quinta-feira, 21 de abril de 2011

RAFAEL SANZIO: PRÍNCIPE DOS PINTORES RENASCENTISTAS

“Autorretrato”


Raffaello Sanzio, Raffaello Santi, Raffaello de Urbino ou Rafael Sanzio de Urbino nasceu em 6 de abril de 1483, em Urbino, na Itália. O duque de Urbino foi um grande entusiasta das artes e na época, transformou a cidade de Urbino em centro cultural do mundo o que atraiu diversos artistas, entre eles Donato Bramante, Piero della Francesca e Leone Battista Alberti.
Em 1500, Rafael já se destacava no mundo artístico renascentista.
A afirmativa confirma-se através das considerações de Dal Pogetto que em 1500, afirmou que: o universo pictórico de Rafael já era, “rico de experiências muito mais vastas e complexas que os exemplos estreitamente peruginescos, aos quais alguns gostariam de restringir sua formação”, acrescentando que “faz-se necessário pressupor o conhecimento, por parte de Rafael, de uma alternativa, ou seja, de uma arte tendente ao movimento, como a florentina.”
Transferiu-se, então, para Perúgia e através de Pietro Perugino, aprendeu a técnica do afresco e criou “O casamento da Virgem”, 1504.
Rafael, nessa obra, inspirou-se grandemente na obra de seu mestre Perugino, “Esponsais da Virgem” para a idealização e realização da mesma. No entanto, apresentam-se diferenças primordiais: Rafael optou pela circularidade em oposição ao horizontalismo quatrocentista de Perugino, além de um espaço mais aberto na obra de Rafael, o que indica um comando superior de perspectiva em relação á obra de seu mestre.
Esse mural foi encomendado pela família Albizzini para a capela de São José, na igreja de São Francisco das Minorias na “Cittá di Castello”, posteriormente, após várias transações, entre oficiais napoleônicos e negociadores de artes, fora adquirida pela Academia de Finas Artes, em Brera, Milão, no século XIX.

“O Casamento da Virgem”, 1504.


“O Casamento da Virgem” contextualiza a filosofia artística da época. O artista fez uso da perspectiva espacial e do contraste entre luz e sombra, aproximando-o de traços realitas.
No plano de fundo, Rafael inseriu o majestoso templo bramantino coincidindo com o centro ideal, denominado futuramente, por ponto de fuga, pelo qual atravessa uma linha horizontal que separa os dois planos, e juntamente com as rotas de fuga facilmente perceptíveis, permite a livre disposição das figuras menores e as maiores, as quais representam o elenco do matrimônio.
No plano frontal, José coloca o anel na mão da Virgem, assistido por um sacerdote que conduz a solenidade. Em sua mão esquerda, José segura um cajado com flores na haste, diferenciando-o dos outros não floridos. Alguns dos “súditos” que acompanham José permanecem sérios, enquanto um deles quebra o seu cajado.
Nessa época havia a predominância da ideia que, toda obra de arte continha uma forma de pensamento, um conteúdo informativo, pensamento crítico e simbólico, limitando, assim, a um pequeno círculo elitista de expectadores.
Em “O Casamento da Virgem” o simbolismo hermético encontra-se no cajado florido de José, indicando a sua divindade em relação aos demais personagens.
Nesse afresco as características renascentistas são evidentes como: a harmonia; o equilíbrio; a temática religiosa; a forma piramidal e triangular entre a Virgem, o Sacerdote e José, alegoria da “santíssima trindade”; a leveza ao compor figuras relativamente jovens e bastante expressivas, e o movimento aliado ao livre diálogo entre luz e sombra permitindo a composição do volume e textura das personagens e dos objetos na pintura.
Rafael utilizou-se das três cores primárias (vermelho, o azul e o amarelo) para a composição das vestes das personagens e do fundo. Além de priorizar a cor dourada na composição do templo e do pavimento, no qual as figuras do primeiro plano estão, a partir do anel de José, dispostas separadamente de cada lado e as figuras do segundo plano, conforme se aproximam do ponto de fuga se tornam menores, dando a impressão de distância real.
O pintor valeu-se da técnica do “sfumato” para retratar a porta ao fundo do templo exibindo o fundo azul com intenção de profundidade.
Rafael assina a obra no topo do templo: Raphael Urbinas MDIIII.
Em seguida, Rafael concluiu três pequenos quadros: “Visão de um Cavaleiro”, “As Três Graças” e “São Miguel”. Neles já se expunha o seu estilo amadurecido e o frescor que lhe acompanharia a vida toda.

“Visão de um cavaleiro”, 1504.
 
 
“As Três Graças”, 1503/4.


“São Miguel”, 1503/4.


Ainda em1504, Rafael seguiu a Florença, atraído pelas inovações artísticas que estavam sendo realizadas, no Palazzo della Signoria, por Leonardo da Vinci e Michelangelo.
Sob nova influência, sobretudo da obra de Da Vinci, substituiu seu estilo fundamentado na perspectiva e na composição geométrica por uma maneira informal, suave de pintar e na expressiva anatomia humana.
Nessa época, iniciou as diversas madonas, entre as quais a “Madona Esterházy” e “A bela jardineira” também, conhecida como “A Virgem com o Menino e com o pequeno São João Batista”, uma das três telas que o grande pintor renascentista dedicou à Madona e a seu Filho pequenino brincando com o primo João Batista. As outras duas são “A Virgem do Belvedere” e “A Virgem do Pintassilgo”.

“Madona Esterházy”, 1504.

 
“A bela jardineira”, 1507-1508.


“A Virgem do Belvedere”, 1506.


“A Virgem do Pintassilgo”, 1504-8


Por indicação de seu amigo e arquiteto do Vaticano, Bramante, Rafael foi chamado a Roma pelo papa Júlio II em 1508, para decorar com afrescos as salas do Vaticano e a biblioteca particular do Papa, hoje conhecidas como as “Stanzi de Raffaello”, onde trabalharam simultaneamente Rafael e Michelangelo.
O Papa Júlio II impressionou-se com os trabalhos do jovem Rafael e ordenou apagar várias obras de artistas mais antigos, inclusive algumas de Perugino, mestre de Rafael, para serem substituídas por suas obras, porém este se recusou em destruir as obras de seu antigo mestre.
Nos doze anos em que permaneceu na cidade, incumbiu-se de numerosos projetos de destaque, nos quais desenvolveu um estilo grandioso, demonstrando uma imaginação variada e extremamente criativa.
Dos afrescos do Vaticano, os mais importantes são a “Disputa” ou “Discussão do Santíssimo Sacramento”, de teor alegórico, simbolizando a verdade teológica, através da glória da Eucaristia adorada pela Igreja triunfante, no céu, e pela Igreja militante, na terra e a “Escola de Atenas”, retratando as ciências seculares da filosofia, ambos pintados na Stanza della Segnatura.

“Disputa”, 1509-10.


“Disputa” é o primeiro afresco concluído por Rafael para o Papa Júlio II. Nele, o artista criou uma cena que abrange o céu e a terra, representando o triunfo da religião e verdade espiritual.
Dessa forma, o mural pode ser visto como um retrato da Igreja atuante abaixo, e da Igreja triunfante acima.
A Hóstia consagrada é mostrada no centro do altar e centralizada na pintura e, ao lado, filósofos escolásticos discutem seu significado, enquanto a Santíssima Trindade, santos e anjos flutuam nas nuvens acima.
As figuras representando a Igreja triunfante e a Igreja atuante, retratados em dois semicírculos, um sobre o outro, adoram a Hóstia.
Acima, Cristo ressuscitado está sentado sobre o trono de nuvens entre a Virgem Maria, curvada em forma de adoração, e João Batista que, de acordo com a tradição iconográfica, aponta para Cristo e, várias figuras bíblicas do Antigo e Novo Testamento, como Adão, Moisés e Jacó. Estes estão sentados ao redor do grupo central sobre um banco semicircular de nuvens parecido ao que constitui o trono de Cristo.
Deus Pai fica acima de Jesus, representado reinando sobre a luz dourada do céu, banhado da glória celestial, abençoa o grupo de personagens bíblicos e eclesiásticos no topo da composição.
Ao fundo, inserida na vasta paisagem dominado pelo altar e o sacrifício eucarístico, estão os santos, papas, bispos, sacerdotes e o coro dos devotos. Eles representam a Igreja Atuante, e que continuará a atuar no mundo, e que contemplam a glória da Trindade com os olhos da alma. Seguindo quinze séculos de tradições, Rafael retratou personalidades famosas.

 
Entre as pessoas do grupo aparece Bramante, mentor de Rafael e famoso arquiteto renascentista, ensinando na balaustrada à esquerda; o jovem de pé próximo a ele foi identificado como Francesco Maria Della Rovere e retratado com a fisionomia parecida com a de Leonardo da Vinci; Savonarola; Platão, de costas, com um manto azul; Papa Júlio II, que personifica Gregório o Grande, sentado próximo do altar e o Papa Sisto IV, o Papa trajando-se de ouro no fundo da pintura. Diretamente atrás do Papa Sisto IV está Dante Alighieri visto à direita, vestindo vermelho e distinguido por uma coroa de louros, símbolo da sua grandeza como escritor.

Eles formam um tranquilo e silencioso grupo e, no entanto, são pintados com vigorosos tons coloridos e as figuras são altamente individualistas.
A estrutura do afresco é caracterizada por extrema claridade e simplicidade, que Rafael adquiriu através de esquetes, estudos e desenhos contendo notáveis diferenças na composição de trabalhos. Contudo, o layout, os gestos e as poses são originalidades das pesquisas de Rafael, que são ricas em admirável equilíbrio de cores e de grande dignidade expressiva.
Um estudo sobre a pintura mostra que a “Disputa” e “A Escola de Atenas” podem ser vistos como tendo algo em comum: a verdade revelada da origem de todas as coisas, em outras palavras, a Trindade. Isto pode não ser compreendido pelo intelecto somente (Filosofia), mas é comprovado na Eucaristia. No entanto, a “Escola de Atenas” é uma alegoria complexa do conhecimento filosófico profano.
Na “Stanza della Segnatura” (Sala da Assinatura), sala utilizada como biblioteca e onde Júlio II assinava os decretos da corte eclesiástica, foram pintados afrescos que representavam as quatro disciplinas fundamentais da cultura, isto é, a Teologia, a Filosofia, a Poesia e a Jurisprudência. Um dos episódios retratados nesta sala, que representa a ciência secular da Filosofia, é a famosa “A Escola de Atenas”.
Na cidade de Atenas, no ano 387 a.C., o filósofo e matemático grego Platão fundou uma academia de estudos científicos e filosóficos.
Essa academia tornou-se um dos mais importantes centros de pesquisa e ensino da Matemática e Filosofia da Antiguidade Clássica, tendo funcionado durante 900 anos, até ao seu encerramento definitivo pelos cristãos. No entanto, a Academia permaneceu sempre como um dos maiores símbolos da busca racional da verdade e, em especial, como um símbolo para os estudos matemáticos teóricos.
“A Escola de Atenas” é uma alegoria que representa a continuidade histórica do pensamento da Academia de Platão através de várias personalidades do mundo matemático e filosófico grego.

“A Escola de Atenas”, 1509-1510.

 
 
Nesta pintura, Rafael representou os maiores pensadores de todos os tempos, especialmente os da Grécia Antiga onde alguns deles estão personificados em homens famosos do renascimento. Platão é parecido com Leonardo da Vinci, Euclides com Bramante e Miguelângelo tem o aspecto de Heráclito. Talvez fosse uma maneira de Rafael ligar o passado ao presente e de prestar homenagem aos seus grandes contemporâneos:

1: Zenão de Cítio ou Zenão de Eléia
2: Epicuro
3: Frederico II, duque de Mântua e Montferrat
4: Anicius Manlius Severinus Boethius ou Anaximandro ou Empédocles
5: Averroes
6: Pitágoras
7: Alcibíades ou Alexandre, o Grande
8: Antístenes ou Xenofonte
9: Hipátia (Francesco Maria della Rovere or Raphael's mistress Margherita.)
10: Ésquines ou Xenofonte
11: Parménides
12: Sócrates
13: Heráclito (Miguelângelo)
14: Platão segurando o Timeu (Leonardo da Vinci)
15: Aristóteles segurando Ética a Nicômaco
16: Diógenes de Sínope
17: Plotino
18: Euclides ou Arquimedes acompanhado de estudantes (Bramante)
19: Estrabão ou Zoroastro (Baldassare Castiglione ou Pietro Bembo)
20: Ptolomeu R: Apeles (Rafael)
21: Protógenes (Il Sodoma ou Pietro Perugino).

Rafael desenhou a si mesmo no quadro Escola de Atenas

Pitágoras cercado por Empédocles (?),

Averroes, Hipatia e Parmênides


Aristóteles e Platão
 
 
Bramante e Euclides


“A Escola de Atenas” retratou as ciências seculares, dando ênfase à matemática em particular, ao número, à razão e à harmonia.
Aristóteles e Platão, dois grandes filósofos do mundo clássico são vistos em uma conversa no centro da imagem exatamente como se poderia imaginar um discurso acadêmico em curso na Grécia Antiga.
Platão, representando a filosofia abstrata e teórica, segura uma cópia do seu livro “Timeu” e aponta para o alto, fonte de sua inspiração, o mundo das formas ideais, o mundo inteligível.
Aristóteles, discípulo divergente de Platão, segura uma cópia do seu livro “Ética”, tem a mão na horizontal, em direção ao que o rodeia a indicar a sua preocupação com o mundo concreto, terrestre, material e sensível representando a filosofia natural e empírica. Provavelmente a intenção de Rafael era mostrar os diferentes caminhos do conhecimento.
Platão era um seguidor da doutrina da escola Pitagórica e, como tal, os estudos na sua escola davam grande ênfase aos números, principalmente no que diz respeito a questões de razões e harmonias. Sabendo isso, Rafael, no grupo dos geômetras, colocou Pitágoras à esquerda, como representante da Teoria da Harmonia, e Euclides à direita, representando a perfeição lógica da Geometria.
É importante ressaltar a impressão de profundidade e a beleza monumental das arcadas e estátuas. O seu valor artístico além de outras qualidades está em representar o amplo espaço arquitetônico e ordenar as figuras vestidas de romano com equilíbrio e simetria, traça uma arquitetura impossível para a época, a proposta era ser no século XVI, o que ocorreu na Antiguidade.
Após a morte do Papa Júlio II, em 1513, Rafael prosseguiu seus trabalhos sob a custódia do novo Papa, Leão X, até 1517.
Nesse tempo, Rafael criou decorações sacras e seculares para vários prédios, retratos, altares, desenhos para tapeçarias, design para pratos e até trabalhos cenográficos.
Alguns de seus trabalhos mais famosos desse período nasceram da amizade com que mantinha com um rico banqueiro de Siena, Agostino Chigi, que lhe encomendou o belíssimo afresco de “Galatea” para sua Villa Farnesina e as “Sibilas” na igreja de Santa Maria della Pace, junto com o projeto e a decoração da Capela de Chigi na igreja de Santa Maria del Popolo, em 1513.

“O triunfo de Galatea”, 1512.


"O triunfo de Galatea” é a evocação suprema do glorioso espírito da Antiguidade. Grande parte da beleza do rosto Galatea reside na sua sugestão de timidez e inocência, como se ela fosse totalmente inconscientes de seus encantos físicos. A composição é claramente construída a partir da interação de diagonais. Assim, a diagonal de emissão a partir do topo da seta para a esquerda, prolonga nas rédeas dos golfinhos, enquanto à seta da direita é direcionada para o corpo da ninfa do mar. A torção do corpo de Galatéia deriva de uma obra perdida de Leonardo da Vinci e serve para lembrar-nos a influência deste sobre o jovem artista. Retomando a temas da mitologia restitui as proporções, a organização do espaço e do esfumaçado.
Apesar da grandiosidade do empreendimento, cujas últimas partes foram deixadas principalmente por conta de seus discípulos, Rafael, que então se tornara o pintor da moda, assumiu ao mesmo tempo numerosas outras tarefas: criou retratos, altares, cartões para tapeçarias, cenários teatrais e projetos arquitetônicos de construções profanas e igrejas como a de Sant’Eligio degli Orefici. Tamanho era seu prestígio que, segundo o biógrafo Giorgio Vasari, Leão X chegou a pensar em fazê-lo cardeal.
Em 1514, com a morte de Bramante, Rafael foi nomeado para suceder-lhe como arquiteto do Vaticano e assumiu as obras em curso na basílica de São Pedro, onde substituiu a planta em cruz grega, ou radial, por outra mais simples, em cruz latina, ou longitudinal.
Competente pesquisador interessado na Antiguidade clássica, Rafael foi designado, em 1515, para supervisionar a preservação de preciosas inscrições latinas em mármore. Dois anos depois, foi nomeado encarregado geral de todas as antiguidades romanas, para o que executou um mapa arqueológico da cidade.
Sua última obra, a “Transfiguração”, encomendada em 1517, desvia-se da serenidade típica de seu estilo para prefigurar coordenadas de um novo mundo conflituoso com características barrocas.

“Transfiguração”, 1518/20.


Em 1519, Rafael projetou os cenários para a comédia “I suppositi”, de Ludovico Ariosto.
Coberto de honrarias, Rafael morreu em Roma em 6 de abril de 1520, no seu aniversário de 37 anos, apenas a algumas semanas depois de Leão X apontá-lo como cardeal, acometido por uma febre.
Seu corpo repousou por um tempo em uma das salas na qual ele havia demonstrado sua genialidade e foi honrado com um funeral público. A incansável mão da morte (nas palavras de seu biógrafo) pôs um limite em suas conquistas e privou o mundo de um benefício maior de seus talentos, na idade em que a maioria dos outros homens começa a ser útil.
Rafael foi enterrado no Pantheon, o mais honorável mausoléu na Itália. Em sua tumba foi colocada uma frase de Pietro Bembo em latim que diz:

“Aqui jaz Rafael, que fez temer à Natureza por si fosse derrotada, em sua vida, e, uma vez morto, que morresse consigo”.

As obras de Rafael podem ser vistas como pontos altos do que se designa como “Alta Pintura Renascentista”, em sua forma mais evoluída, uma nova abordagem à arte.
Uma pintura que não era mais o retrato simples de um evento, mas a tradução e interpretação da sua matéria em sua composição, o movimento do corpo agora era entendido como uma analogia para a animação do espírito ou as emoções. Tudo em sua arte visava equilíbrio harmonioso.
Nisto reside à contribuição significativa de Rafael para a pintura da Alta Renascença.

Um comentário:

Anônimo disse...

Acho as obras de Ragael Sansio realmente muito bonitas