sábado, 12 de maio de 2012

PINTURA METAFÍSICA: GIORGIO DE CHIRICO


I – DADOS CRONOLÓGICOS:
 
Entre 1910 e 1915, aconteceu primeiramente em Florença e depois, em 1911, em Paris.


II – CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL:

A Pintura Metafísica não teve as pretensões proselitistas nem a agressividade do Futurismo, mas esta pintura criou uma escola durante a I Guerra Mundial.


III – CARACTERÍSTICAS:

A Pintura Metafísica é de misteriosa serenidade, arquitetônica, voluntariosamente quieta, de volumes e formas extremamente simples, com certa ingenuidade configuradora de também simplíssimos espaços perspectivos, especificando ostensivamente os horizontes e as linhas de fuga, dentro de um dominador hálito intelectual, esteticista e onírico; sentindo-se densa a respiração do humano, mas muito frequentemente os homens e as mulheres ausentes; os donos de tais âmbitos eram os manequins ou algumas estátuas. Tudo profundamente aferrado ao passado e muito moderno.
A Pintura Metafísica foi, sem dúvida, um sensível e inteligente esforço para manter por todos os meios ao seu alcance o brilhante humanismo europeu italiano em altíssima medida, condenado a desaparecer perante o homem novecentista, apaixonado pelas máquinas com o ardor que proclamaram os Futuristas.
  

IV – GIORGIO DE CHIRICO (1888-1978)

A – VIDA:  



“O que posso amar senão o enigma?”

                        A frase acima, inscrita em latim em um autorretrato, de 1911, Giorgio De Chirico sintetiza seu pensamento e confere à sua obra uma espécie de epíteto.
                        O artista nasceu em Volos, na Grécia e conviveu com as lendas da mitologia grega da sua região, que mais tarde, influenciará suas pinturas. Os heróis como Ulisses, Orfeu e Orestes e as musas como Ariadne, além dos viajantes e as viagens lendárias, serão fontes de inspiração em suas obras.
                        De Chirico estudou em Munique e conheceu a pintura de realismo mágico e sombria de Arnold Böcklin, com seus temas alegóricos, e o trabalho de Max Klinger de cunho simbolista, que se apresentaria ao pintor como uma ligação ao surrealismo mais tarde.
                        Viveu em Turim e encantou-se com a arquitetura da cidade, tomada por construções com arcos e galerias de passagem, praças planejadas com exatidão e a filosofia de Nietzsche.  
                        A partir de 1911 estabeleceu-se em Paris, frequentou os salões de arte e conheceu Picasso e o poeta Apollinaire.
                        Com a saúde debilitada, passou longa temporada internado em um hospital de Ferrara.
                        Conheceu Carlo Carrà, Fillippo di Pisis e Giorgio Morandi, com quem lançariam entre os anos de 1917 e 1919 as bases do que viria a ser a Pintura Metafísica.
                        Num texto de 1927 publicado em um boletim da Galeria L’Effort Moderne, de Paris, De Chirico explicava simbolicamente sua inspiração:

                        “É estranho ver móveis como camas, guarda-roupas, poltronas e mesas jogados numa estrada, em um cenário que normalmente não são vistos. Parecem ganhar uma nova luz,
                        investidos de uma estranha solidão, o que gera uma intimidade entre eles”.

                        Num contexto mais amplo, a proposta da metafísica era justamente não subverter nada, mas fazer ver o que estava presente, mas escondido. Ao tentar registrar o que é imperceptível aos olhos, criou uma estética que misturava sonho e realidade.   Sua visão da realidade sofreu influência de filósofos do século XIX, como Schopenhauer e Nietzsche.

                        Aclamado pelos surrealistas como precursor do movimento, pintava fantasias de pesadelo 15 anos antes da existência do Surrealismo.

“Eles ensinaram, antes de mais nada, o profundo significado do absurdo e como tal absurdo se pode traduzir em arte”, dizia.

Sua inovação, entretanto, não obteve reconhecimento imediato e teve de conviver com a rejeição da crítica.
Na década de 1920, De Chirico distanciou-se da pintura metafísica por um ideal de arte clássica, em muito inspirado por uma antiga influência barroca e artistas como Rafael e Rubens. Chegou a negar a pintura moderna, o que levou André Breton afirmar que De Chirico morrera em 1919.
No final dos anos 1930, o artista se envolveu com o movimento fascista e transformou integrantes do regime de Benito Mussolini, em personagens de suas obras.
As dúvidas sobre a trajetória de De Chirico envolvem controvérsias. Contam que ele vendia cópias de seus trabalhos feitas por ele mesmo, denunciava como falsificação apenas por não simpatizar com seus donos. Para muitos, porém, continuou respeitado e um pintor de grande conhecimento, a quem recorrerão diversos aprendizes, ente eles o gaúcho Iberê Camargo, nos anos 40.
No fim da vida, após transformar seu estilo várias vezes, apoiando-se em referência que iam do barroco ao impressionismo, o artista retornou as ideias que o consagraram na juventude. Um dos destaques é “O retorno de Ulisses”, 1968, obra que retrata um homem remando num mar dentro de um quarto; uma referência ao fim da carreira do artista.


B – CARACTERÍSTICAS E OBRAS:


DE CHIRICO criou um inconfundível mundo capaz de nos lembrar os espaços arquitetônicos da distante Antiguidade de gregos e romanos, sem que faltasse um espírito oculto do também distante medieval.
O artista colocou-se como exterior à temporalidade, como negação do presente, da realidade natural e social, como também, retornou à ordem clássica da arte.
Retratando medos irracionais infantis, DE CHIRICO é famoso por suas sinistras paisagens urbanas com arcadas desertas, iluminação oblíqua; sombras agourentas; forte jogo de luz e sombra; cores reais representando figuras destituídas de alma; ambientes oníricos e manequins anônimos traduzem mistérios, sentimentos, estranhezas e emoções.
A perspectiva oblíqua e as praças quase desertas, habitadas por figuras mínimas, despersonalizadas, transmitem ameaça.
Sob o imperativo de uma geometria pouco asséptica, totalmente construtora, a pintura metafísica retrata um mundo com uma onda nostálgica do passado e edificado como se tal sonho ainda fosse possível.
O “metafísico” (o que está além do sensorial) às vezes é elevado à categoria de metáfora do homem, acumulando prismas, esquadros, elementos verticalizados que se arrematam com uns ombros sem braços e um crânio oval sem rosto; enfim, uma insólita estátua.
Segundo o artista, para que uma obra de arte fosse imortal, teria que abandonar por completo o limite do humano.



Em "O enigma de uma tarde de outono", 1910, De Chirico retrata a Praça Santa Croce com extremo subjetivismo. A fachada da igreja católica é substituída por linhas gregas; no centro, onde possivelmente teria uma fonte, surge uma estátua apolínea (Dante?) de costas e sem cabeça e um mastro de navio é visto atrás de uma parede, tudo envolvido por cores pálidas e em grande melancolia.  



"O enigma do oráculo", 1910.


                                          "L'enigma dell'ora", 1911.



   "Nostalgia of the infinite", 1913.



"O mistério e a melancolia de uma rua", 1914.



"Canto d'amore", 1914.



“Portrait Prémonitaire de Guillaume Appolinaire”, 1914.


                         "Ettore e Andromaca", 1917.









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