FERNANDO PESSOA (Lisboa, 1888 – 1935)
“UM MITO PODE NÃO SER VERDADE, MAS SER VERDADEIRO”
“SÓ DUAS NAÇÕES - A GRÉCIA PASSADA E PORTUGAL FUTURO – RECEBERAM DOS DEUSES A CONCESSÃO DE SEREM NÃO SÓ ELAS MAS TAMBÉM TODAS AS OUTRAS. CHAMO A ATENÇÃO PARA O FATO, MAIS IMPORTANTE QUE GEOGRÁFICO, DE QUE LISBOA E ATENAS ESTÃO QUASE NA MESMA LATITUDE”.
FERNANDO
PESSOA
I - INTRODUÇÃO:
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ATRIBUÍDO AO POETA PORTUGUÊS FERNANDO PESSOA ORTÔNIMO, “MENSAGEM” FOI ESCRITO
DURANTE LONGO PERÍODO DE ELABORAÇÃO POÉTICA, QUE VAI DE 1918 A 1934.
-
CHAMADO PELO POETA DE “LIVRO PEQUENO DE POEMAS”, PODE SER LIDO COMO PONTO
CULMINANTE DO PROCESSO DE DESPERSONALIZAÇÃO DO EU LÍRICO E DRAMÁTICO.
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ENCONTRAM-SE REUNIDOS EM SEUS 44 POEMAS, VOZES E RECURSOS EXPRESSIVOS DOS
POETAS HETERÔNIMOS, AMPLIFICADOS PELA SUGESTÃO DOS SÍMBOLOS E PELAS DIFERENTES
PERSPECTIVAS DE ENUNCIAÇÃO, E UNIFICADOS PELA VISÃO GERAL DO POETA ORTÔNIMO.
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FOI PUBLICADO PRIMEIRAMENTE A 1 DE DEZEMBRO DE 1934 (DIA COMEMORATIVO DA
RESTAURAÇÃO DE 1640) E UM ANO ANTES DA MORTE DO AUTOR, COM EDIÇÃO DA PARCERIA
ANTÓNIO MARIA PEREIRA, EM LISBOA.
-
“MENSAGEM” É A ÚNICA OBRA EM LÍNGUA PORTUGUESA PUBLICADA EM VIDA DO AUTOR.
-
NA ÉPOCA A POPULAÇÃO PORTUGUESA ESTAVA SUBMETIDA AO ESTADO NOVO E A “POLÍTICA
DE APAGAMENTO DO SUJEITO”.
-
SALAZAR INVESTIU NUMA RETÓRICA DE INVISIBILIDADE, APOSTANDO EM UMA ATITUDE
POLÍTICA DE INFERIORIZAÇÃO DOS PORTUGUESES FRENTE À PÁTRIA, NA MANEIRA PELA
QUAL O LÍDER FASCISTA, EM SEUS DISCURSOS, NÃO ABDICOU DE SEU “PROJETO DE VIDA”,
QUE ERA FAZER DE PORTUGAL UM PAÍS DE SILENCIADOS.
-
É INTERESSANTE RESSALTAR, QUE EM “MENSAGEM”, PESSOA CLAMA POR UM RENASCIMENTO,
UMA TRANSFORMAÇÃO E, QUE, O LIVRO FOI CONTEMPLADO NO MESMO ANO COM O PRÊMIO
ANTERO DE QUENTAL, NA CATEGORIA DE “POEMA OU POESIA SOLTA”, DO SECRETARIADO
NACIONAL DE INFORMAÇÃO, DIRIGIDO POR ANTÔNIO FERRO, UMA FIGURA POLÍTICA DO
ESTADO NOVO.
-
A SEGUNDA EDIÇÃO, DE 1941, POSSUI CORREÇÕES FEITAS POR PESSOA À PRIMEIRA EDIÇÃO
E FOI EDITADA PELA AGÊNCIA GERAL DAS COLÔNIAS.
II - TÍTULO:
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O TÍTULO ORIGINAL DO LIVRO ERA “PORTUGAL”.
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INFLUENCIADO POR UM AMIGO, PESSOA CONSIDERA “MENSAGEM” UM TÍTULO MAIS
APROPRIADO, PELO NOME “PORTUGAL” SE ENCONTRAR “PROSTITUÍDO” NO MAIS COMUM DOS
PRODUTOS.
-
A PALAVRA "MENSAGEM" A PARTIR DA EXPRESSÃO EM LATIM: “MENS AGITAT
MOLEM”, SIGNIFICA “O ESPÍRITO MOVE A MATÉRIA”, FRASE DA HISTÓRIA DE ENEIDA, DE
VIRGÍLIO, DITA PELA PERSONAGEM ANQUISES QUANDO EXPLICA A ENÉIAS O SISTEMA DO
UNIVERSO.
-
PESSOA NÃO UTILIZA O SENTIDO ORIGINAL DA FRASE, QUE DENOTAVA A EXISTÊNCIA DE UM
PRINCÍPIO UNIVERSAL DE ONDE EMANAVAM TODOS OS SERES.
-
SEGUNDO UMA CARTA DATADA DE 13 DE JANEIRO DE 1935 A ADOLFO CASAIS MONTEIRO,
“MENSAGEM” FOI O PRIMEIRO LIVRO QUE O POETA CONSEGUIU COMPLETAR.
-
SEGUNDO PESSOA, A PUBLICAÇÃO DE “MENSAGEM” NÃO TINHA TIDO COMO MOTIVAÇÃO
CONCORRER AO PRÊMIO DO SECRETARIADO DE PROPAGANDA NACIONAL. MAS, JÁ HAVIA
EXEMPLARES DO LIVRO SAÍDO DO PRELO, O POETA DECIDIU APRESENTÁ-LO AO CONCURSO.
- E RECEBE DE “CATEGORIA B, SOB O
PRETEXTO DE QUE O LIVRO NÃO ATINGIA O NÚMERO DE PÁGINAS PREVISTAS PARA A
“CATEGORIA A”.
-
PESSOA MESMO EXPLICA QUE ESSE FATO DEMONSTRA O PORQUÊ DE NÃO TER PUBLICADO
OUTRO LIVRO COMO A PROSA DE UM DE SEUS HETERÔNIMOS OU A POESIA EM SEU PRÓPRIO
NOME.
- NUMA CARTA DE 1932 DE PESSOA A JOÃO GASPAR SIMÕES, SEU PRIMEIRO BIÓGRAFO, VEMOS QUE A INTENÇÃO DO POETA ERA PUBLICAR PRIMEIRAMENTE A “MENSAGEM” PARA SOMENTE MAIS TARDE DIVULGAR OUTRAS OBRAS COMO O “LIVRO DO DESASSOSSEGO”, DO SEMI-HERETÔNIMO BERNARDO SOARES, E A POESIA DOS HETERÔNIMOS.
III - NOTA PRELIMINAR DA OBRA:
-
TRATA-SE DE UM APONTAMENTO, QUE SE TORNOU “NOTA PRELIMINAR”, ONDE O AUTOR
APRESENTA UMA ESPÉCIE DE ORIENTAÇÃO PARA QUE O LEITOR POSSA ENTENDER OS
SÍMBOLOS E OS RITUAIS (SIMBÓLICOS) E INTERPRETAR “MENSAGEM” COMO UMA OBRA DE
NATUREZA OCULTISTA/ESOTÉRICA, CONSIDERADA PELO PRÓPRIO PESSOA, COMO
“NACIONALISMO MÍSTICO”.
-
ACRESCENTA QUE EXIGE DO INTÉRPRETE QUE POSSUA CINCO QUALIDADES OU CONDIÇÕES,
SEM AS QUAIS OS SÍMBOLOS SERÃO PARA ELE MORTOS, E ELE UM MORTO PARA ELES.
1. SIMPATIA: “NÃO
DIREI A PRIMEIRA EM TEMPO, MAS A PRIMEIRA CONFORME VOU CITANDO, E CITO POR
GRAUS DE SIMPLICIDADE. TEM O INTÉRPRETE QUE SENTIR SIMPATIA PELO SÍMBOLO QUE SE
PROPÕE INTERPRETAR. ” OU SEJA, CAPACIDADE DE ENTRAR EM SINTONIA COM O SÍMBOLO.
2. INTUIÇÃO: “A
SIMPATIA PODE AUXILIÁ-LA, SE ELA JÁ EXISTE, PORÉM NÃO CRIÁ-LA. POR INTUIÇÃO SE
ENTENDE AQUELA ESPÉCIE DE ENTENDIMENTO COM QUE SE SENTE O QUE ESTÁ ALÉM DO SÍMBOLO,
SEM QUE SE VEJA. “
3. INTELIGÊNCIA: “A INTELIGÊNCIA ANALISA, DECOMPÕE,
RECONSTRÓI NOUTRO NÍVEL O SÍMBOLO; TEM, PORÉM, QUE FAZÊ-LO DEPOIS QUE, NO
FUNDO, É TUDO O MESMO. NÃO DIREI ERUDIÇÃO, COMO PODERIA NO EXAME DOS SÍMBOLOS,
É O DE RELACIONAR NO ALTO O QUE ESTÁ DE ACORDO COM A RELAÇÃO QUE ESTÁ EMBAIXO.
-
NÃO PODERÁ FAZER ISTO SE A SIMPATIA NÃO TIVER LEMBRADO ESSA RELAÇÃO, SE A
INTUIÇÃO A NÃO TIVER ESTABELECIDO. ENTÃO A INTELIGÊNCIA, DE DISCURSIVA QUE
NATURALMENTE É, SE TORNARÁ ANALÓGICA, E O SÍMBOLO PODERÁ SER INTERPRETADO.
4. COMPREENSÃO: “ENTENDENDO POR ESTA PALAVRA O
CONHECIMENTO DE OUTRAS MATÉRIAS, QUE PERMITEM QUE O SÍMBOLO SEJA ILUMINADO POR
VÁRIAS LUZES, RELACIONADO COM VÁRIOS OUTROS SÍMBOLOS, POIS QUE, NO FUNDO, É
TUDO O MESMO.
-
NÃO DIREI ERUDIÇÃO, COMO PODERIA TER DITO, POIS A ERUDIÇÃO É UMA SOMA; NEM
DIREI CULTURA, POIS A CULTURA É UMA SÍNTESE; E A COMPREENSÃO É UMA VIDA. ASSIM
CERTOS SÍMBOLOS NÃO PODEM SER BEM ENTENDIDOS SE NÃO HOUVER ANTES, OU NO MESMO
TEMPO, O ENTENDIMENTO DE SÍMBOLOS DIFERENTES. “
5. A GRAÇA: “A QUINTA É A MESNOS DEFINÍVEL. DIREI TALVEZ, FALANDO A UNS, QUE É A GRAÇA, FALANDO A OUTROS, QUE É A MÃO DO SUPERIOR INCÓGNITO, FALANDO A TERCEIROS, QUE É O CONHECIMENTO E A CONVERSAÇÃO DO SANTO ANJO DA GUARDA, ENTENDENDO CADA UMA DESTAS COISAS, QUE SÃO A MESMA DA MANEIRA COMO AS ENTENDEM AQUELES QUE DELAS USAM, FALANDO OU ESCREVENDO.
IV - TEMÁTICA:
- A PRIMEIRA EPÍGRAFE DE “MENSAGEM” FAZ
ALUSÃO À MITOLOGIA HEBRAICA, REVELANDO QUE OS PORTUGUESES TAMBÉM RECEBERAM UM
SINAL DE DEUS QUE FEZ DELES UM POVO ESCOLHIDO:
- “BENEDICTUS DOMINUS DEUS NOSTER QUE
DEDET NOBIS SIGNUM” (“BENDITO DEUS NOSSO SENHOR QUE NOS DEU O SINAL”), ESCOLHIDOS
NÃO PARA ÊXITO TERRENO, MAS PARA UM “MAIS ALÉM”, UM “NOVO TEMPO”, O “V IMPÉRIO”
(SENTIDO MESSIÂNICO DA OBRA).
- E TERMINA COM “VALETE FRATES” (“ADEUS, IRMÃOS! ”) – SÍMBOLO DE FRATERNIDADE EM ORGANIZAÇÕES DE TIPO ESOTÉRICO).
-
“MENSAGEM”, DESSA FORMA, É UMA OBRA QUE ESTABELECE UMA HARMONIA ENTRE O MUNDO
PAGÃO, O MUNDO CRISTÃO E O MUNDO ESOTÉRICO, E, ENTRE O PASSADO E O FUTURO.
-
FERNANDO PESSOA EXPRESSA FORTE SENTIMENTO NACIONALISTA, NUMA TENTATIVA DE
REERGUIMENTO PORTUGUÊS.
-
A OBRA TRATA DO GLORIOSO PASSADO DE PORTUGAL DE FORMA APOLOGÉTICA (DISCIPLINA
TEOLÓGICA PRÓPRIA DE UMA CERTA RELIGIÃO QUE SE PROPÕE A DEMONSTRAR A VERDADE DA
PRÓPRIA DOUTRINA, DEFENDENDO-A DE TESES CONTRÁRIAS. ESTA PALAVRA DERIVA-SE DO
DEUS GREGO APOLO).
-
TENTA ENCONTRAR UM SENTIDO PARA A ANTIGA GRANDEZA E A DECADÊNCIA EXISTENTE NA
ÉPOCA EM QUE O LIVRO FOI ESCRITO.
- É APONTANDO AS VIRTUDES PORTUGUESAS QUE FERNANDO PESSOA ACREDITA QUE O PAÍS DEVA SE “REGENERAR”, OU SEJA, TORNAR-SE GRANDE COMO FOI NO PASSADO ATRAVÉS DA VALORIZAÇÃO CULTURAL DA NAÇÃO.
V - CONTEXTO HISTÓRICO-SOCIAL:
1. CONTEXTO DO ENREDO:
- A VITÓRIA DE AFONSO HENRIQUES EM UMA EXPEDIÇÃO DO OUTRO
LADO DO TEJO, EM 1139, NO ÂMBITO DA RECONQUISTA, ENSEJOU SUA AUTOPROCLAMAÇÃO
COMO REI DE PORTUGAL, O QUE, NO IMAGINÁRIO MESSIÂNICO PORTUGUÊS, PASSOU A SER
TOMADO, ANOS MAIS TARDE, COMO UMA MANIFESTAÇÃO DA INTERVENÇÃO DIVINA NA
FUNDAÇÃO DO REINO.
- ESSA INTERPRETAÇÃO
MÍTICA, POR SUA VEZ, SERVIRIA DE FUNDAMENTO PARA UMA CRENÇA EM UM LUGAR QUE
ASSEGURARIA SEJA SUA INDEPENDÊNCIA EM RELAÇÃO À ESPANHA, SEJA AINDA SEU PAPEL
DE LIDERANÇA EM UM PROJETO DIVINO PARA A HUMANIDADE.
-
PORTUGAL, EM 1249, TORNOU-SE A PRIMEIRA NAÇÃO EUROPEIA, ENTRETANTO, PESSOA DIZ
QUE: “PORTUGAL NÃO É PROPRIAMENTE UM PAÍS EUROPEU: MAIS RIGOROSAMENTE SE LHE
PODERÁ CHAMAR UM PAÍS ATLÂNTICO – O PAÍS ATLÂNTICO POR EXCELÊNCIA” (PESSOA,
1993, p. 233).
-
POIS COMO PIONEIRO DA EXPLORAÇÃO MARÍTIMA NA ERA DOS DESCONHECIMENTOS, O REINO
DE PORTUGAL TORNOU-SE UM IMPÉRIO GLOBAL, COM POSSESSÕES EM ÁFRICA, NA AMÉRICA
DO SUL, NA ÁSIA E NA OCEANIA.
-
A INDEPENDÊNCIA DE PORTUGAL FOI CONQUISTADA DE FORMA GRADATIVA, CONTRA OS
REINOS CRISTÃOS DA PENÍNSULA IBÉRICA.
“TODO
O COMEÇO É INVOLUNTÁRIO”, DIZ O POETA (PESSOA, 2006, p. 21).
-
O DESTINO REGE INEXORAVELMENTE A HISTÓRIA E FOI TRAÇADO POR DEUS DESDE A ORIGEM
DOS TEMPOS.
-
ASSIM, O CONDE D. HENRIQUE (DESTINADO AO TERCEIRO “CASTELO”), UMA ESPÉCIE DE REI
ARTHUR, MESMO SEM SABER O QUE FAZER COM A ESPADA, RECEBE COMO RECOMPENSA A MÃO
DA PRINCESA TAREJA OU TERESA EM CASAMENTO (QUARTO “CASTELO”), POR SUA VEZ,
TORNA-SE MÃE DO PRIMEIRO REI DE PORTUGAL:
“Ó
MÃE DE REIS E AVÓ DE IMPÉRIOS, / VELA POR NÓS” (PESSOA, 2006, p. 21).
-
O PERÍODO HISTÓRICO DE PORTUGAL, PROPRIAMENTE DITO, OCORRE COM O REINADO DE D.
AFONSO HENRIQUES (O QUINTO DE “OS CASTELOS”) QUE VENCEU A BATALHA DE OURIQUE (1139),
CONSUMANDO A INDEPENDÊNCIA POLÍTICA DO REINO.
-
ESSA FAMOSA BATALHA FOI CONTRA OS MOUROS E ESPANHÓIS QUANDO CRISTO APARECE
CRUCIFICADO PROMETENDO VITÓRIAS À NAÇÃO.
-
SEGUIU-SE APÓS ESSA ASCENSÃO, UM DECLÍNIO QUE RESULTOU NA LAMENTAÇÃO PORTUGUESA
DO SEU “DESTINO NEBULOSO”.
-
A ESPERANÇA, ENTRETANTO, NÃO MORREU, PERMANECIA: ERA SÓ ESPERAR POR D. SEBASTIÃO
(O MESSIAS) E, CONSEQUENTEMENTE, A INSTAURAÇÃO DE UM NOVO IMPÉRIO.
-
O MESSIANISMO PORTUGUÊS VALEU-SE, EM ESPECIAL, DA INSPIRAÇÃO DO POETA POPULAR
GONÇALO ANES BANDARRA, QUE, NO SÉCULO XVI, ANUNCIAVA NAS SUAS TROVAS A
UNIFICAÇÃO POLÍTICA E RELIGIOSA DO MUNDO POR UM REI PORTUGUÊS: O REI ENCOBERTO,
POSTERIORMENTE ASSOCIADO, SOBRETUDO, À FIGURA DE D. SEBASTIÃO, EM VIRTUDE DE
SEU DESAPARECIMENTO NA BATALHA DE ALCÁCER-QUIBIR.
-
DESSA TRADIÇÃO, TORNOU-SE EXEMPLO PADRE VIEIRA, QUE DEFENDEU, EM SUA OBRA
PROFÉTICA-MESSIÂNCIA, NO SÉCULO XVII, UM FUTURO IMPÉRIO CRISTÃO TERRESTRE
LIDERADO POR PORTUGAL.
2. CONTEXTO DA PUBLICAÇÃO DA OBRA:
-
EM 1934, PORTUGAL, JÁ CANTADO EM VERSOS ÉPICOS, NÃO ERA MAIS AQUELE GRANDIOSO
PAÍS, “QUE, DA OCIDENTAL PRAIA LUSITANA / POR MARES NUNCA DE ANTES NAVEGADOS”
(CAMÕES, 2005, p. 1) LANÇARA NAUS A DESBRAVAR TERRITÓRIOS NOS CONTINENTES
AFRICANO, ASIÁTICO E AMERICANO.
-
DE NAVEGADOR PASSOU A NAVEGADO, MERGULHADO EM UMA CRISE SILENCIADA POR UMA MISTERIOSA
VOZ INVISÍVEL NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX.
-
QUINHENTOS ANOS APÓS A PASSAGEM DO BOJADOR, “MENSAGEM” MATERIALIZA-SE NAS
MÚLTIPLAS VOZES CONSTITUINTES DO SUJEITO POÉTICO QUE PROBLEMATIZAM A CONJUNTURA
DO PAÍS SOB DOMÍNIO DA DITADURA SALAZARISTA, GESTO DE (DES) CONSTRUÇÃO DA
HISTÓRIA LUSITANA ATRAVÉS DO CRUZAMENTO DE TEMPOS RELEMBRADOS EM UM DISCURSO
POÉTICO FRAGMENTÁRIO.
- UMA REFLEXÃO CRÍTICA, EM FORMA DE VERSO, ACERCA DESSES RESPECTIVO MOMENTO SOCIOPOLÍTICO DE PORTUGAL, SINGULARIZADO PELA VOZ DE UM LÍDER SEM O CONFESSO DOM DA RETÓRICA, PORÉM ENGAJADO NA MISSÃO DE SALVÁ-LO DA CRISE DE UM CAOS ANUNCIADO, SILENCIANDO INDIVÍDUOS EM NOME DE UMA “CAUSA MAIOR”.
VI - GÊNERO LITERÁRIO E LINGUAGEM:
- “MENSAGEM”, COMO GÊNERO ÉPICO MODERNO E LÍRICO, ABARCA O MITO
E A HISTÓRIA DO POVO PORTUGUÊS, ATRAVÉS DE POEMAS DE INTENSA SUBJETIVIDADE, COMO
É PRÓPRIO DO GÊNERO LÍRICO.
- PESSOA CONSTRÓI ESSES POEMAS EM UMA LINGUAGEM SIMBÓLICA, NA
QUAL AS PRESENÇAS DE MÍTICO E MÍSTICO SE ALTERNAM E SE COMPLETAM.
- OS POEMAS OSCILAM ENTRE O EQUILÍBRIO CLÁSSICO E A SINUOSIDADE
BARROCA.
-
SENTE-SE A PRESENÇA DO ESPIRITUAL, TRANSCENDENTE E O DIVINO.
-
LENDA E REALIDADE SE MISTURAM COMO POSSIBILIDADE DE AÇÃO NARRATIVA QUE USAM A
LINGUAGEM VERBAL, RELACIONANDO-A COM CERTO PASSADO.
-
NA REALIDADE, TRATA-SE DE UMA HISTÓRIA SIMBÓLICA EM QUE PESSOA TENTA ATRAVÉS
DOS ESTEREÓTIPOS NACIONAIS DO HEROÍSMO ENCARAR UMA FORMA MAIS ALTA DELE: O
HEROÍSMO METAFÍSICO E TRÁGICO DAQUELE QUE TEM DE PADECER, ASSUMINDO A TREVA DA
EXISTÊNCIA, PARA PODER MERECER A REDENÇÃO QUE SÓ ESSA AVENTURA DESARMADA E
MORTAL LHE PODE CONFERIR.
-
PESSOA SUPERA OS CLÁSSICOS, POIS EM “MENSAGEM” NÃO
SE TEM UMA NARRATIVA SOBRE OS GRANDES FEITOS DOS PORTUGUESES NO PASSADO, COMO
EM “OS LUSÍADAS”, MAS SIM, UM CANTAR DE UM IMPÉRIO DE TEOR ESPIRITUAL, SUAS
ATITUDES E O QUE REPRESENTAM PARA A HUMANIDADE, COMO SÍMBOLOS MÍTICOS, DA CONSTRUÇÃO
DE UMA “SUPRA-NAÇÃO”.
-
O POETA, ASSIM, EM UMA TENTATIVA DE ANALISAR O MUNDO PORTUGUÊS, PROPÕE UMA
REVISITAÇÃO DA LINGUAGEM ÉPICA, SEUS MITOS E HISTÓRIAS QUE INTERSECCIONA COM
OUTROS.
GÊNERO LITERÁRIO E LINGUAGEM:
- “MENSAGEM”, COMO GÊNERO ÉPICO MODERNO E LÍRICO, ABARCA O MITO
E A HISTÓRIA DO POVO PORTUGUÊS, ATRAVÉS DE POEMAS DE INTENSA SUBJETIVIDADE, COMO
É PRÓPRIO DO GÊNERO LÍRICO.
- PESSOA CONSTRÓI ESSES POEMAS EM UMA LINGUAGEM SIMBÓLICA, NA
QUAL AS PRESENÇAS DE MÍTICO E MÍSTICO SE ALTERNAM E SE COMPLETAM.
- OS POEMAS OSCILAM ENTRE O EQUILÍBRIO CLÁSSICO E A SINUOSIDADE
BARROCA.
-
SENTE-SE A PRESENÇA DO ESPIRITUAL, TRANSCENDENTE E O DIVINO.
-
LENDA E REALIDADE SE MISTURAM COMO POSSIBILIDADE DE AÇÃO NARRATIVA QUE USAM A
LINGUAGEM VERBAL, RELACIONANDO-A COM CERTO PASSADO.
-
NA REALIDADE, TRATA-SE DE UMA HISTÓRIA SIMBÓLICA EM QUE PESSOA TENTA ATRAVÉS
DOS ESTEREÓTIPOS NACIONAIS DO HEROÍSMO ENCARAR UMA FORMA MAIS ALTA DELE: O
HEROÍSMO METAFÍSICO E TRÁGICO DAQUELE QUE TEM DE PADECER, ASSUMINDO A TREVA DA
EXISTÊNCIA, PARA PODER MERECER A REDENÇÃO QUE SÓ ESSA AVENTURA DESARMADA E
MORTAL LHE PODE CONFERIR.
-
PESSOA SUPERA OS CLÁSSICOS, POIS EM “MENSAGEM” NÃO
SE TEM UMA NARRATIVA SOBRE OS GRANDES FEITOS DOS PORTUGUESES NO PASSADO, COMO
EM “OS LUSÍADAS”, MAS SIM, UM CANTAR DE UM IMPÉRIO DE TEOR ESPIRITUAL, SUAS
ATITUDES E O QUE REPRESENTAM PARA A HUMANIDADE, COMO SÍMBOLOS MÍTICOS, DA CONSTRUÇÃO
DE UMA “SUPRA-NAÇÃO”.
-
O POETA, ASSIM, EM UMA TENTATIVA DE ANALISAR O MUNDO PORTUGUÊS, PROPÕE UMA
REVISITAÇÃO DA LINGUAGEM ÉPICA, SEUS MITOS E HISTÓRIAS QUE INTERSECCIONA COM
OUTROS.
VII - TEMPO:
“É o som presente desse mar futuro”... É a “alma lusitana
grávida do divino” (PESSOA, 1979, p. 177).
- “Quando Deus faz, a história é feita” (PESSOA, 2006, p. 23).
-
SE A HISTÓRIA É FEITA POR DEUS, NÃO HÁ TEMPO CRONOLÓGICO, PORQUE UM DIA PARA
DEUS É COMO MIL ANOS E MIL ANOS COMO UM DIA (SALMOS 90.4).
-
ASSIM, OS “DIAS” DA CRIAÇÃO SÃO IMENSOS EM RELAÇÃO AOS ANOS NOS QUAIS REINAM OS
SOBERANOS; E O MESMO PODE-SE DIZER PARA OS PATRIARCAS, QUE SE SITUAM, POR ASSIM
DIZER, “A MEIO CAMINHO” ENTRE OS TEMPOS PRIMORDIAIS E O TEMPO HISTÓRICO.
- PESSOA AO PARODIAR O PASSADO E O PRESENTE DE PORTUGAL, APONTA
UM CAMINHO PARA O FUTURO: O “RESSURGIMENTO DA NAÇÃO” (PESSOA, 1979, P. 127).
-
A DIMENSÃO REAL CONSISTE NA ESTRUTURAÇÃO DO PASSADO HISTÓRICO DE PORTUGAL:
DESDE OS ALVORES DA NACIONALIDADE ATÉ ÀS CONQUISTAS ULTRAMARINAS, EM SEGUIDA, A
DECADÊNCIA DOS TEMPOS MODERNOS E A DIMENSÃO MÍTICA ESTRUTURA UM TEMPO PRESENTE
(FUTURO) NÃO REALIZADO HISTORICAMENTE.
- EMBORA HAJA UMA SIMULAÇÃO DE FALAR O TEMPO TODO DO PASSADO,
“MENSAGEM” CONCENTRA-SE COM OBSESSÃO NO FUTURO,
DANDO MAIOR PARTE DE SEUS POEMAS UM TOM ENIGMÁTICO, COMO SE ESTES
ACONTECIMENTOS FOSSEM SINAIS MISTERIOSOS QUE DEVERIAM SER DECIFRADOS PARA
PREVER O QUE ESTARIA PARA ACONTECER:
“Quando
virás, ó Encoberto, / Sonho das eras português, / Tornar-me mais que o sopro
incerto / De um grande anseio que Deus fez? ” (PESSOA, 2006, p. 53).
-
FERNANDO PESSOA PARECE EMBARALHAR TEMPOS: PASSADO E PRESENTE CRUZANDO-SE NA
SUBJETIVIDADE DE UM “POVO PREDESTINADO”.
- ASSIM EM “MENSAGEM”, O PASSADO É ATUALIZADO, TRANSCENDENTE AO REGIME DE TEMPO LINEAR E IRREVERSÍVEL.
VIII - FOCO NARRATIVO/PERSONAGENS:
- UM SUJEITO POÉTICO COMPLEXO, FORMADO NA ANARQUIA DE VOZES, ORA
UM “HERÓI”, ORA UM “NÓS”, NA POSSIBILIDADE DE TAL PRONOME SER A VOZ PLURAL E
AFLITA DE UM PORTUGAL REPRIMIDO, ORA “UMA MISTERIOSA VOZ EM TERCEIRA PESSOA”.
- “MENSAGEM” RELÊ OS HERÓIS DA HISTÓRIA PORTUGUESA E TRAZ PARA
JUNTO DELES OS HERÓIS LENDÁRIOS.
-
NESTA OBRA, ENTÃO, A HISTÓRIA DE PORTUGAL PARECE OBEDECER A UM PLANO OCULTO,
DIVINO, AONDE OS HERÓIS MÍTICOS CUMPREM UM DESTINO.
-
NO POEMA “ULISSES” (O PRIMEIRO DE “OS CASTELOS”), PESSOA EXPRESSA “O NADA” QUE
FOI ULISSES ENQUANTO LENDA E “O TUDO” QUE SE TRANSFORMOU NA FUNDAÇÃO DE LISBOA:
“Este, que aqui aportou, / Foi por não ser
existindo. / Sem existir nos bastou. / Por não ter vindo foi vindo / E nos
criou”.
- O HERÓI QUE FUNDOU LISBOA POR TER ANCORADO ALI UMA DE SUA NAVEGAÇÕES CRIOU PORTUGAL.
IX - ESTRUTURA: 44 POEMAS
- “MENSAGEM” NÃO FOI UM LIVRO PRÉ-CONCEBIDO. FORAM ESCRITOS ANOS A FIO. PESSOA PERCEBEU QUE SE TRATAVAM DO MESMO ASSUNTO: A ALMA PORTUGUESA (OU A ALMA HUMANA) ATRAVÉS DE SUA HISTÓRIA/MITO.
- OS POEMAS, NA MAIORIA DE CURTA EXTENSÃO, DE DUAS, TRÊS OU CINCO ESTROFES, QUE SE APRESENTAM, POR SUA VEZ, 4, 5, 6 OU 9 VERSOS PLENOS DE MUSICALIDADE CONFERIDA PELA RIMA, PELO RITMO E PELA VALORIZAÇÃO DE ASPECTOS FÔNICOS.
- “MENSAGEM” É ESTRUTURADO EM TRÊS PARTES (ESTRUTURADA TRIPARTIDA), QUE REPRESENTAM AS TRÊS ETAPAS DO IMPÉRIO
PORTUGUÊS:
-
“NASCIMENTO” (O CERNE DA NOBREZA);
-
“REALIZAÇÃO E MORTE” (POSSE E DECADÊNCIA);
- “RENASCIMENTO” (FUTURA CIVILIZAÇÃO
INTELECTUAL).
- ESSA ORGANIZAÇÃO DÁ
FORMA A UM ARTICULADO MOVIMENTO NA OBRA, QUE RETOMA O PASSADO DE PORTUGAL E
PROJETA SEU FUTURO, AO MESMO TEMPO EM QUE CONSTRÓI UM PRESENTE DE ESPERA
MESSIÂNICA.
- SEM UNIDADE NARRATIVA,
TODAS AS PARTES INCLUEM UMA NOTA PRELIMINAR ANTECEDENDO-AS E POSSUEM EPÍGRAFES
EM LATIM, NO SEU INÍCIO.
ESTRUTURA: 44 POEMAS
- “MENSAGEM” NÃO FOI UM LIVRO PRÉ-CONCEBIDO. FORAM ESCRITOS ANOS A FIO. PESSOA PERCEBEU QUE SE TRATAVAM DO MESMO ASSUNTO: A ALMA PORTUGUESA (OU A ALMA HUMANA) ATRAVÉS DE SUA HISTÓRIA/MITO.
- OS POEMAS,
NA MAIORIA DE CURTA EXTENSÃO, DE DUAS, TRÊS OU CINCO ESTROFES, QUE SE
APRESENTAM, POR SUA VEZ, 4, 5, 6 OU 9 VERSOS PLENOS DE MUSICALIDADE CONFERIDA
PELA RIMA, PELO RITMO E PELA VALORIZAÇÃO DE ASPECTOS FÔNICOS.
- “MENSAGEM” É ESTRUTURADO EM TRÊS PARTES (ESTRUTURADA TRIPARTIDA), QUE REPRESENTAM AS TRÊS ETAPAS DO IMPÉRIO
PORTUGUÊS:
-
“NASCIMENTO” (O CERNE DA NOBREZA);
-
“REALIZAÇÃO E MORTE” (POSSE E DECADÊNCIA);
- “RENASCIMENTO” (FUTURA CIVILIZAÇÃO
INTELECTUAL).
- ESSA ORGANIZAÇÃO DÁ
FORMA A UM ARTICULADO MOVIMENTO NA OBRA, QUE RETOMA O PASSADO DE PORTUGAL E
PROJETA SEU FUTURO, AO MESMO TEMPO EM QUE CONSTRÓI UM PRESENTE DE ESPERA
MESSIÂNICA.
- SEM UNIDADE NARRATIVA,
TODAS AS PARTES INCLUEM UMA NOTA PRELIMINAR ANTECEDENDO-AS E POSSUEM EPÍGRAFES
EM LATIM, NO SEU INÍCIO.