I – INTRODUÇÃO:
O Suprematismo é uma escola russa concebida no interior da arte abstrata por volta de 1913 pelo artista plástico Kazimir Malevich.
Naquele ano, na mostra “O Alvo”, em Moscou, Malevitch expôs o “Quadrado preto sobre um fundo branco” 1913.
"Eu sentia apenas noite dentro de mim, e foi então que concebi a nova arte, que chamei Suprematismo."
O SUPREMATISMO deriva da supremacia: poder superior que a razão tem sobre a sensibilidade, onde, a razão deve ordenar o caos e a mente é o espaço da ordem.
“O Suprematismo divide-se em três estádios explica, Malevich, segundo a quantidade de quadrados pretos, vermelhos e brancos: período preto, período vermelho e período branco. Os três períodos vão de 1913 a 1918...”
De 1915 em diante, a arte suprematista e o construtivismo tornam-se os dois movimentos vanguardistas ligados ao ideal revolucionário russo conduzido por Mayakovsky, aprovado pelas autoridades oficiais da Rússia, especialmente representadas pelo comissário para a instrução governamental de Lênin, Lunacharsky.
Em 1920, Malevich publicará ainda um ensaio denominado “O suprematismo ou o mundo da não representação”, aprofundando os aspectos teóricos do movimento. Segundo Malevich, o artista moderno deveria ter em vista uma arte finalmente liberada dos fins práticos e estéticos, trabalhando somente segundo a pura sensibilidade plástica.
II - CARACTERÍSTICAS:
“A assim chamada "materialização" do sentimento na mente consciente significa realmente a materialização da reflexão deste sentimento por meio de alguma concepção realista (...) E não apenas na arte suprematista mas na arte em geral (...) o valor verdadeiro de uma obra reside somente no sentimento expresso (...) Consequentemente, para o Suprematista, o meio apropriado de representação é sempre aquele que propicia de modo mais completo a expressão do sentimento como tal e que ignora a aparência familiar dos objetos.”
As pesquisas formais levadas a cabo pelas vanguardas russas do começo do século XX, o raionismo (ou raísmo) de Mikhail Larionov (1881-1964) e Natalia Goncharova (1881-1962) e o Construtivismo de Vladimir Evgrafovic Tatlin (1885-1953), levaram a proliferação de novas formas artísticas em pintura, poesia e teatro, bem como um renovado interesse pela tradição da arte folclórica russa, dessa forma, constituíam o ambiente de grande efervescência ideológica e artística pré-revolucionária, que de acordo com Malevich, defenderá uma arte livre de finalidades práticas e comprometida com a pura visualidade plástica.
O Suprematismo privilegia a essência da sensibilidade, sem se importar com o seu ambiente original. Seu criador insiste em uma espécie de realismo místico cultivado por sua fonte de inspiração. Conforme o matemático russo P.D. Ouspensky, existe além da realidade tridimensional acessível aos sentidos do Homem, outra esfera, ou seja, uma quarta dimensão.
Cabe ao Suprematismo, portanto, simbolizar exatamente essa fração do real, este universo subjetivo, que consiste em uma força espiritual de natureza abstrata, invisível aos olhos humanos, mas ainda assim, muito concreta. Entretanto, Malevitch não compartilha da crença de Vassily Kandinsky com a presença da realidade espiritual na arte, traduzida por “realidade interna” do artista.
A arte suprematista defende uma produção artística sem nenhum vínculo com a práxis, e sim com o resultado visual da forma; defende a superioridade das emoções genuínas; procura se desligar de qualquer esforço para mimetizar a natureza e também das ilusões formais, das preocupações naturalistas com a luz e a cor, típicas do Impressionismo, e com o objetivismo predominante no Cubismo. Ele se baseia em figuras geométricas primordiais, o quadrado e o círculo. Este movimento é o primeiro desta esfera artística a integrar o Modernismo.
O Suprematismo estará sempre conectado ao seu produtor, afirma Malevich, mas é preciso tomar cuidado para não reduzir seus ecos artísticos unicamente às concepções deste artista. Ele também conta em suas fileiras com nomes como El Lissitzky, Lyubov Popova, Ivan Puni e Aleksandr Rodchenko.
Malevich foi um artífice de grande destaque, sendo já bem conhecido quando concebeu o Suprematismo. Ele tem em seu currículo obras cubo-futuristas, participações nas exposições coletivas do grupo “O Cavaleiro Azul”, em Munique, e da comunidade “Rabo do Burro”, as duas de 1912, representando esta um rompimento radical e lúcido dos artistas da Rússia com os da Europa. Neste momento se concretiza um movimento russo, autônomo.
DIFERENÇAS ENTRE SUPREMATISMO E NEOPLASTICISMO
Malevich deixou um precioso legado de centenas de quadros e outros trabalhos pelos quais podemos inferir algumas diferenças formais entre o Suprematismo e o Neoplasticismo. São principalmente três diferenças marcantes:
1. O ANAMORFISMO:
As figuras suprematistas não são sempre figuras geométricas puras, mas alteradas anamorficamente. Um quadrado, por exemplo, na maioria das vezes tem pequenas, quase imperceptíveis distorções em suas arestas e ângulos, mas que são suficientes para se perceber que foram marcados de forma livre e sem preocupação de uma representação geométrica rigorosa, diferentemente das figuras dos quadros de Mondrian e Theo van Doesburg, em que se nota exatamente a preocupação contrária, uma estrita obediência aos ângulos retos e arestas iguais.
2. A ESPACIALIDADE:
Diferentemente dos quadros neoplasticistas, sempre representando figuras aderidas a um plano, os quadros suprematistas representam figuras no espaço. Não há escala baseada em figuras objetivas, porém podemos inferir alguma perspectiva pela sobreposição de elementos, sua visibilidade e até, em alguns casos, pela gradação de cores.
3. A DESARTICULAÇÃO:
Não existe, como no caso do Neoplasticismo, um sistema rígido de eixos vertical-horizontal, e nem outros ângulos orientando a composição. Os elementos como que flutuam no espaço, atribuindo às pinturas um caráter "atemporal e cósmico", como diria Malevich, "irradiando energia espacial".
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