segunda-feira, 19 de março de 2012

O ART NOUVEAU – 1880-1914



“O Art Nouveau tentou assim subtrair o homem à pressão do meio industrial. Em face da máquina, considerada opus diaboliçum - continua Delevoy - pretendeu retomar o contato com a natureza, reabilitar o utensílio que prolonga a mão. Em consequência, constrange o artista a se exprimir à margem das forças vivas da técnica. Mantém pintores, escultores e arquitetos á distância respeitosa do complexo tecnológico, e os levou a se interessarem mais por um artesanato habilidoso do que pela máquina e seus produtos. Mantinha-os, assim, na ignorância da prodigiosa assimilação da técnica industrial.”



O termo tem origem na galeria parisiense L’Art Nouveau, aberta em 1895 pelo comerciante de arte e colecionador Siegfried Bing. 






O projeto de renovar a decoração de sua casa por arquitetos e designers modernos é apresentado na Exposição Universal de Paris de 1900, “ArtNouveau Bing”, conferindo visibilidade e reconhecimento internacional ao movimento. Daí ser conhecido também por “Estilo 1900”.
O estilo do Art Nouveau foi uma manifestação típica do século XIX, no entanto, podem-se encontrar traços desse movimento nos layouts tipográficos dos anos 60 e mesmo da década de 70, dos séculos XX.
O Art Nouveau se irradiou pela Europa e recebeu denominações variadas nos diferentes países. Na França e Bélgica, chamou-se “Art Nouveau”, na Itália, “Floreale”, na Alemanha chamou-se “Jungendstill” e “Sezession” no império austro-húngaro. Nos E.U.A, “Escola de Chicago”, entre outras denominações.
O movimento Art Nouveau, embora anteceda o Cubismo, foi um estilo estético essencialmente das Artes Aplicadas: arquitetura, design, artes gráficas, artes decorativas, mobiliário, as estampas japonesas e outras. Mesmos os pintores mais estritamente relacionados com o estilo, como Toulouse-Lautrec, Pierre Bonnard, Gustav Klimt, são identificados no caso, por seus pôsteres e objetos de decoração.



O movimento aceitou a tecnologia do século XIX, mas “desvirtuou-a” na medida em que se submeteu a um imperativo estético que lhe era alheio. Incorporou a estética não institucionalizada, mas a encaminhou para a individuação, para a caracterização do instante único da ação do artista “livre” da sociedade burguesa.
É importante ressaltar que as opções desse estilo estavam manifestadas na escolha de materiais que se afastavam da matéria prima comumente encontrada nos ambientes fabris.
Os materiais deveriam reforçar a singularidade da ação artística, sendo dessa forma, trabalhados por meio de tantas etapas e processos que não poderiam se adequar precisamente à determinação de um produto que pudesse ser refeito utilizando-se dos mesmos materiais e da mesma técnica.
Uma da principal influência estética que inspirou o uso público do espaço graficamente foi á popularidade das estampas japonesas. A pintura japonesa valorizava muito o espaço em branco do papel e a composição precisa dos elementos figurativos, além do movimento e textura gráfica da pincelada. Pode-se perceber essa influência direta na composição e desenho, extremamente gráficos e econômicos, de Aubrey Beardsley, um dos pioneiros do design e do desenho artístico moderno.




Além disso, a expressividade da caligrafia japonesa pode ter influenciado também muito da caligrafia expressionista.
Os novos materiais do mundo moderno são amplamente utilizados (o ferro, o vidro, o cimento, cerâmicas, madeiras exóticas, grades, janelas em forma de ferradura) e os avanços tecnológicos na área gráfica, como a técnica da litografia colorida, possibilitando aos designers da época trabalhar direto na pedra sem as restrições da impressão tipográfica, possibilitando um desenho mais livre, que teve grande influência nos cartazes, assim como são valorizadas a lógica e a racionalidade das ciências e da engenharia.



O Art Nouveau surgiu como uma tendência arquitetônica inovadora e eminentemente decorativa, com apuro artesanal no uso de materiais coloridos, formas orgânicas inspiradas em folhagens, flores, cisnes, labaredas, de formas ondulantes, contornos sinuosos e composição assimétrica como um tipo de confirmação dos limites que a produção industrial teria no mundo das artes. Assim, a existência de formas de plantas e animais demonstra a exata distância que difere o labor artístico da reprodução realizada pelas máquinas.  


Uma possível causa para esse fenômeno é que o Art Nouveau não conseguiu estabelecer uma doutrina coerente e organizada sobre a cidade. Não há um “urbanismo Art Nouveau”, como existe uma teoria (e prática) do desenho industrial e da arquitetura. O Art Nouveau “permanece” na cidade, mas não repropõe a cidade. Ao contrário “conforma” a cidade existente sem lhe acrescentar nenhum “conteúdo polêmico”, por assim dizer. Esta afirmação é particularmente visível em Chicago nas áreas onde os arquitetos americanos companheiros de Sullivar mais atuaram – o compromisso dos edifícios com a trama das ruas é praticamente o mesmo que o de Paris de Percier e Fontaine. Nesse sentido, pode-se reconhecer que as grandes contribuições para “pensar” a cidade não vieram das “áreas profissionais”, mas dos filantropos, dos socialistas de vários matizes e dos seus opositores conservadores, enfim, dos políticos.
Ora, é justamente nessa área que se situam as maiores preocupações dos arquitetos posteriormente agrupados sob o nome de Internacional Style ou Racionalismo, nas primeiras décadas do século XX. Caricaturando um pouco, podemos dizer que o ideário Art Nouveau mostrou-se capaz de resolver uma cafeteira ou binóculo, do ponto de vista de absorver a produção industrial a serviço da cidade. Denuncia-se assim o caráter eminentemente privatista do ideário Art Nouveau.
No campo das artes plásticas, destaca-se o legado de Gustav Klimt (1862-1918), autor de “O beijo” (1907); Henri de Toulouse-Lautrec (1864-1901), que assina “Baile no Moulin Rouge” (1890); e Pierre Bonnard (1867-1947), criador de “Prato de maçãs em cima de uma mesa” (1905).
O estilo revolucionou também, o design de moda, o uso dos tecidos e o mobiliário, assim como o design de vasos e lamparinas Tiffany. 





Em Paris, René Lalique, marcou a história da joalheria com suas peças fantásticas e de inegável beleza, inspiradas na fauna e flora. Criou um estilo único ao utilizar materiais inusitados para a joalheria tradicional, como vidro, marfim, ossos, além de gemas tidas na época como “semipreciosas”, como opalas e ônix, entre outras.


Mosaicos e mistura de materiais caracterizam muitas obras arquitetônicas, como as de Antonio Gaudí y Cornet, expoente do movimento na Espanha. Com cacos de vidro e ladrilhos, ele decora construções como o “Parque Güell” (1900-1914) e a “Catedral da Sagrada Família”, iniciada em 1892 e nunca terminada, que ostenta nas principais torres da fachada, um enredado de formas abertas à luz que termina nos pináculos de concepção quase surrealista.




“Parque Güell” (1900-1914)




“Catedral da Sagrada Família”

As casas “Milá” (1905-1910) e “Battló” (1905-1907) têm exuberante decoração externa em estilo floral. Gaudí também projetou móveis de formas exóticas e sinuosas.

“Casa Milá” (1905-1910)




“Battló” (1905-1907)


ARTISTAS REFERIDOS:

Influenciados pelo movimento das Artes e dos Ofícios, William Morris (1834-1896) e Arthur Heygate Mackmurdo (1852-1942), artistas que atuavam na produção tipográfica e de têxteis, clamavam por uma unificação de todas as artes com o propósito de mudar a estética vigente que era a simples reprodução dos estilos do passado. 
O estilo tem sua estréia em Bruxelas com Victor Horta (1861-1947) e seu projeto para a residência “Tassel” (1892/93), apresentando como características, além do uso de elementos orgânicos, as aberturas com formas irregulares, a exploração de elementos de textura e cor nos revestimentos, o uso de ferro fundido e vidro, o desenvolvimento de novos materiais e novas formas de expressão apropriadas.



“Tassel” (1892/93)



Interior do prédio “Tassel”

Interior do prédio “Tassel”

Em 1896, Horta, ainda em Bruxelas, constrói a “Casa do Povo”. A fachada é ondular, possui largas janelas de vidro, desaparecendo a função sustentadora das paredes e no auditório, a estrutura metálica, deixada à vista, adquire efeitos decorativos de refinada elegância.

Émile Gallé, ceramista e vidraceiro que abordou os motivos florais em riscos de rara finura. Em termosde mobiliário reinaugurou a tradição da marchetaria. A principal temática de seus artefatos são flores e folhagens, realizados em camadas sobrepostas ao vidro, técnica por este desenvolvida, cujo nome em francês é “patê de verre”, trabalhando com maestria a opacidade e translucidez do material.


Na Alemanha, surgiram os projetos de August Endell (1871-1925), cuja obra principal, a loja/ateliê “Elvira”, em Munique (1897-1898), foi destruída por um bombardeio em 1944.

Ateliê “Elvira”, Munique (1897-1898)

Igualmente importantes foram os trabalhos do arquiteto, decorador, gravador Peter Behrens.
Na Áustria, o Art Nouveau foi propagado pelo grupo “Sezession”, de Viena, fundado pelo pintor Gustav Klimt.
Em Chicago, o engenheiro Louis Sullivan foi um dos primeiros a projetar prédios de fachadas sem ornamentos, protótipos da arquitetura moderna. Sullivan acreditava que o exterior de um edifício comercial devia refletir sua estrutura interior e suas funções.
Em 1895, projetou o “Guaranty Building”, onde a fachada do edifício é decorada em ladrilhos de cerâmica com um intricado desenho floral.

“Guaranty Building”, Chicago (1895)


Em Nova York, Louis Comfort Tiffany (1848-1933), após estudos de pintura, vidraçaria e joalheria em Paris, fundou uma firma com seu nome, até hoje famosa. Obteve sucesso na decoração de interiores e na venda de vasos de grande leveza. 


Foi o autor da nova decoração dos salões da Casa Branca, em Washington, e a partir de 1916 dedicou-se especialmente à joalheria.  


As pinturas, os vitrais e painéis do holandês Jan Toorop (1858-1928); o “Castel Beránger”, concluído em 1897 e estações de metrô, de Hector Guimard (1867-1942), em Paris; a “Villa d’Uccle”, 1896; “The Havana Company Cigar Stores” ou a “Haby Babershop”, 1900, em Berlim, do arquiteto e projetista belga, Henry van de Velde (1863-1957); apresentam a ideia modernista da unidade dos projetos, que articula o interno e o externo, a função e a forma, a utilidade e o ornamento. Van de Velde mobiliza pintores, escultores, decoradores e outros profissionais, que trabalham de modo integrado na construção dos espaços, da estrutura do edifício aos detalhes do acabamento.

Estação de Metrô, Hector Guimard

“Villa d’Uccle”, Berlim (1896)

Em Portugal, edifícios em Art Nouveau são particularmente comuns em Aveiro e Caldas da Rainha. Em Lisboa, o Museu Dr. Anastácio Gonçalves é um bom exemplo da variante portuguesa do estilo, assim como no Porto, o Café Majestic. Em Portugal foi comum, mas que a arquitetura, a decoração de fachadas e interiores com azulejos, como se comprova em muitos edifícios da virada dos séculos XIX e XX.

Museu Dr. Anastácio Gonçalves, Lisboa.







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