
VERSO SE REPETE NO FINAL DE CASA UMA DAS TRÊS ESTROFES, REVELA O INCONFORMISMO
DA PERSONAGEM.
- A
ÚLTIMA PARTE DO POEMA SE DÁ AO ENTARDECER: “E A NÉVOA DA TARDE VINHA”, FORMANDO
UM CÍRCULO QUE DEMONSTRA A ESPERA DE MARÍLIA EM VÃO.
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