domingo, 18 de junho de 2023

“CÁ NESTA BABILÔNIA, DONDE MANA”, CAMÕES

 

“CÁ NESTA BABILÔNIA, DONDE MANA”

 

Cá nesta Babilônia, donde mana

Matéria a quanto mal o mundo cria;

Cá, onde o puro Amor não tem valia,

Que a Mãe, que manda mais, tudo profana;

 

Cá, onde o mal se afina, o bem se dana,

E pode mais que a honra a tirania;

Cá, onde a errada e cega Monarquia

Cuida que um nome vão a Deus engana;

 

Cá, neste labirinto, onde a Nobreza,

O Valor e o Saber pedindo vão

Às portas da Cobiça e da Vileza;

 

Cá, neste escuro caos de confusão,

Cumprindo o curso estou da natureza.

Vê se me esquecerei de ti, Sião!



- O TEXTO SE INICIA COM A LOCALIZAÇÃO DO EU-LÍRICO NA BABILÔNIA: CIDADE CRIADA APÓS O DILÚVIO E QUE REPRESENTAVA A REBELIÃO DIRETA DO HOMEM EM RELAÇÃO A DEUS, POR ISSO SUA PROJEÇÃO VERTICAL ATÉ O CÉU.

- O EU-LÍRICO A DENOMINA COM VÁRIOS PAGÃOS: EMANADORA DE MATÉRIA, SEM AMOR PURO, MÃE PROFANADORA, MAL AFINADO, O BEM DESORDENADO, TIRANIA, MONARQUIA, ELEVAÇÃO VÃ DO NOME DE DEUS, TERRA LABIRÍNTICA, TERRA COBIÇOSA E VIL. LUGAR CAÓTICO, ESCURO E CONFUSO.

- NO ENTANTO, O VERSO CHAVE-DE-OURO FECHA O POEMA COM A POSSIBILIDADE DE REDENÇÃO:

- MESMO DIANTE DO “INFERNO INSTITUÍDO” O EU-LÍRICO SE LEMBRA DA TERRA PROMETIDA: SIÃO.

- A BÍBLIA COLOCA SIÃO COMO SINÔNIMO DE JERUSALÉM OU TODO O ESTADO DE ISRAEL, BERÇO CRISTÃO.

- (BABILÔNIA). Terra em que o mal existe em abundância (MANA).

(3) “Aqui” onde o Amor (ideal – maiúscula) não tem nenhum valor  

(4) e a Mãe (Vênus, deusa do amor e, no caso, amor carnal) manda mais e tudo profana (mancha, macula).

(5) Aqui, o mal purifica e o bem condena (desconcerto do mundo),

(6) e a tirania pode mais que a honra.

(7) Aqui, onde a Monarquia* errada e cega usa o nome de Deus em vão (* lembrar que Portugal, ao conquistar novas terras, deixava muito claro que apenas levava aos infiéis (não cristãos), a palavra da Cruz e, com essa desculpa de cristianizar, cometia as maiores atrocidades, matando, roubando, dominando, escravizando, ou seja, “conquistando”; e, também, recordar que os reis de Portugal usavam o título de “FIDELÍSSIMOS” ).

(9) Aqui, neste lugar tortuoso (em todos os sentidos), confuso

(10) onde a nobreza (ricos e poderosos) com seu inútil saber e muito esforço, pede (rouba), pois o que manda é a cobiça e a sordidez.

(12) Aqui, neste caos profundo (com tanta troca de valores), o ele lírico apenas cumpre o curso da Natureza (vivendo como pode), sem jamais esquecer de sua pátria: SIÃO (uma das colinas de Jerusalém e que pode simbolizar a cidade, a PÁTRIA, PORTUGAL, o céu!).

- O TEXTO É MANEIRISTA POIS APRESENTA UM PESSIMISMO EM OPOSIÇÃO A EMPOLGAÇÃO HUMANISTA PROPOSTA PELO RENASCIMENTO.

- A oposição que o poeta faz entre dois locais bíblicos, a Babilônia, terra de males presentes, e Sião, terra gloriosa da qual sente saudade, mantém relação com o platonismo, segundo o qual a realidade atual é imperfeita, pois representa um exílio do mundo perfeito das ideias. Assim, manifesta-se a fusão entre a cultura judaico-cristã e a cultura da antiguidade clássica.

 

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