domingo, 18 de setembro de 2011

JEAN-FRANÇOIS MILLET (1814-75): A DIGNIDADE DO HOMEM DO CAMPO


Nascido de uma família camponesa, que apoiou a revolução de 1848, disse uma vez que desejava “fazer com que o trivial servisse para explicar o sublime”.

Millet foi um dos fundadores do movimento da Escola de Barbizon que abandonará definitivamente em 1849, para se dedicar à sua proposta estética, onde a ênfase social domina e se sobrepõe ao mimetismo naturalista radicalizado por esse movimento.
O artista voltou-se principalmente para a realidade do trabalhador rural, moralizante, exaltando os princípios de caráter desses excluídos. Mas, não as pintou de fora e sim, como um camponês identificado com os demais. Antes disso, os camponeses eram retratados como estúpidos.
O artista pintou a tristeza, a miséria, a falta de esperança do trabalho e da vida do campo e, incorporou o elemento humano na paisagem, não como um mero figurante circunstancial, mas como protagonista de um todo que está profundamente ligado, dando-lhes uma dignidade resoluta.
Suas paisagens bucólicas retratam um clima de introspecção.
Millet, embora, tenha procurado dar uma abordagem realista em suas obras, suas telas foram consideradas sentimentais para alguns e exageradamente piegas para outros.
Em alguns de seus temas não conseguiu escapar à sua forte herança romântica, deixando, por essa razão, transparecer uma poética que se consolida na figura do trabalhador rural como herói moral: o camponês ligado a terra, aos modos de trabalho e de vida tradicionais: à moral, à família e à religião, impregnados de um sentimento de dignidade, mas resignados à sua condição, enfim, uma réstia do bom selvagem romântico. Mas a verdade, é que suas obras em nenhum momento suscitaram indiferença.
É nesta fase que as suas obras mais paradigmáticas são produzidas: "As Respigadoras" (1857), "Angelus" (1859), "A Pastora" (1864), etc.
Na tepidez de seus ocres e marrons, no lirismo de sua luz, na magnificência e dignidade de suas figuras humanas, o pintor manifestava a integração do homem com a natureza.
O olhar de Millet é paradoxal, retrata a fadiga e a humildade, atribuindo-lhes uma condição, não de revolta, mas de aceitação quase mística como se observa no quadro "Angelus".



Suas camponesas em nada se assemelham às camponesas dengosas do Rococó e do Barroco. A camponesa de MILLET é uma mulher de vestido grosseiro, informe, ressequida, cansada, transformada pela rotina e pelo amesquinhamento na espectral, estereótipo de uma criatura humana que a burguesia não queria ver.

Estudos com raios X revelaram que nesse quadro, Millet havia pintado, originalmente, o filho morto do casal de camponeses. O pintor, entretanto, achou muito chocante a cena e retocou o quadro para a forma atual, apagando a figura da criança.
Apresentam os camponeses como pessoas piedosas que interrompem o trabalho na hora da Virgem Maria para orarem demonstrando religiosidade sentimental.


Um dos primeiros quadros que Millet pintou em Barbizon foi "O Semeador", datado de 1850.

A tela sintetiza grande parte das preocupações estéticas e culturais de Millet e constituiu o precursor do conjunto pictórico de temática paisagística e de cenas da vida rural, lida a partir de um posicionamento crítico de análise social, que caracterizarão a sua obra futura.
Nessa tela, Millet representou o homem simples como uma figura grandiosa de intensa dignidade, contra a vastidão do campo.
Esta solução compositiva que procurava o contraste entre figuras monumentais em grande plano com um fundo imenso surge em muitas outras obras de Millet, tais como "As Respigadeiras", de 1857.
O quadro apresenta de forma flagrantemente realista três camponesas recolhendo os restos da colheita, envoltas numa atmosfera dourada. Aqui a vida rural assumiu uma rara nobreza na síntese perfeita entre cultura e ordem natural.


Para além da pintura, Millet abordou outras expressões pictóricas como o desenho, notáveis pela qualidade compositiva e pela simplificação e monumentalização das formas.


“Os Lenhadores” (1850-52)