“CÁ NESTA BABILÔNIA, DONDE MANA”
Cá nesta Babilônia, donde mana
Matéria a quanto mal o mundo cria;
Cá, onde o puro Amor não tem valia,
Que a Mãe, que manda mais, tudo
profana;
Cá, onde o mal se afina, o bem se
dana,
E pode mais que a honra a tirania;
Cá, onde a errada e cega Monarquia
Cuida que um nome vão a Deus engana;
Cá, neste labirinto, onde a Nobreza,
O Valor e o Saber pedindo vão
Às portas da Cobiça e da Vileza;
Cá, neste escuro caos de confusão,
Cumprindo o curso estou da natureza.
Vê se me esquecerei de ti, Sião!
- O TEXTO SE INICIA COM A LOCALIZAÇÃO DO EU-LÍRICO NA BABILÔNIA: CIDADE CRIADA APÓS O DILÚVIO E QUE REPRESENTAVA A REBELIÃO DIRETA DO HOMEM EM RELAÇÃO A DEUS, POR ISSO SUA PROJEÇÃO VERTICAL ATÉ O CÉU.
- O EU-LÍRICO A DENOMINA COM VÁRIOS PAGÃOS: EMANADORA DE MATÉRIA, SEM AMOR PURO, MÃE PROFANADORA, MAL AFINADO, O BEM DESORDENADO, TIRANIA, MONARQUIA, ELEVAÇÃO VÃ DO NOME DE DEUS, TERRA LABIRÍNTICA, TERRA COBIÇOSA E VIL. LUGAR CAÓTICO, ESCURO E CONFUSO.
- NO ENTANTO, O VERSO CHAVE-DE-OURO FECHA O POEMA COM A POSSIBILIDADE DE REDENÇÃO:
- MESMO DIANTE DO “INFERNO INSTITUÍDO” O EU-LÍRICO SE LEMBRA DA TERRA PROMETIDA: SIÃO.
- A BÍBLIA COLOCA SIÃO COMO SINÔNIMO DE JERUSALÉM OU TODO O ESTADO DE ISRAEL, BERÇO CRISTÃO.
- (BABILÔNIA). Terra em que o mal
existe em abundância (MANA).
(3) “Aqui” onde o Amor (ideal –
maiúscula) não tem nenhum valor
(4) e a Mãe (Vênus, deusa do amor e,
no caso, amor carnal) manda mais e tudo profana (mancha, macula).
(5) Aqui, o mal purifica e o bem
condena (desconcerto do mundo),
(6) e a tirania pode mais que a
honra.
(7) Aqui, onde a Monarquia* errada e
cega usa o nome de Deus em vão (* lembrar que Portugal, ao conquistar novas
terras, deixava muito claro que apenas levava aos infiéis (não cristãos), a
palavra da Cruz e, com essa desculpa de cristianizar, cometia as maiores
atrocidades, matando, roubando, dominando, escravizando, ou seja,
“conquistando”; e, também, recordar que os reis de Portugal usavam o título de
“FIDELÍSSIMOS” ).
(9) Aqui, neste lugar tortuoso (em
todos os sentidos), confuso
(10) onde a nobreza (ricos e
poderosos) com seu inútil saber e muito esforço, pede (rouba), pois o que manda
é a cobiça e a sordidez.
(12) Aqui, neste caos profundo (com tanta troca de valores), o ele lírico apenas cumpre o curso da Natureza (vivendo como pode), sem jamais esquecer de sua pátria: SIÃO (uma das colinas de Jerusalém e que pode simbolizar a cidade, a PÁTRIA, PORTUGAL, o céu!).
- O TEXTO É MANEIRISTA POIS APRESENTA UM PESSIMISMO EM OPOSIÇÃO A EMPOLGAÇÃO HUMANISTA PROPOSTA PELO RENASCIMENTO.
- A oposição que o poeta faz entre
dois locais bíblicos, a Babilônia, terra de males presentes, e Sião, terra
gloriosa da qual sente saudade, mantém relação com o platonismo, segundo o qual
a realidade atual é imperfeita, pois representa um exílio do mundo perfeito das
ideias. Assim, manifesta-se a fusão entre a cultura judaico-cristã e a cultura
da antiguidade clássica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário